MARÇO DE 2011.

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Hoje, Maurício e eu estamos lado a lado, ocupando a segunda cadeira próxima à porta, na sala da professora Roberta, a última aula do dia. A monotonia da aula é interrompida pelo comentário de um novo aluno que está sentado atrás de Maurício.

- Vocês são irmãos? - ele pergunta, curioso.

- Não - respondo de imediato.

- Vocês são primos? - ele tenta novamente.

- Não - acrescenta Maurício, lançando-me um olhar de questionamento.

- Vocês são irmãos? - O novato insiste mais uma vez, parecendo se divertir com a situação.

- Não! - exclamo impacientemente, sentindo a irritação aumentar conforme ele continua com suas perguntas repetitivas.

Infelizmente, a nossa troca de palavras atrai a atenção da professora.

- Vocês dois. Quero falar com vocês depois da aula - ela adverte, e a ansiedade já começa a se formar.

A aula de português chega ao fim, e a professora Roberta não hesita em nos reter após a aula. A inconveniência do momento é agravada por seu longo sermão, em que aborda nossas notas, nossas conversas incessantes e a forma como supostamente perturbamos suas aulas.

Mesmo tentando nos defender, atribuindo a culpa ao novato, Luan, que posteriormente se tornaria meu fiel amigo, nossa defesa parece cair em ouvidos surdos.

- Esse problema não é recente. Não quero saber quem está certo ou errado. Vocês estão avisados. Podem sair.

Saímos da sala, descendo as escadas, e Maurício, claramente irritado, murmura que gostaria de "dar um jeito" no novato. Para piorar ainda mais o cenário, ao chegar na parte de baixo, meu pai está me esperando, com uma expressão sombria no rosto.

- Fodeu! - murmuro para Maurício.

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Querido diário, hoje eu me cortei de novo.

Meu pai soube que tirei uma nota baixa em história e geografia, e ficou uma fera comigo. E, para piorar, me viu descendo as escadas com Maurício depois que a aula acabou. Eu tenho certeza de que ele pensou coisa errada, porque disse no carro que não queria que eu ficasse perto dele e ainda me acertou com um tapa, talvez acidental - não sei -, por ter tirado a nota, alegando ser culpa da minha amizade com ele.

Eu estou me sentindo uma merda.

Eu realmente estudei para essa prova, mas não me surpreende que eu tenha tirado um 5.8 na nota. Já estou prevendo que irei ficar de recuperação de novo se eu não melhorar. E, convenhamos, eu não irei.

Estou escrevendo isso e chorando.

Eu me odeio.

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Querido diário, hoje teve apresentação de trabalho.

Eu estava tão nervosa que comecei a tremer. Eu e Maurício estávamos segurando o cartaz feito com cartolina branca e, quando ele percebeu meu nervosismo, segurou minha mão sem deixar ninguém ver.

Eu olhei para ele e ele apertou minha mão, me deixando mais calma.

Foi a primeira vez que ele realmente me tocou.

Eu estou feliz por isso.

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Querido diário, eu finalmente tenho treze anos e decidi que vou entrar para uma comunidade católica. Eu realmente sou muito religiosa e eu acho que isso vai me ajudar a parar com os cortes. Eu não sei. Eu estou farta de me sentir culpada por sempre passar a lâmina na minha pele e ainda ter que esconder isso de todo mundo.

Comecei a usar um colar com uma cruz de madeira, ao qual pedi o padre para benzer. Sinto-me feliz por estar próxima de Deus de forma tão intensa.

Em contrapartida, eu ainda estou escutando rock. Para o desgosto da minha mãe. Roupas pretas, sapato preto, lápis preto no olho.

Parte de mim quer viver do rock, enquanto a outra parte quer viver para Deus.

C O R R E N T E SHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin