CAPÍTULO 12

140 28 4
                                    

Shanti acordou nos braços dele, ele ainda dormia. Era tão bom! Dava até para esquecer o inferno em que ela viveu naqueles mais de dois anos.
Ele era magnífico, forte, grande, Shanti nunca tinha visto um homem assim. Seu tio Kabir era um gigante e uma montanha de músculos, ele era muito diferente, moreno, bronzeado. Era um pouco menor, mas Shanti achava que isso o fazia mais bonito, mais proporcional. Perfeito.
"Já era para terem vindo, isso é estranho." Ele sussurrou em hindi.
Shanti sentiu medo e o abraçou com força. Se ela sentisse o que sentiu com ele e depois tivesse que voltar a sua vida de antes, ela não suportaria.
"Eu estou com medo." Ela disse, ele lhe ergueu o queixo com a mão e Shanti fechou os olhos. Eles passaram a noite fazendo amor, mas ele não a tinha beijado. Seria agora?
"Não tenha medo. Nós só estamos tentando evitar um problema diplomático, mas se for necessário demoliremos esse lugar."
A porta foi aberta, ele a cobriu, Shanti não conhecia quem tinha entrado.
"Onde estão os reforços?" John perguntou, o outro homem fez uma cara estranha.
Ele tinha cabelos avermelhados e olhos verdes claros que se destacavam na pele morena, era tão grande e forte quanto o salvador de Shanti.
"Eu disse que sou seu funcionário e que você não iria querer vestir a mesma roupa." Ele disse, o outro se levantou sem pudor algum e começou a vestir as roupas que o ruivo trouxe.
Ela nem sabia o nome dele!
"Como é o seu nome?" Ele tinha vestido apenas a cueca e se virou para ela arrumando o pênis em ereção dentro da roupa de baixo que quase não acomodava tudo.
"Sou John, esse é Timber. Ele é o chefe da missão." Ele disse em hindi.
Missão? Eles realmente vieram resgatá-la então. Isso era bom, mas por que ela sentia uma tensão entre eles? Ele terminou de se vestir, prendeu os lindos cabelos negros num coque no alto da cabeça e colocou os óculos. A roupa era um elegante terno cinza com camisa preta, ele calçou os sapatos.
Shanti se sentiu orgulhosa da beleza dele, como se ele fosse dela. Ela sorriu quando ele se virou, mas o semblante inexpressivo dele a fez se sentir um objeto. Uma missão.
Um dos homens da casa entrou sem bater e fez sinal para o dinheiro e a chave que o garçom da noite tinha deixado na mesinha de canto.
"Meu chefe quer conversar com o dono, ele quer comprá-la." O ruivo, Timber disse.
O homem, eles mudavam muito, Shanti não conseguia diferenciar cada um, riu.
"O que seu chefe acha que tem de diferente dos outros tantos que já quiseram comprá-la? Ela é do dono. Nunca sairá daqui. Não demorem a sair." Ele saiu e fechou a porta. Shanti fechou os olhos segurando a vontade de chorar. O dono, ninguém sabia o nome dele, era um sádico que gostava de observar os homens fazerem com ela o que ele mandava. Ninguém sabia quem ele era, Armand, o francês que dirigia a casa era só outro empregado. O dono, o real, vivia atrás das câmeras. Ele parecia alguém que jogava um jogo onde a casa em que Shanti vivia era o ambiente do jogo e as pessoas lá eram seus jogadores que faziam tudo o que ele queria. E nem sempre ele estava de bom humor. Houve dias em que Shanti foi chicoteada, outros em que ela foi violada por três homens ao mesmo tempo. E houve a noite de ontem.
Era como se ele estivesse lhe dando um prêmio de consolação por ter suportado tanta coisa.
"Se não puderem me tirar daqui, me matem. Torçam o meu pescoço, por que tudo pelo que eu passei não se compara a..."
"Chiii. Calma. Vamos dar um jeito." John disse baixinho, ela apertou os lábios. Ela se mataria, simples assim. Não dava para ter tido a noite perfeita, uma noite no paraíso e depois... Depois voltar para o inferno. Não dava.
Eles falavam baixinho, Shanti sentia o desespero vindo. Mas ela tinha de ser forte, tinha de confiar nas palavras dele, então se esforçou para escutar.
"Eles têm a propriedade dela. Dinesh Patel a vendeu, e nesse país isso é perfeitamente legal. Ela inclusive é uma das esposas do dono daqui, que não é aquele francês, é outro. Kismet está revirando os registros dela, mas se a tirarmos daqui será considerado crime e os Estados Unidos serão responsabilizados, uma vez que não nos reconhecem como país. E isso seria tudo o que algumas facções do exército querem para nos incriminar e acabar com nossa independência." Shanti não entendeu direito, mas parecia que não poderiam tirá-la dali. John não era diferente dos outros que já juraram a ela que a comprariam.
"Eu só saio daqui com ela, Timber." Ele disse e uma emoção lhe tomou o peito, Shanti jogou o lençol longe e o abraçou. Ele retribuiu o abraço, mas ela o sentiu frio. Talvez fosse por ter de entrar em ação?
"Podemos derrubar tudo, Jinx está com um grupo perto daqui, mas Darkness acha que não devemos fazer nada até Kismet esgotar todas as possibilidades." John rosnou, um barulho ameaçador, Shanti o soltou ele lhe indicou o vestido. Ela vestiu reparando que ele olhou feio para seu amigo, Timber baixou os olhos.
Timber atendeu um telefone, Shanti torceu para que tudo aquilo acabasse, que eles saíssem dali, quebrando tudo. Eles eram grandes e fortes. Embora haviam muitos funcionários.
Timber desligou e olhou com pena para ela, John rosnou mais alto.
"Darkness disse que não dá. A missão é de conhecimento do FBI, teremos de fazer outra hora. Fazer na surdina, Darkness disse que vai acionar os leãozinhos. Se arrebentamos tudo aqui, ela não poderá ir para a Reserva, terá de ser uma fugitiva. E todos cairão sobre nós.
Shanti não se importava em ser uma fugitiva, ela só queria sair dali.
"Eu faço o que for preciso! Me tirem daqui, por favor!" Ela implorou chorando em hindi, John foi até ela e a beijou nos lábios, um beijo seco.
"Eu vou te tirar daqui, mas não hoje. Não vai demorar, eu prometo." Ele disse, Shanti enxugou os olhos. Era só mais um jogo. O dono dela lhe deu esperança para depois lhe mostrar que ainda estava nas garras dele.
"Tudo em mim clama para que eu mate todos aqui e te leve. Mas as consequências são grandes, Shanti. Poderia ser a destruição de onde vivemos, poderia significar o fim da nossa soberania. Nossas famílias sofreriam, tudo mudaria. Você precisa ser forte. Não vai demorar, eu te prometo."
"Precisa tomar isso." Timber deu a ela um comprimido, Shanti olhou para John e ele rosnou. Nada de disfarce mais, ele tinha se rendido.
"É necessário." Ele disse, Shanti tomou . Poderia ser um veneno? Ela gostaria que sim.
"Não vai demorar, eu sempre cumpro minhas promessas." John disse lhe tocando o rosto, enxugando uma lágrima com seu dedo.
Promessas, promessas... Ele não era o primeiro que prometia voltar, não seria o último. Mas ele tinha tocado o coração dela.
Eles foram embora, Shanti se deitou sem forças para se levantar. As servas vieram, ela as ignorou, chamaram um dos empregados e Shanti foi carregada.
Ela foi lavada e arrumada. Shanti não se mexia, ela queria muito morrer.
Um dos empregados a levou a um quarto a deixou deitada na cama, Shanti esperou.
O monitor ligou, Shanti se virou.
"Ah, minha querida Shanti! Acreditou nele? Acha que não sabíamos que ele estava aqui? Que tinham montado uma equipe?" Ele riu.
Shanti se encolheu, a cama estava fria, ela se sentia fria.
"Você nunca vai sair das minhas garras. E se mandarem os tais leãozinhos, eu terei muito prazer em cortar suas cabeças e ainda lucrar muito com isso." Ele riu de novo.
Ele fazia isso de colocar Shanti num quarto e ela ficar dias ou semanas lá. Mas agora, diferente das outras vezes que era quase um alívio, estar ali só aumentava seu sofrimento.
Shanti olhou para a parede, havia uma borboleta ali, ela viu o inseto voar e sair pela janela, por entre as grades. Se ela morresse queria reencarnar numa parecida com aquela.

FILHOTESWhere stories live. Discover now