Ilha do Meio

5.6K 401 74
                                    

Fernando de Noronha, Pernambuco

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Fernando de Noronha, Pernambuco

08 de fevereiro

9h47min

Os cinco mestrandos de biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte caminharam sobre a grama molhada pela neblina marítima. Uma das ilhas secundárias de Fernando de Noronha, Ilha do Meio, era raramente visitada pelos biólogos, por causa do difícil acesso, mas a melhor delas para encontrar tipos específicos de espécies marinhas.

O lugar era muito bonito, mas o pesquisador e professor Alex Loureiro, especialista em biologia marinha, quase desistiu da excursão por enfrentar dificuldades para liberação da visita, devido ao embargo dos órgãos ambientais, obrigando-se a buscar intervenção de uma autoridade política.

Há dez anos, quando conheceu o arquipélago pela primeira vez para estudo de fósseis marinhos, as entidades ambientais eram menos rígidas, pois naquela época havia pouco interesse turístico. Mas agora tinham a companhia de um guarda do IBAMA, responsável pela preservação da área. Assim que chegaram à ilhota, o guarda ambiental chamou a atenção dos estudantes para que não deixassem qualquer resíduo plástico no lugar.

Alex estava irritado com a presença dele. Mesmo assim, desejou que os alunos conhecessem a ilha de vegetação rasteira e vista para boa parte do arquipélago: de um lado, a Ilha da Rata, do outro, o pontudo rochedo Sela Gineta e a Ilha Rasa, além da pequena São José diante da ponta do Air France, nome dado à extremidade de Fernando de Noronha, a maior de todas as ilhas, onde os turistas se reuniam para contemplar o pôr do sol.

As praias pedregosas da ilhota estavam apinhadas de siris achatados. A neblina matinal a deixava um tanto misteriosa. Havia chovido no dia anterior. A temporada do swell estava mais próxima − período de inverno no arquipélago com ondas mais agitadas. Os surfistas adoravam, mas Alex não; era difícil e perigoso trabalhar assim. A excursão acamparia por três horas ali. A intenção era fotografar rochas e espécimes marinhos.

Os mestrandos reprimiram a animação em silêncio reverente, na tentativa de escutar o som de pássaros nas ilhas vizinhas. Parte do grupo fotografava conchas e pequenos crustáceos no solo, usando suas Sonys e Canons.

− Observem a pequena Ilha de São José, atrás de vocês; a vegetação é rasteira, como esta aqui − o professor Alex informou, enquanto explicava com movimentos ágeis. Era um homem loiro, esguio, de queixo proeminente, a região dos olhos com as primeiras rugas dos 37 anos. − Em direção ao mar aberto, vocês verão a Ilha da Rata; a maior das ilhas secundárias do arquipélago. A visita vai ter que ficar para outro dia.

Os alunos resmungaram. Alex interrompeu sua aula quando algo atravessou seu campo de visão, um tipo de esfera felpuda do tamanho de um limão flutuando no ar. Outras semelhantes surgiram a três metros.

− Meu Deus, isto queima! − uma das alunas exclamou, desprendendo do rosto a bola oval azulada, que se desfez entre seus dedos, deixando um fluido leitoso na mão. − Eu falo sério, isto dói!

UNICELULARWhere stories live. Discover now