Descoberta

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Litoral de Trairi, Ceará

9 de fevereiro

07h34min

O EcoSport estacionou em frente ao Hotel Praieiro. Mesmo de óculos escuros, Rosa contemplou, a cem metros dali, a praia de Mundaú ser destacada pelo mar esverdeado sob um belo dia ensolarado.

Estava mais à vontade; vestia calça jeans e blusa colorida, com mocassins femininos de couro, levando no ombro uma bolsa artesanal de palha de carnaúba, produzida na região. Parecia como qualquer turista. Queria ter chegado mais cedo, mas precisou comprar, além das roupas, itens básicos de higiene pessoal com o cartão de crédito que a secretária lhe dera.

Ao sair do carro, atravessou a entrada, enfeitada por uma pérgula de flores lilás. Um jardim gramado com minibouganvilles escondia jabutis. Caminhou por uma elevação, uma ponte bem feita de madeira que seguia até a recepção. Era provável que a maré alta invadisse o terreno abaixo, entre o jardim e o hotel; arquitetura engenhosa.

Entrou na recepção e notou que a estrutura do hotel era em alvenaria e madeira, a pintura com com ares de veraneio. Uma moça acenou para ela, do balcão.

− Seja bem-vinda, senhora. Bom dia! – disse mecanicamente com um sotaque carregado. A cabeça coberta com um boné azul, o desenho estampado de uma jangada, símbolo do hotel. − Du yu espique inglichi? − a recepcionista perguntou, em inglês duvidoso.

− Falo português – Rosa enfatizou. – Preciso que me informe acerca de uma turista estrangeira que esteve ontem de manhã com os filhos nesta praia. Pode me ajudar?

− Não podemos dar informações desse tipo. Protegemos a privacidade dos nossos clientes – a recepcionista hesitou ao perceber que Rosa pôs sobre o balcão a carteira com o escudo da Polícia Federal.

− Está me negando informação? – Rosa ergueu as sobrancelhas ao finalizar a pergunta. A moça recuou. − Não precisa ter medo. O filho da turista adquiriu uma lesão séria no braço – Rosa mostrou uma foto da mulher estrangeira. − Estou investigando as causas.

A moça do outro lado do balcão franziu o cenho.

− Não me lembro de nenhuma ocorrência de acidente ontem.

− Pode ser que não estivesse no local.

− Acho que me lembro dela. Chegou numa van do hotel onde estava hospedada na capital. Veio com os filhos. Maria conversou com ela; é a que fala melhor inglês por aqui. Vou chamá-la.

Enquanto a recepcionista se afastava, Rosa notou que por baixo do vidro do balcão havia um grande mapa, com marcações de trilhas e caminhos para praias mais distantes.

Uma mulher morena e gorducha se aproximou.

− Diga.

Rosa a achou ríspida.

− Quero informações sobre uma turista.

− Temos dezenas deles todos os dias por aqui – disse, com descaso. – Pode ser mais específica?

− É melhor manter seu tom de voz mais amigável – julgou que combinava com o seu disfarce. A grosseria policial era tão típica em países subdesenvolvidos. – Não vai querer me irritar.

Deixou a insígnia da Polícia Federal à mostra novamente. A mulher empalideceu.

− Desculpe. Não é a primeira vez que algum turista causa problemas – Maria explicou. – Sujam as praias com latas de cerveja e restos de comida, e já tivemos casos de brigas com dois turistas argentinos bêbados.

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