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Âmago.
— 胡蝶しのぶ

O corpo de Shinobu estremesseu de susto com o grito repentino que chegou aos seus ouvidos. A mão, que até então ia em direção ao rosto de Tomioka, mudou de direção e acabou espalmada no peitoral do rapaz, empurrando-o minimamente para trás. Ele havia tomando um susto também, e franziu o cenho em confusão ao endireitar a postura para descobrir quem havia chegado.

Uma vez que não estava mais a vista de Kocho, foram obrigados a deixarem de se encarar. Shinobu suspirou, sem saber ao certo se estava frustrada ou agradecida, mas, definitivamente, estava muito aliviada. Havia perdido por completo o controle de suas próprias ações e sabe-se lá o que estaria fazendo agora se essa pessoa não tivesse chegado.

Na verdade, se deparou com duas pessoas. Um menino que deveria ter o tamanho de Tomioka e cabelo um pouco menor, embora maior que o dela. Era ruivo, um tom tão claro que se assemelhava ao rosa, e possuía olhos roxos, mais prateados que o dela. Uma cicatriz em seu rosto traçava uma linha desregular que ia da boca até a orelha, facilmente perceptível no meio da pele clara. Ao lado dele, uma menina menor que Shinobu, de aparência semelhante a de Giyu. Olhos azulados, quase verdes, e cabelo escuro e curto. Possuía uma franjinha adorável e curta no meio da testa e pele igualmente clara. Esbanjava delicadeza, embora as roupas que vestia fossem, em sua maioria, pretas.

Sentiu as bochechas avermelharem quando fitou as duas figuras na porta, estáticas e boquiabertas. Um deles, o menino, carregava uma língua de sogra na boca, que foi ao chão quando tentou soprá-la novamente, visivelmente desconcertado.

— Surpresa...

— O que fazem aqui? — Giyu questionou ao se levantar.

Foi impossível para Shinobu não sentir a ausência do garoto atrás de si quando o vento atingiu suas costas. De certa forma, sentiu-se estranha. Um pouco decepcionada, talvez. Perguntou-se se Tomioka se sentia da mesma forma.

Este, por sua vez, estava sem jeito. Parecia nervoso. Levou a mão até a testa e puxou a franja para trás, suspirando como quem segurava o ar a muito tempo.

— E então? — voltou a questionar, indo até a menina que havia acabado de chegar e buscando a caixa que ela tinha em mãos.

Era, obviamente, uma caixa de presente. Era branca, com um laço de cetim vermelho no topo, parecida com a que Shinobu o entregou mais cedo, porém, muito maior.

— A gente vem aqui todo ano, se tinha outra visita, deveria ter avisado antes... — o garoto ruivo falou e recebeu uma cotovelada na costela antes que terminasse o raciocínio.

— Sabito! — a menor exclamou — Estamos atrapalhando vocês?

— Vocês sempre atrapalham.

— De forma alguma. — Shinobu disse por fim, se colocando de pé também — Sou Shinobu Kocho, muito prazer. — curvou a parte de cima do corpo em um comprimento e foi correspondida pelos dois.

— Eu sou Makomo Urokodaki, prima do Giyu, e esse é Sabito Mizushima, ele é... ele é alguma coisa, não sei porque ele tá aqui.

— Ei! — protestou bravo e Makomo riu.

— Nós costumamos visitar o Giyu no aniversário dele. Ele não tem muitos amigos, você deve saber.

— Eu sei. — riu do comentário e Tomioka revirou os olhos.

— Ele devia ter me falado que te chamou, ai eu trazia um chapeuzinho a mais pra você usar também. — Sabito comentou, apontando em sua própria cabeça o objeto pontiagudo em forma de cone — Vocês tavam comendo pizza.

O Mizushima foi até a caixa aberta e pegou um dos últimos pedaços restantes, dando um mordida generosa.

— Não é pra você. — Giyu desferiu um tapa em sua mão e o pedaço caiu de volta dentro da caixa — E não tem importância, ninguém vai usar esse chapéu horroroso.

— Olha como fala comigo, sou mais velho que você. — deu um pescotapa no parceiro enquanto ele tentava arrebentar o elástico que impedia o chapéu de cair.

— E eu sou mais velha que os dois! — foi a vez de Makomo dar o tapa certeiro, bem nas costas de cada um — Vão parar ou vou ter que colocar os dois de castigo na frente da visita?

Não houve nenhuma resposta e ela assentiu satisfeita, supondo que ambos haviam concordado. Os dois tentaram, inultimente, massagear o lugar onde haviam recebido o golpe e colocaram as caixas que seguravam em cima da mesa de centro, que, por sorte, era bem espaçosa.

— Essa família só me humilha. — Sabito sussurrou injuriado.

— Você tá aqui porque quer. — Tomioka retrucou no mesmo tom, raivoso.

Shinobu, já sentada novamente, somente analisava a interação dos três, lembrando-se da própria relação com as irmãs. Giyu ser o caçula a pegou de surpresa, e ela não pôde impedir seus lábios de se curvarem em um sorriso quando a revelação veio à tona.

Ficou impressionada ao perceber o modo como ele se abria perto da família, perto de quem confiava, e, por alguns segundos, sentiu vontade de estar ali no meio, brincando e falando confortavelmente com todos. Sentiu vontade de ser uma das confidentes de Tomioka e conversar com ele normalmente, como quando ele a contou sobre a bondade do tio, de cozinhar para os mais necessitados, e sobre as experiências que possuem em comum.

De repente, viu-se cabisbaixa, com a certeza de que nunca teria esse tipo de relacionamento com ele.

— Ei. — ouviu e levou a cabeça direção a voz — Você comeu mais que eu.

Era Giyu, agachado próximo a ela enquanto retirava os pratos que eles sujaram a pouco.

— O quê?

— Agora você precisa me ajudar com a limpeza.

— Não posso, sou visita. — cruzou as pernas e colocou os cotovelos nela, levando as costas para frente e apoiando o queixo na palma da mão logo em seguida. Ainda mais perto do rapaz, exibiu seu costumeiro sorriso provocativo e escondeu os pensamentos anteriores em seu âmago.

Encarou Tomioka, esperando alguma reação. Previu que ele fecharia ainda mais a cara, estressado, ou que suspiraria cansado e sairia, desistindo. Contudo, ele somente sustentou o olhar por mais alguns segundos e estendeu uma das peças de vidro a ela.

Relutante, Shinobu tomou-a para si sem desviar o olhar, aguardando o próximo movimento. Dessa vez, Giyu levantou e, carregando o restante das coisas, seguiu para a cozinha, não sem antes avisar:

— Eu ensaboo e você enxagua.

— Nem se me pagasse, a água tá um gelo!

Feliz aniversário, Tomioka-san! | GiyushinoUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum