8. Como Prosseguir?

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NATASHA ROMANOFF

As palavras de Wanda entravam na minha mente como um turbilhão. Elas iam e ecoavam lá dentro deixando um rastro de algo que eu não sabia ao certo explicar.

Havia um misto de euforia e completo desespero em mim. Eu estava completamente dividida entre a felicidade de ouvir aquilo e o medo de lidar com os sentimentos que tinha fingindo não existirem desde que ela cruzou meu caminho.

− Wanda...-tentei calá-la, mas só porque eu precisava de uma pequena pausa de toda aquela montanha russa, mas ela não permitiu.

− Não! -disse firmemente. – Eu sei o que você vai dizer, sei que vai tentar fugir, que vai me dar inúmeros motivos do porquê isso não daria certo, mas eu não ligo. Você me ouviu bem, Natasha? Eu não ligo!

Sorri um pouco para o seu jeito afobado. Wanda sempre foi assim impulsiva, era como se ela não coubesse nela mesma e, apesar dos pesares, foi isso que me conquistou desde o início.

− Será que você pode me ouvir por um segundo? -pedi com calma, tentando deixar o momento um pouco mais controlado. Eu não lidava bem com descontrole. – Há algumas coisas que eu preciso dizer.

Ela me encarou com os olhos lotados de dúvidas e indiquei com a mão direita para que ela se sentasse no sofá. Pensei em repetir o que fizemos em sua casa e sentar ao seu lado, próxima a ela, mas isso só adicionaria um nervosismo que eu não queria sentir nesse momento.

Me mantive de pé, afinal só havia um sofá ali e respirei fundo. Tentei organizar os pensamentos dentro de mim, busquei uma coerência necessária para colocar para fora o que eu precisava dizer.

Mas, aparentemente, meu silêncio foi tomado de uma maneira completamente diferente pela mulher sentada à minha frente e logo ela estava em pé outra vez.

− Você não gosta de mim, não é? -seu suspiro foi longo e quase doloroso. – É claro que você não gosta de mim.

Era quase engraçado ver aquela mulher que sempre pareceu completamente confiante fraquejar daquela forma. Não que eu estivesse feliz por vê-la insegura, mas me fazia sentir mais próxima dela saber que nem tudo era sempre perfeito. Que ela também poderia se sentir como eu algumas vezes.

− Quem, em sã consciência, não gostaria de você? -perguntei com um sorriso breve e isso chamou sua atenção. – Você é radiante, Wanda. Você contagia e atrai. Todo mundo gosta de você e é exatamente esse o meu problema.

Houve uma pequena pausa, então ela pareceu assimilar o que eu dizia e voltou a sentar. Se jogando no sofá com um suspiro aliviado, seus olhos e seu pequeno sorriso estavam fixamos em mim e ficamos por alguns segundos assim.

Era fácil esquecer do mundo ao redor com ela, era fácil esquecer que eu era uma pessoa traumatizada e completamente fora do normal.

E isso era muito perigoso.

− Wanda eu tenho afefobia. -confessei com um fio de voz, enquanto ainda tinha seu olhar em mim.

Ela não falou de imediato, pareceu digerir aquela informação, mesmo que não fosse nada novo, na verdade. Eu não sabia se ela sabia o significado exato da palavra, mas preferi não explicar nada além disso.

Dei o tempo que ela precisava, calei o que queria dizer e esperei pelo que viria dela a seguir.

− É isso que não te deixa tocar nas pessoas? -questionou com cuidado, parecendo curiosa, mas não querendo ultrapassar nenhum limite.

− Sim, a afefobia é uma aversão descontrolada, um medo exagerado ao toque. De modo geral, ela pode variar em graus mais leves e mais severos. No meu caso, eu não consigo ter o menor contato com outra pessoal, por mais casual que seja.

UntouchableWhere stories live. Discover now