9. Toques

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NATASHA ROMANOFF

− Espera! -Yelena me interrompeu mais uma vez. – Repete!

Bufei audivelmente, estava me sentindo em um interrogatório desde que havíamos entrado em sua sala e, ainda pior, não conseguia terminar uma frase sem que ela me interrompesse e me fizesse dizer tudo de novo.

− Eu gosto dela, Lena. -admiti mais uma vez, muito mais claramente. Não queria ter que repetir. – E, sabe Deus como, ela também gosta de mim.

Minha irmã me encarou, enquanto parecia absorver as palavras que tinham acabado de sair. De repente ela deu um sorriso sincero, se inclinando um pouquinho em minha direção.

− Você tocou nela? -perguntou com esperança estampada por todo o rosto.

Por um momento considerei mentir, apenas para manter aquela expressão alegre que eu não via em seu rosto há muito tempo, pelo menos não direcionada a mim. Eu sabia que, de certa forma, meu problema era um peso para Yelena, mesmo que ela não quisesse admitir.

− Não, Lena. -admiti envergonhada, vendo-a desabar instantaneamente. – Você sabe que não é assim que funciona, não é tão simples. Se fosse, te daria um abraço todos os dias, porque você é a pessoa que mais amo nesse mundo.

Ela deu um sorrisinho para a minha pequena declaração de amor, mas a tristeza ainda estava lá, escondida nas diversas camadas que nos envolviam.

− Como isso aconteceu? Quando? -questionou, fazendo perguntas que nem mesmo eu saberia responder.

Wanda foi entrando na minha vida, não havia esse momento especial em que eu poderia dizer "foi bem aqui". Foram todos os dias, todos os breves olhares que trocamos, as breves conversas que tivemos. Foi o jeito que ela me tratou, sabendo dosar o cuidado e o desafio em partes iguais e reconfortantes.

Foi o senso de normalidade que ela trouxa para mim, mas acima de tudo, foi só ela.

− Chega desse interrogatório. -desviei de sua pergunta, não queria me abrir assim tão completamente. – Você, por favor, pode só não se meter nisso?

Yelena tinha uma tendencia superprotetora, o que poderia ser inconveniente e sufocante em alguns momentos. É claro que o seu cuidado vinha com a melhor das boas intenções sempre, mas algumas vezes eu só queria poder tomar as rédeas da minha própria vida. Sem intromissões.

− Natasha...-começou a falar, mas a interrompi.

− Eu confio nela, Lena. -disse com sinceridade, precisava que ela acreditasse em mim. – Acho que pode ser o início de algo, sabe? De um progresso.

− O que me preocupa é o seu progresso estar atrelado a alguém. -minha irmã disse sem rodeios. – Isso é perigoso, Nat.

Mais uma vez bufei, deixando meus ombros caírem. Yelena era uma pessoa muito difícil e eu estava um pouco cansada de lidar com sua intransigência.

− Eu já estou no fundo do poço, Yelena. -resmunguei, ficando de pé e preparando para sair.

− Isso não é o fundo do poço, Nat. Eu vi quando você estava lá e foi horrível. Não quero que volte. -ela disse com pesar, me fazendo recuar um pouco. – Por favor, não volte para lá.

− Não vou, eu prometo.

Não esperei resposta, eu estava um pouco exausta daquele assunto. Meu dia tinha começado leve e feliz e agora parecia pesado e nublado.

Decidi trabalhar um pouco, ler e editar o que estava escrito distraia minha mente, fazia os pensamentos se calarem um pouco e isso era muito bom. Passei boa parte das horas imersas em um manuscrito um pouco mais complicado do que os que eu estava costumada lidar. Era um romance policial que pegava muito o lado científico e eu precisava fazer algumas pesquisas hora ou outra, apenas para me certificar do que estava fazendo.

UntouchableWhere stories live. Discover now