Simplesmente, 'ocê - Kelmiro

Belas estações em Nova Primavera

   RAMIRO.

É magnífico ver as estações em Nova Primavera e nem precisava daquelas coisas de filme como flores ou folhas secas. Lá estava eu cumprindo mais um dia de serviço à mando do dr. Antônio, na frente da pousada para proteger Agatha, chovia do lado de fora mas eu estava na minha caminhonete pensando em tudo que aconteceu nos últimos dias. Vi alguém encharcado vindo em direção a minha caminhonete e com mais alguns segundos percebi de quem tratava.

- Kevin? - Falo espantado e abro a porta do carro.

- Ah, oi Rams. - Kelvin fala se contorcendo de frio.

- Entra aí. - Falo um pouco preocupado. - O que 'ocê tá fazen'o nessa chuva, tem medo de pegar um resfriado, não? 

- Ah... eu? Só fui comprar uma comida... - Senti de longe o Kelvin mentindo.

- Sabe, lá no bar tem comida. - Falo seco.

- Vim te ver, tá feliz? - Ele sorri.

- Feliz... É... eu tô... Mas sabe, tô mei' preocupado, vai que 'ocê pega um resfriado. - Falo encarando a rua já que fiquei um pouco tímido pra dizer essas palavras.

- Ahhh... que fofo Rams.  - Kelvin espirra. 

- Oh, tá vendo, já tá fican'o doente. - Falo nervoso.

- Deixa pra lá, vou só tirar essa camisa. Aliás posso ficar umas horinhas aqui, Rams... ou você quer que eu vá pro bar nessa chuva. - Kelvin fala com um tom que parecia uma chantagem.

- Pode ficar aí, só num fica muito perto. - Falo sem encarar por muito tempo já que o Kelvin sem camisa de alguma forma me deixava...

- Então, como eu vou me aquecer? - Kelvin aproveita a situação.

- Kevin, 'ocê para de ser safada, viu seu Kelvin? - Falo com o mesmo tom de sempre. - Mas já que 'ocê vai ficar aqui, vamo' conversar. Fala um pouquinho do seu passado. - Digo curioso.

- Passado? Meu passado me machuca um pouco e tanto faz, já estamos no presente. - Ele tenta cortar o assunto.

- Só um pouquin', Kevin...

- Okay... Bom, eu nunca fui muito bem aceito pela minha família sabe, mas quando eu resolvi me assumir aconteceu muitas coisas ruins comigo, tipo... quando eu era adolescente eu fui... sabe... é... - Kelvin começa a encher os olhos de lágrimas. 

- Foi...?

- Fui abusado, Ramiro. Por um tio próximo e como se já não bastasse isso na mesma época minha família tentando me consertar me fizeram ir pra cama com uma mulher. - Kelvin deixa cair algumas lágrimas. 

- Kevin... eu não sei o que dizer. - Falo com algumas lágrimas nos olhos também. 

- Não precisa falar nada, Ramiro. Passou já.  - Ele fala secando as lágrimas com as costas da mão. 

Eu senti que eu precisava fazer pelo menos um gesto que tentasse consolar ele, até porque foi eu que fiz ele voltar ao passado. Resolvi colocar a minha mão no rosto dele e secar uma lágrima.

- Sou mei' desajeitado nas palavras, mas... tô aqui pro que 'ocê precisar, viu? - Senti que não falei o suficiente mas não conseguia dizer mais que isso.

- Rams... Obrigada por ser essa pessoa tão incrível. - Ele fala mostrando as covinhas dele que eu tanto gostava.

- Eu num sou incrível, já matei muita gente por aí por dinheiro... mas com 'ocê me sinto diferente.  - Falo cabisbaixo. 

Kelvin não fala nada, resolveu ficar quieto naquele momento, nossos rostos se aproximaram por um momento mas logo afastei.

Ele dormiu na minha caminhonete junto comigo, senti que o dia amanheceu rápido. Acordei antes do Kelvin e notei ele dormindo, queria dizer como ele era fofo e lindo apenas dormindo, porém eu sou macho. Mas naquele momento, não tinha ninguém me vendo, me aproximei do rosto do Kelvin, admirei cada detalhe e dei um beijinho molhado na testa dele, quando me afastei, senti que ele havia acordado.

- Ramiro? - Kelvin fala sonolento. - Eu dormi aqui? Povo do bar devem estar doidos uma hora dessas eu já tenho que ir.

- É... melhor você ir logo antes, que né... - Falo desconfiado. 

Kelvin sai da minha caminhonete sem nem se despedir de mim, de alguma forma me senti mal mas ele não tinha dever de se despedir, certo?

  KELVIN.

Prefiro fazer o Ramiro achar que de maneira nenhuma eu vi aquele beijinho que ele me deu na testa, sabia que eu tava conquistando meu peão. Problema agora se chama bar.

- Kelvin... - Luana fala me encarando.

- Luana, que dia lindo, né? Fui dar um passeio logo cedo. - Falo sorridente.

- Passeio? Interessante, não te vejo desde ontem às 11 da noite. - Ela fala de braços cruzados. - Você tava com o peão, né? 

- Eu...? Sim, eu tava, fui ver ele ontem, porém esse assunto morreu aqui e não, não aconteceu nada. - Falo já saindo e indo pro meu quarto.

As cenas de ontem na minha cabeça foram tão lindas, até porque qualquer momento com o Ramiro é um momento especial, ele me consolando, com aquelas mãos fortes no meu rosto, bem que podia ter rolado uma coisinha a mais, mas não vou exigir demais do Rams, até porque meu agroramsboy pode se assustar e pedir de novo pra se afastar e isso eu não permito.