Será o fim?

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Ramiro:

Se formaram lágrimas em meus olhos, tentando suportar o que eu havia acabado de ver. Nunca gostaria de imaginar o que se passava na frente dos meus olhos. Desde que conheci Kelvin, senti como se eu fosse uma nova pessoa, como se eu antes tivesse sido apenas uma lagarta em um casulo passando pela metamorfose - aprendi sobre borboletas nas aulas noturnas - e que agora se tornou uma borboleta podendo agora ver a beleza do mundo. Só que comecei a me tornar uma pessoa insegura, me comparando até nos mínimos detalhes. Quando Kelvin começava a falar dos "machões" das aulas de kráv magá, me sentia um pouco insuficiente, nem sei se ele já havia notado. Agora quando Henrique chegou, senti que se eu não cuidasse ou valorizasse o Kelvin alguém faria isso por mim. Por isso estou aqui com os sentimentos magoados.

Quando vi Henrique puxar Kelvin para um lugar mais isolado, tive o instinto de seguir eles para saber o que iria acontecer. Pararam na parte de trás do bar, onde dava apenas para escutar a música que tocava de forma abafada. Eu nem conseguia escutar direito o que eles conversavam, mas quando se aproximavam sentia meu coração palpitar. Depois de vários minutos deles conversando sem eu escutar nada, já estava me preparando para voltar para o Naitandei até que observei eles se aproximando de forma estranha e com isso vi Kelvin e Henrique se beijarem. Senti minhas forças esgotarem, se eu não me segurasse em algo com certeza eu cairia. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto sem eu sequer notar, que limpei com a com a costa da mão direita depois. Única coisa que eu queria era fugir dali e foi o que fiz.

Saí às pressas pelo Naitandei, todos os funcionários ficaram me encarando tentando entender o que havia acontecido para eu sair daquela maneira. Eu entrei na minha caminhonete e baixei a cabeça tentando procurar o fôlego, minha respiração estava fraca, adicionando isso aos meus baixos batimentos cardíacos, senti que eu iria morrer a qualquer momento.

- Kevinho... - Falo baixinho com a voz chorosa. - Por quê...?

Dou partida no carro para conseguir sair antes do Kelvin voltar do que ele estava ocupado. Acho que a essa altura não faria diferença se eu estou ou não acompanhando ele nesse aniversário. Não sabia se iria a empresa do La Selva ou para meu quartinho, se eu aparecesse com esse rosto de choro na frente do patrão ele falaria altas bobagens, piorando meu estado mental. Se eu fosse direto para o quartinho ele iria me procurar de qualquer forma. Depois de pensar uns minutos, passei em um outro bar que havia na cidade, comprei uma garrafa de rum e guardei no banco traseiro. Depois fui a empresa do patrão.

O doutor Antônio estava lá, amaldiçoando qualquer um que ousasse falar com ele. Não sabia lidar com o patrão, assim como ele não sabia lidar comigo. Fui me aproximando devagar, quando ele viu eu me aproximando abriu um sorriso debochado.

- Eu te liguei milhões de vezes, aonde é que 'tava o seu telefone, seu imprestável? - Antônio fala apontando o dedo no meu rosto. 

- Eu tava no bar da finada Cândida, pra um aniversário aí. - Falo sem esbaldar muitas reações. 

- Aniversário? - Antônio me encara com um rosto que cheguei a pensar que sairia fumaça dos ouvidos dele, como nos desenhos animados. - Você só pode tá brincando com a minha cara, aniversário? Eu tava precisando dos seus serviços e você num aniversário? 

- Patrão... - Tento me explicar, mas ele me corta. 

- Tá bom, não quero saber das suas explicações. Quero que você vá dar um susto naquela viúva miserável. Sabe o que ela fez? Veio na minha casa, dizer que nunca vai vender as terras dela e que ainda vou ser preso por todos os crimes que cometi. - Antônio me olha incrédulo.

- Num tem como mandar outro peão não? - Falo passando a mão na minha barba.

- Tá com preguiça de trabalhar? - Antônio fala com raiva.

- Não, não.  - Ele me interrompe, dizendo "então basta, só não me dá dor de cabeça".

Voltei para o meu carro, agora eu tinha um serviço para fazer, mas minha maior vontade era de me embebedar, embora fosse cerca de 15:00 da tarde. Minha cabeça só passava o nome do Kelvin, tentando esquecer tudo o que aconteceu hoje. Precisava me distrair urgentemente. 

Cheguei nas terras da Aline, observando o movimento escondido atrás de umas árvores. Aline estava na varanda da casa dela, junto com o João e o Caio, a dona Jussara parecia estar dentro de casa fazendo o café da tarde. 


Kelvin:

Quando o Henrique saiu, não tive muita reação. Não sabia como olhar para o rosto dos meus amigos e muito menos para o de Ramiro. A gente não tinha uma relação, ou melhor, a gente não tinha um relacionamento, éramos como "ficantes" mas havia fortes sentimentos envolvidos. Eu estava com o rosto abalado e pálido. Passei um tempo parado esperando minha coragem voltar e meu humor melhorar. 

Voltei para o bar uns minutos depois e parecia mais um enterro do que um aniversário, clima parecia pesado e estavam todos calados. Procurei Ramiro no meio de todos e só tive péssimas notícias, ele não estava lá e a Luana, a Graciara e o Zezinho disseram que ele saiu um pouco conturbado sem falar com ninguém. Comecei a me questionar "Será que ele viu?".

Fui ao quartinho dele e ele não estava lá, ele não estava em nenhum bar da cidade, não estava na empresa dos La Selva, resumindo: ele não estava em local nenhum. Única coisa que fiz foi ir ao centro, me sentei em um banco no centro da cidade com a cabeça baixa em minhas mãos, meus cotovelos estavam apoiados em meu joelho. A rua estava barulhenta, mas perdurava um grande silêncio na minha cabeça, embora várias vozes e perguntas soassem. 

- Onde será que o Ramiro tá? - Falo pra mim mesmo.


Ramiro: 

Única coisa que eu poderia fazer é esperar o Caio ir embora, não tinha coragem de fazer qualquer coisa com o Caio ali, não consigo fazer nada com ele justamente por ser filho do patrão. Perdi um pouco a paciência pra esperar e entrei no meu carro e peguei a garrafa de rum, precisava afogar minhas tristezas de alguma forma, prometendo a mim que só beberia um gole, foi uma promessa em vão. Bebi metade da garrafa em poucos minutos, já sentia meus pensamentos voarem para bem longe.


Notes:

Tenho umas perguntinhas pra vocês. A primeira é: eu continuo a escrever mesmo depois que a novela acabar? E a segunda: quantos capítulos mais ou menos eu devo finalizar? Esse é o 13° capítulo 





Simplesmente, 'ocê - KelmiroWhere stories live. Discover now