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📄 ANY GABRIELLY

Olhava para o grande prédio á minha frente e um sorriso automaticamente se alastrou pelo meu rosto fazendo-me querer pular de alegria.

O hospital Vassar, sempre foi o meu sonho e agora, apenas alguns meses de concluir meus estudos, eu estava aqui para fazer o meu estágio.

Caminhava completamente encantada e impressionada com tudo o que via ao meu redor. Era um hospital altamente equipado, com tecnologia de ponta e profissionais gabaritados e o melhor, era onde três, dos médicos mais conceituados trabalhavam.

Noah Urrea, Amanda Johnson e Nate Collins, eram três dos melhores médicos especialistas em transplantes do pais e a chance de trabalhar com algum deles me deixava eufórica.

Ser médica era o meu sonho, desde que o meu pai foi salvo pelas mãos e pela competência de um médico incrível que conseguiu-lhe uma nova chance através de um transplante de rim eu fiquei encantada por esse mundo.

Mas, como a realidade é bem diferente, minha família não tinha nenhuma condição para custear uma universidade de medicina e eu não nasci inteligente o suficiente para conseguir uma bolsa.

Então, optei pela enfermagem, que me capacitaria para fazer aquilo que amo e cuidar das pessoas de uma forma diferente.

——— Com licença. ——— chamei assim que encontrei a recepção que deveria me identificar. ——— Sou Any Gabrielly Soares.

——— Sim, está atrasada senhorita Soares, o grupo com os outros enfermeiros já começaram o tour. ——— alertou me entregando um crachá. ——— Vá para o terceiro andar, boa sorte.

——— Obrigada. ——— sorri me apressando a correr até o elevador torcendo para que mais ninguém notasse o meu atraso.

Quando cheguei até a sala onde todos estavam reunidos me sentei em uma das cadeiras disponíveis na última fileira e logo o rapaz ao meu lado sorriu.

——— Eles já entregaram os folhetos informativos. ——— disse me mostrando o papel em sua mão e sorri quando ele me permitiu ler.

——— Obrigada.

——— Sou Josh. ——— piscou e meu sorriso aumentou.

——— Any, prazer. ——— selei nosso cumprimento apertando sua mão.

——— Atenção! ——— a mulher loira apareceu na sala com sua voz forte e andar confiante. ——— Sou Elisa, a enfermeira chefe desse setor e vou encaminha-los para suas respectivas equipes.

——— Josh Beauchamp. ——— chamou e o rapaz ao meu lado se pôs de pé. ——— Ala quatro, quarto andar, equipe do doutor Nate Collins. ——— orientou e Josh faltou saltar de alegria enquanto corria em direção a enfermeira chefe para pegar sua identificação.

——— Hina Yoshihara. ——— chamou e uma garota morena se levantou do outro lado da sala. ——— Equipe da doutora Amanda Johnson, quarto andar, ala quatro.

Suspirei apreensiva, todos estavam indo para a ala dos transplantados, desse jeito eu acabaria na urgência.

——— Any Gabrielly Soares. ——— chamou enfim depois de mais dois nomes e me levantei de pressa. ——— Equipe do doutor Urrea, ala quatro, quarto andar. ——— afirmou e quase saltei de alegria enquanto buscava meu crachá.

Esse seria um novo começo para mim e eu não podia estar me sentindo mais animada. Finalmente, tudo estava dando certo.

📄 NOAH URREA

——— Senhora Jules, eu terei que insistir nisso mais uma vez, eu preciso que tome esses remédios sem erro. ——— pedi pacientemente para a senhora de sessenta anos á minha frente.

——— Eu sei doutor, estou tomando. Mas, não tem ninguém que cuide de mim. ——— suspirou dramática e assenti vagarosamente olhando para a sua filha.

Uma das coisas que pacientes idosos exigiam era um tratamento mais atencioso, já que, muitos deles eram negligenciados pela família e tinham um nível de carência extremo.

——— Estamos preparando a senhora para o transplante que deve acontecer no mês que vem, mas, para receber o novo rim o seu corpo precisa estar forte e saudável, então, não pode deixar de tomar os remédios. ——— expliquei pausadamente.

——— Eu vou ajudá-la mais agora doutor. ——— sua filha se pronunciou. ——— Eu consegui tirar férias do meu trabalho, agora poderei cuidar melhor da minha mãe.

——— Perfeito. ——— sorri anotando os pedidos de exame em sua guia. ——— Esses serão os últimos exames antes da cirurgia, o doador já foi testado compatível, agora nós só precisamos que faça tudo corretamente, combinado?

——— Combinado. ——— a senhora sorriu e sorri acenando para a enfermeira que a acompanharia para a saída.

——— Nos vemos em dez dias então, para avaliar os exames. Tenha um bom dia senhora Jules.

Acompanhei enquanto a senhora deixava a sala e me estiquei em minha cadeira puxando o ar enquanto me espreguiçava.

——— Com licença, doutor Urrea? ——— Beth chamou e olhei para a enfermeira que trabalhava comigo há dois anos. ——— A enfermeira estagiária da equipe chegou.

——— Manda entrar. ——— pedi entediado. Há cada seis meses recebíamos estagiários, mas nem metade deles eram capazes de continuar com a gente.

——— Bom dia. ——— a mulher entrou sorridente pegando———me um pouco de surpresa. Quem sorria tanto assim pela manhã?

Encarava a mulher á minha frente que continuava mantendo seu sorriso, seus cabelos eram de um castanho escuros e seus lábios ostentavam uma cor rosada claramente artificial proporcionada por algum batom fraco. Seus olhos grandes e castanhos me fitavam com ansiedade e não permiti que meu olhar vagasse pelo seu corpo me endireitando em minha cadeira.

——— Seu nome. ——— pedi desviando o olhar.

——— Any Soares. ——— disse se sentando na cadeira á minha frente e assenti.

——— Beth, a enfermeira chefe da equipe lhe explicará tudo com detalhes. Não gosto de erros ou de pessoas desatentas, como você é a estagiária poderá me acompanhar em rondas e algumas cirurgias. Ficará comigo por dois meses e depois poderá escolher se quiser mudar de equipe.

——— Entendido doutor. ——— assentiu mordendo os lábios e indiquei a porta.

——— Evite que sua ansiedade interfira em seu trabalho. ——— aconselhei mexendo em alguns dos prontuários em minha mesa. ——— Se me atrapalhar, passará todo o estágio cuidando do estoque da enfermaria.

Any deixou a sala com um aceno de cabeça e me preparei para receber o próximo paciente. Eu confesso que já fui uma pessoa mais paciente, mais compreensiva, eu costumava ser assim, mas toda a minha gentileza não impediu que as pessoas que mais se beneficiaram dela me apunhalasse pelas costas.

Todos no hospital sabiam do caso que minha ex-noiva mantinha com o meu, agora, ex-melhor amigo. Todos me olharam com pena enquanto riam pelas minhas costas e todos ainda hoje me marcavam por isso.

Então, eu não precisava usar minha gentileza com eles, não mais.

Urrea ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora