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📄 ANY GABRIELLY

Olhei pela janela vendo o carro de Noah sair e me afastei deixando minha bolsa sobre a cadeira da sala. Eu me sentia um pouco mais descansada agora, como se o cochilo que tirei tivesse sido maior do que os vinte minutos que durou o caminho.

——— Boa noite filha. – meu pai sorriu da cozinha e sorri seguindo até ele.

——— Boa noite pai, como foi o dia? – perguntei pegando um pedaço da cenoura que ele cortava.

——— Cansativo querida, sua mãe teve mais uma crise hoje á tarde, então, achei melhor não voltar para a oficina. – disse e suspirei assentindo.

——— Precisamos levá-la novamente ao médico, o remédio não está fazendo mais efeito. – conclui me encostando a bancada.

——— Sim, mas por agora, não temos como pagar a consulta.

Essa era mais uma coisa para fazer com o meu primeiro salário e já estava começando a duvidar que daria conta de tudo isso.

Após fazer uma sopa com as cenouras e batatas que haviam na geladeira, meu pai voltou para a oficina na tentativa de adiantar seu trabalho e acabei mais uma vez, ficando com o turno da noite.

Como as crises da minha mãe estavam mais frequentes, acabei passando mais uma noite em claro e quando o despertador tocou ás seis e meia da manhã eu quis desesperadamente chorar.

Me arrastei até o banheiro tomando um banho de água fria para acordar o meu corpo e depois de deixar o café pronto para minha mãe, sai correndo de casa em direção ao ponto de ônibus.

Ás vezes eu almejava que as coisas fossem mais fáceis, que eu pudesse ir trabalhar e voltar tranquilamente todos os dias como ontem, no confortável (e com certeza, caro) carro do doutor Urrea.

Mas, a vida era um pouco mais difícil que isso, e aqui estava eu tentando conseguir um pequeno espaço no ônibus lotado até chegar a estação e pegar o metro ainda mais lotado.

Quando cheguei até o hospital já preparando-me para ouvir todas as reclamações e insultos que Noah havia preparado para hoje, quis gritar quando a tira da minha sandália se prendeu em um prego e suspirei pesadamente ao vê-la arrebentando quando tentei puxar.

——— Que droga. – bufei me abaixando no chão e senti meus olhos se encherem de lágrimas. Eu estava exausta e completamente desiludida e agora, sem a minha única sandália.

——— Ei, está tudo bem? – ouvi uma voz feminina atrás de mim e quis me encolher de vergonha. – Precisa de ajuda? – insistiu a voz agora mais próxima e respirei fundo me levantando com a sandália em mãos.

——— Está tudo bem. – afirmei querendo me esconder ao ver a mulher á minha frente. Doutora Amanda Johnson ostentava um sorriso gentil enquanto usava um lindo vestido branco justo ao seu corpo, um par de saltos pretos que pareciam como novos, e seus cabelos loiros e perfeitamente arrumados completavam sua produção junto a sua maquiagem leve.

——— Parece que você precisa de ajuda com isso. – sorriu colocando seu jaleco apoiado em seu antebraço e pegou seu copo de café. – Eu tenho um par de sapatos extras na minha sala, posso te ajudar. – ofereceu começando a andar em direção as portas automáticas da entrada do hospital.

O caminho dentro do elevador foi torturante enquanto eu tentava convencer a minha mente a parar de me comparar com ela.

Olhei disfarçadamente para minha calça jeans e meu moletom branco, apertando a alça de mochila em minha mão. Depois, pensei em meu cabelo preso em um rabo de cavalo, já que, faziam três dias desde que o lavei.

Urrea ⁿᵒᵃⁿʸWhere stories live. Discover now