A bitter feeling

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POV CAMILA CABELLO

Ela falava sem parar daquela forma eufórica e feliz que foi a primeira coisa que me chamou atenção nela quando nos conhecemos, havia um brilho único e especial em Dinah Jane que resplandecia por onde ela passava, ela sempre foi capaz de transformar os momentos ruins de minha vida em coisas leves e tranquilas, ela era como morfina para mim e o que me assustou foi o fato de nem mesmo ela ser capaz de me fazer desanuviar naquele momento.

Com os olhos fixos nela podia ver o grande sorriso estampado em seu rosto, mas dificilmente conseguiria explicar ou absorver o que estava ouvindo. Meus pensamentos estavam longe dali mas ainda assim não estavam em lugar algum, era estranho me sentir daquela forma, como se estivesse adormecida ainda que meus olhos estivessem abertos, como se toda a minha vida não passasse de uma simples música que ecoava no fundo da minha mente.

Mais uma semana havia se passado desde que minha vida tomara um rumo totalmente inédito, três dias desde que tive três dissociações em um período de vinte e quatro horas, algumas horas desde que decidi ignorar toda a loucura da minha vida e simplesmente ouvir as fofocas que minha melhor amiga tinha a me contar. Não queria pensar em Karla, Kim ou Maya, não queria focar no fato de que a cada minuto que se passava mais real aquele transtorno parecia para mim, não queria admitir que de fato eu o tinha e, acima de tudo, não queria lidar com Lauren e ver em seus olhos a decepção por eu não ser a Karla.

Presa entre o medo sufocante do meu presente e a instabilidade assustadora do meu futuro, eu apenas planava entre os dois, enterrando-me cada vez mais em desespero. Impotência percorria minhas veias como uma maldita doença, me enfraquecia e me desmotivava, ter a ciência de que nada e nem ninguém jamais seria capaz de me livrar daquilo era assustador; viveria para sempre daquela forma, presa a um corpo sem realmente ter o poder sob ele, presa em minha própria mente com outras pessoas. Como alguém poderia viver daquela forma? Como pude viver todos esses anos assim? Por um momento desejei nunca ter conhecido Lauren, desejei ter permanecido na minha ignorância e em minha vida chata e estressante, desejei simplesmente esquecer de tudo novamente ou simplesmente sair do front de uma vez por todas; na maioria das vezes desejava apenas não existir.

Dinah falava e falava e eu apenas torcia para que ela não fosse capaz de perceber como eu estava ruindo de dentro para fora, acenava com a cabeça uma vez ou outra para fingir que estava prestando atenção no que ela falava mas a todo momento me esforçava para não sair correndo dali. Enquanto aqueles pensamentos me consumiam cada vez mais e angústia tornava-se esmagadora, eu tentava relembrar as palavras da doutora Heart sobre a depressão e a ansiedade que poderiam me acometer uma vez que o diagnóstico havia sido dado. Ela havia me alertado sobre os pensamentos intrusivos e os sentimentos conturbados, mas naquele momento eu sentia demais e pensa de menos. Ouvir Dinah falar com tanta normalidade sobre sua vida me entristecia, simplesmente porque eu sabia que não poderia ter uma vida como a dela, que nunca mais seria capaz de seguir minha rotina normalmente sem temer que de repente pudesse ter outra pessoa assumindo o controle.

Acho que seria capaz de ficar horas naquela mesma posição, sentada daquela mesma forma enquanto ouvia Dinah falar e com a mesma expressão no rosto, mas a porta da sala sendo aberta me puxou do torpor momentâneo. Tanto Dinah quanto eu olhamos na direção apenas ver um pequeno grupo de homens entrando enquanto conversavam em um tom alto, reconheci ao menos dois rostos mas não saberia nomeá-los nem se eu quisesse, e quando notei que era apenas os homens de Lauren estava prestes a voltar o olhar para Dinah, até que a mesma entrou junto com Normani. Elas sequer olharam na nossa direção no sofá, Lauren parecia possessa e falava e gesticulava de forma agitada, enquanto Normani seguia a alguns passos dela com uma expressão compenetrada e séria, uma terceira mulher surgiu atrás delas e logo reconheci ser a mulher daquela noite na boate, a que havia tentado chamar a atenção da Lauren enquanto conversávamos, ela estava com uma expressão séria também mas culpa encobria seus feições.

From revenge to love [Intersexual}Where stories live. Discover now