Capítulo 4 - Encontro Acidental

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Acordo um pouco febril no meio da noite, sonhei a mesma coisa da noite passada.

- Você está bem? - pergunta Lilly. Ela era uma colega de quarto, da qual eu não tinha muita intimidade, mas éramos boas amigas.

- Não posso responder isso com certeza. - falei, me espreguiçando.

- Oh, tudo bem, irei comunicar o diretor - respondeu ela, com um sorriso meigo.

- Obrigada - eu disse.

Quando Lilly sai do quarto, me deito para descansar um pouco mais.

A mulher se aproxima para me pegar, não consigo me mover, vou morrer...

- Aaaah!! - acordo gritando. - Onde estou? - me encontrava em outro ambiente, em uma mata densa.

A noite era iluminada pela lua. Subo em uma árvore para tentar me localizar. Vejo uma fumaça não muito longe e decido ir até lá.

Era um acampamento, parecia abandonado. A chegar mais próximo, vejo alguns corpos no chão, estavam destroçados.

- Como atacaram perto das limitações? A não ser que....Eram caçadores - concluí enquanto vasculhava suas coisas.

Um trovão surge no céu com um barulho ensurdecedor, trazendo uma chuva com ele.

Enquanto vasculhava os pertences das vítimas, ouço galhos se quebrando entre os arbustos, acompanhado de uma respiração pesada. 

Desconfiada do que poderia ser, pego uma arma discretamente. Preciso planejar uma tática de fuga.

Ao destravar a arma escuto um rosnado baixo. Atiro três vezes de olhos fechados para o arbusto e corro desesperadamente. Solto a arma durante a fuga.

Rugido alto...
Respiração ofegante...
Rosnados...
Pés descalços na terra molhada...
Passos pesados correndo...
Tropeço...

Enquanto eu corria tropecei em uma grande raiz, fui de encontro à lama. Ao me virar, a fera pula em cima de mim. Quando tento me mover, a fera põe suas patas sobre meus pés e mãos.

Ela possuía o corpo de um homem, mas sua aparência era semelhante a um lobo. A fera esfrega seu focinho no meu corpo, me cheirando. Até que se transformou em um homem.

- O que uma garotinha feito você, faz numa floresta como essa? Ninguém te alertou sobre os perigos? - pergunta, enquanto passava a mão na minha perna.

- Não é da sua conta - cuspo em seu rosto. O lobo ri limpando o rosto com o braço, enquanto ainda me segurava.

Ele aperta ainda mais meus pulsos. Então, levanta sua mão mostrando as garras, passa em minhas pernas rasgando o tecido que havia sobre elas. 

O lobo as acaricia e distribui beijos em meu pescoço. Quando percebo que está distraído me desvencilho. Pego uma pedra e tento acertá-lo, mas é em vão, ele prevê o ataque e segura meu pulso firmemente. 

- Se persistir, as coisas ficarão mais sérias - fico imóvel com a sua fala. - Boa menina. - Ele diz.

Em um ato de impulso, empurro o lobo dando espaço para encolher minhas pernas e lhe acerto um chute no abdômen. Apanho um pouco de terra e jogo em seus olhos, rapidamente me levanto correndo. 

O lobo é mais ágil, ele me puxa pelos cabelos me arremessando contra uma árvore. Caio no chão de lado cuspindo sangue. Talvez eu tenha fraturado a costela.

Ele começa a tremer se transformando. E de repente, um vulto aparece socando o lobo, a força foi tão imensa que fez a fera bater em diversas árvores, quebrando-as.

O vulto era um jovem, ao olhar para mim fico estagnada, Valentyn! Estava ofegante, havia sangue descendo de sua boca até a roupa.

Seus olhos estavam vermelhos, um vermelho bem escuro. Isto me fez recordar de alguns acontecimentos. Meus pensamentos logo são interrompidos quando o lobo volta e empurra Valentyn.

No entanto, Valentyn é mais rápido, pega o lobo pelo pescoço, arranca sua mão e o solta. Valentyn ergue o braço exibindo a mão do lobo como troféu.

- Isto é para você aprender a não tocar no que não é seu - dito isso, a mão do lobo pega fogo.

Valentyn possuía grandes habilidades e poderes incríveis por ser puro sangue e original. E não só isso, ele era sábio, astuto e sabia lutar como ninguém, era perfeito. Após pensar tais palavras, senti minhas bochechas arderem. 

O lobo gritava por ter a mão arrancada.
- Por que você "o grande Valentyn", se importaria com uma mera mortal? - pergunta o lobo.
- A não ser... - Valentyn arranca sua língua antes do lobo terminar a frase, ele gemia tentando dizer algo. 

Em seguida, Valentyn toca a testa do lobo que então, arde em chamas virando cinzas.

- Valentyn... - chamo espantada.

No mesmo instante Valentyn olha para mim, seus olhos vermelhos logo voltam ao normal. Ele retira um lenço do bolso de seu sobretudo e passa em seus lábios.

- Perdoe-me, não queria que presenciasse esta cena deplorável depois de tudo - fala vindo na minha direção. Ao chegar perto de mim, levanto meus braços como proteção, e ele para.

- Ainda acha que minha intenção é machucá-la? - pergunta com um meio sorriso. Abaixo os braços em resposta e ele me puxa para um abraço caloroso. 

- Você não sabe o que tive que fazer para lhe encontrar - deu um longo suspiro,  acariciando meus cabelos.

- D-Desculpa... não era minha intenção te causar problemas - Ele me olha nos olhos e desvio o olhar por nervosismo, mas ele pega no meu queixo fazendo olhá-lo.

Ele analisava cada detalhe do meu rosto, parecia pensativo, e então fecha os seus olhos como se quisesse evitar algo.

Valentyn solta o meu queixo e em um movimento rápido, me põe em seus braços.

- Devemos partir, aqui não é seguro - após dizer isso, vejo árvores passarem como vultos rápidos.

Em alguns instantes paramos num penhasco, era o limite do nosso território. Mais a frente estava o muro da Instituição. A noite estava bonita, com muitas estrelas, a lua minguante estava refletida na água do grande lago.

- Julliet!! - grita Joseph no barco perto do lago. Em seu rosto havia uma mistura de ira e preocupação. - Eu deveria te matar por este susto!
- Eu... - tento falar, mas sou interrompida. 

- Leve-a para a Instituição, tenho assuntos a tratar - fala Valentyn, que me põe nos braços de Joseph.

O mesmo me pega no colo, esnobando Valentyn, o qual não esboçava nenhuma reação. 

Valentyn observava conforme Joseph se distanciava comigo em seus braços. Assim que Joseph me colocou no barco, ele se foi.

Observei Valentyn sumir entre as árvores, então uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

- Obrigada mais uma vez, Valentyn...- digo a mim mesma, pondo minha mão sobre meu peito.

Século Sombrio - Dark Century Where stories live. Discover now