20 ─ os dias do subúrbio em saitama

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As coisas mudam muito rápido. O tempo passa muito rápido. E também  no fim, às vezes não sobra nem resquício de que determinada coisa aconteceu. Nestes casos o que a fez recordar, com certa nostalgia talvez, foi tê-lo visto nessa cerimônia de magnatas, depois de muitos e muitos anos.

Sakura estava com um vestido de seda vermelho, alças finas, cintura afunilada, uma fenda até o início da coxa que deixava muito para a imaginação. 

Fumava na mesa redonda de panos postos e elegantes, ouvindo o discurso do líder de partido que ela veio mostrar apoio. 

Seu marido era um homem bonito. Muito bonito. Falava perfeitamente bem e era tão inteligente que vinte segundos de debate, dividia opiniões e arrastava multidões pra sua teia de fraudes e tráfico. Era um professor de crime organizado de cabelos prateados, conhecido apenas pela cicatriz que atravessa seu rosto, já que nunca foi visto sem a máscara. 

Foi o cara que lhe tirou da lama quando todas as lojas de departamento estavam fechadas e tudo o que restava para uma garota de dezoito anos em Kasukabe, na Província de Saitama, era se tornar uma prostituta ou ser raptada por outra gangue e se tornar uma prostituta fora da cidade.

Desde então ela vive uma vida de prostituta como sua esposa, mas ao menos com algum conforto, proteção e certa liberdade. Exceto para usar drogas. Sakura não tinha permissão para usar drogas. Mas em geral podia fazer o que bem entendesse, claro, se não o ferisse, não o denegrisse ou entregasse seus planos para gangues ou políticos corruptos de Shibuya.

Para o bem da verdade, podia foder com quem quisesse também. Bom mesmo seria se ele não ficasse sabendo, mas em geral, Hatake Kakashi não se importava. Precisava apenas do seu rosto bonito e juvenil quando pousassem para as mídias sociais e com isso Sakura o servia perfeitamente bem. No fundo, era grata a ele por tê-la dado uma chance, mesmo que miserável.

Era sobre o que pensava quando, no auge dos seus trinta anos, olhou de relance para a mesa onde estava o prefeito da cidade vizinha - que ela também conhecia muito bem - e o viu.

No começo da noite, não tinha certeza que era ele e até pensou que seria uma grande decepção caso não fosse, porque honestamente, seu coração bateu acelerado como nunca havia acontecido. 

Claro que ela se manteve neutra.

Seus dedos cheios de anéis e seu pescoço bonito enfeitado com um colar brilhante de esmeraldas não combinam com um surto adolescente, então continuou fumando, mesmo quando Sasuke puxou a cadeira da mesa que dividia com Naruto para outra mulher sentar.

Ele estava todo de preto, desde o smoking aos sapatos lustrosos, o queixo mais quadrado do que se lembrava e ela seria mentirosa se dissesse que não se surpreendeu ao vê-lo com uma tatuagem da gangue mandante de Odaiba enfeitando seu pescoço.

Ele puxou a cadeira e a ruiva que o acompanhava não esboçou nenhuma reação, apenas cumprimentou o prefeito que retribuiu em um aceno de cabeça. Não é uma prostituta - Sakura observa pelo comportamento, já que a ruiva não fazia questão alguma de agradá-lo.

Sakura tragou mais uma vez seu cigarro e aplaudiu quando todos aplaudiram seu marido se erguer e caminhar pelo salão luxuoso até o palco, pronto para angariar mais alguns policiais e soldados.

De repente estava com dezessete anos outra vez.

─ Você vai ver, ele é quieto, mas é gente boa ─ Naruto tagarelava como sempre, jurando que conhecer o novo cara da lixeira 19 era tudo o que eles precisavam pra sair daquela vida.

"Lixeiras" era a maneira que os jovens e adolescentes de Saitama chamavam os pontos de tráfico e prostituição do bairro que há décadas se resumia a bicho e miséria. Dava-se para denominá-las assim porque o bairro tinha mais destes pontos do que ruas ou vielas, e toda vez que um coitado se mudava para ali, era porque alguma coisa aconteceu e não tinha pra onde ir, então ficava conhecido como "o cara da lixeira x" , "a vadia da lixeira y". Claro que o gênero dizia muita coisa, mas a principal era: se você é um cara, será traficante de drogas; se é garota, seu destino é ser puta e não precisa sequer esperar alguém coagi-la, convidá-la ou obrigá-la, o certo e aceitável é que comece de livre e espontânea vontade, sem causar problemas.

Os dias perdidos - SasusakuWhere stories live. Discover now