Parte II - Capítulo 12 - A Arma Secreta

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MANTER-ME em silêncio nas horas seguintes pareceu ser a melhor opção para mim. O que meus olhos testemunharam fora algo completamente fora da realidade que eu aceitava para mim. Algo que sempre ignorei em toda a minha vida, mas que sempre esteve nas histórias que considerava como apenas lendas inúteis.

Eu estava começando a enxergar o mundo de outra forma. Tentei trazer à memória tudo o que talvez um dia fosse resquícios de alguma magia durante minha vida. Lembrei-me do livro que ganhei de meu pai quando ainda era pequena. Não fora ele mesmo que disse que eram apenas lendas e historias? Tentei lembrar-me das palavras de algumas daquelas histórias, mas nada vinha em mente a não ser o que eu havia visto recentemente.

As imagens da cura instantânea de meus ferimentos ocupavam meus pensamentos. Como pode, uma simples planta fazer o que uma pessoa demoraria semanas para tratar? A magia que ela continha era real. Eu vi isso com meus próprios olhos. Senti isso na própria pele.

Tentei tirar isso da minha cabeça e pensar em outra coisa. Obviamente, não funcionou.

A Floresta Gramond parecia um borrão verde escuro. Eu caminhava agora sem dificuldade, como se nada tivesse acontecido em minhas pernas. Como era possível? Chad tentou algumas vezes puxar alguma conversa, mas eu apenas não respondi. Continuei imitando os passos de Ferghus que ia a minha frente, que para minha felicidade, não fez questão de dizer nada depois que saímos da clareira. Será que Ferghus também estava espantado por ter visto magia? Não fazia sentido. Afinal, ele mesmo que começou com isso tudo, de querer nos dar uma lição de história e ensinar as coisas do passado. Eu me perguntava o tanto que ele sabia.

E o tanto que escondia.

Imaginava também o que talvez meu pai um dia soube. Será que ele havia visto magia alguma vez? Ele nunca mostrara nada a respeito, a não ser do que estava naquele livro. Mas mesmo assim, ainda eram "lendas".

As horas passaram e eu nem percebi. Minha perna estava como nova, o que era uma sensação estranha. O mar de árvores ao meu redor parecia não acabar e não notei quando fizemos uma parada. Despertei quando senti algo gelado e molhado em meu rosto. Ao olhar em volta, vi Chad com seu cantil em suas mãos, e um olhar travesso nos olhos. Passei seus dedos em meu rosto e confirmei minhas suspeitas. Revirei os olhos e encarei Chad, tentando controlar minha raiva.

Ferghus encontrou uma clareira próxima a um desfiladeiro de água corrente. Ele mantinha seu rosto fechado, e seus lábios cerrados. Não tinha dito uma única palavra desde que a magia fora manifesta. Aprontou a fogueira rapidamente e abriu mais uma saca de mantimentos.

- Pensei que não voltaria ao seu estado normal. - provocou Chad. Sorte dele que eu não estava com vontade nenhum para abrir a boca e falar algo. Somente meu olhar gélido foi o suficiente para transmitir o que eu queria dizer: É melhor você ficar quieto.

Chad aparentemente entendeu a mensagem e imediatamente colocar água em seu cantil tornou-se algo interessante para ele. Olhou momentaneamente para mim pelo canto do olho e jogou um pedaço de pão. Eu o segurei com pouca agilidade, deixando-o cair em meu colo.

Somente ao dar a primeira mordida que percebi o quão faminta eu estava. Em menos de um minuto, eu já havia devorado aquele pedaço de pão e já estava em busca de outra coisa para comer. Minha boca estava seca. Parecia que não comia nem bebia há dias.

Afinal, há quanto tempo estávamos caminhando?

Eu já não sabia responder. Havia ficado tão atônita com o ocorrido que não notei o tempo passar. Imaginei se isso não era algum artifício da magia que correra pelo meu corpo. Passei meus olhos pela clareira que estávamos na tentativa de descobrir algum sinal de horário.

O Florescer do FogoWhere stories live. Discover now