MINHA PESSOA

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Boa tarde, meus dengos. Domingando do jeitinho que a gente gosta. Tretas leves e valu.


Eu não conseguia soltá-la, como se no momento que eu me afastasse, a sua presença poderia deixar de existir, por esse motivo permaneci muito tempo abraçada no seu corpo chorando e recebendo o seu carinho.

- Eu não acredito que você está aqui - sussurrei.

- Eu não consegui não vir - ela disse. Afastei meu rosto para olhar para ela - Olha aqui, vai ficar tudo bem, tá bom?

Sem qualquer explicação plausível, a minha mente recebeu aquelas palavras e as aceitaram como verdade. Havia uma sinceridade nos seus olhos que me faziam ver que as coisas realmente iam se ajeitar.

Meus pensamentos me alertaram que não estávamos sozinhas. Me afastei dela me colocando ao seu lado, percebi a minha família discretamente disfarçando os olhares para nós.

- Valentina, esse é o meu pai, Augusto, minha mãe, Sônia, meu irmão, Leandro e o Bernardo - que eu me questionei na hora o que ainda estava fazendo ali.

Ela foi até eles e cumprimentou-os com um abraço rápido e proferindo formalmente "Meus pêsames" ou "Sinto muito pela sua perda".

Bernardo a encarou com olhar de revolta e se cumprimentaram com um aperto de mão. Ele não respondeu a ela quando disse: "Prazer em te conhecer".

- Bom, eu vou indo - ele falou percebendo que não fazia o menor sentido estar ali.

- Não quer ficar para jantar, Be? - minha mãe perguntou. Ignorei para não causar mais desconforto.

- Não, tudo bem, obrigado. Se precisarem de algo, é só ligar.

- Certo, eu acompanho você até a porta - ela disse e os dois saíram.

- Eu vou tomar um banho enquanto a janta não chega, estamos conversados? - meu pai indagou.

- Tudo bem, desculpa por antes - falei constrangida.

- Está tudo bem, eu só quero que você fique bem. Acredito que agora vá ficar - ele deu um sorriso para Valentina que devolveu a ele.

- Vamos sentar lá fora? - convidei Valentina.

- Vamos - ela concordou e fomos para os fundos.

Nos sentamos no sofá da área e eu a puxei para me abraçar de novo, o sentimento era de conforto e saudade de tê-la comigo, parecia que nenhum abraço seria suficiente.

- Obrigada por estar aqui - sussurrei.

- Eu não consegui ficar lá, queria ter chegado antes, mas não deu.

- O importante é que você chegou.

- O que estava acontecendo entre você e o seu pai?

- Ah, ele desmarcou uma cirurgia que eu tinha amanhã.

- Você queria operar amanhã? - perguntou chocada.

- Queria ocupar a cabeça.

- Você não deve fugir das coisas, dengo. Não é fácil, claro, mas a dor precisa ser sentida.

- Eu não sabia se ia conseguir lidar, eu achei que ele ia ficar bem por mais um tempo - falei e me permiti chorar. Ela se ajeitou e puxou para que eu me acomodasse no seu abraço.

- Eu sei, eu sei. Mas agora ele descansou, está em um lugar melhor.

- Você acredita mesmo nisso?

- Eu tenho certeza. Ele deve estar em paz, sem dor, sem sofrimento, deve estar orgulhoso de você que cuidou de todos. Agora fica tranquila, eu vim aqui cuidar de você.

Mundo de IlusõesWhere stories live. Discover now