Capítulo 2

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Milan


Ao chegar à cabana, respirei fundo. Teria de mandar os meus homens sair e mandar um mensageiro ao castelo. Não podia omitir isto do Rei.

— Preciso que todos saiam da cabana, imediatamente! — Ordenei. Notei que a princesa se encolheu ao ouvir o meu tom austero. — Preciso de um mensageiro. Necessito que alguém vá ao castelo, avisar que a princesa Janine se encontra na Floresta Negra, rápido.

Os homens que estavam na cabana acataram as minhas ordens e apressaram-se a sair dali. Olhei-a nos seus olhos azuis acinzentados. Os seus cabelos loiros encaracolados tornavam-na ainda mais bela. Sobre eles, descansava uma tiara de prata com uma pedra do sol. Não havia dúvida que ela puxara a beleza de sua mãe. Apesar de o seu pai ser considerado um dos homens mais belos dos reinos, a sua mãe era também um dos exemplares da nossa espécie mais belos. Tanta beleza junta, só poderia resultar nela — a inconfundível e poderosa princesa herdeira. As suas pestanas compridas e o seu nariz perfeitamente simétrico saiam ao seu pai.

Em poucos minutos, a porta abriu-se e o Rei Negro entrou. Isso fez-me afastar da princesa e desviar o olhar.

— Princesa Janine, minha neta! O que faz no meu reino?

— Vossa Alteza! — Fez uma vénia. — Tive uma discussão com os meus conselheiros e fugi para não os ouvir. Precisava de estar sozinha, acabei por correr e acabei na Clareira Iluminada. Peço desculpa pela invasão do seu território.

O seu avô solta uma gargalhada bem audível.

— Que disparate, Janine! Não há qualquer problema. Tu és a herdeira deste território, não precisas disso. Mas diz-me o que se passou?

— Os conselheiros querem-me casar o mais rápido possível.

— É natural, Janine! Estás a atingir a maioridade e tens um reino para governar.

— Avô... Vossa Alteza.

O avô revirou os olhos.

— Não precisa de tantas formalidades, estamos apenas perante o meu braço direito. Ele não vai abrir a boca.

Assenti.

— Eu vou para o exterior, para deixá-los a conversar mais à vontade. — Fiz uma vénia.

— Axel, fica. — Ordenou o Rei. — Encontraste a minha neta e já ouviste os planos dos conselheiros. Acho que até podes ser útil, poderá dar alguma ideia. Sangue novo, ideias novas podem ser interessantes.

Assenti.

— Sugeriram alguém, minha neta? — Voltou o Rei Máximo ao foco.

— O Rei Boreal!

Respirei fundo. Aquilo seria um desastre para a ilha e para os três reinos, se este casamento acontecer.

— Eles nem pensem que isto vá acontecer! — A ira na voz do governante deste reino invadiu a sala. — Não posso compactuar com isso. Como é que eles podem pensar que isto é uma boa ideia?

— Não sei! Por isso é que fugi.

— Minha neta, não podes fazer isso sempre que acontece alguma coisa destas.

— Eu sei, avô! Não me sentia capaz de estar naquele espaço. Parece que não tenho opinião naquele concílio. Sou apenas a princesa herdeira órfã. Eles não me veem de outra maneira!

— Sabes que nada é fácil da tua situação. Os teus pais sabiam que estavam a correr riscos e teriam uma adaga ao coração, mesmo assim quiseram viver com aquela ameaça.

— Eu sei, avô! Mas como vou contrair aquilo? Como vou ser ouvida naquele reino?

— Confias em mim?

Assentiu e a ira invadiu o meu corpo. Ela não podia confiar naquele homem! Ele prometeu devolver-me o meu reino e os meus, mas estou à espera disso há dois anos.

— Está tudo bem, Axel? — Devo ter denunciado através da minha inquietude.

— Sim! — Aclarei a voz. — Talvez ao arranjar outro pretendente, outro monarca, o Rei Boreal deixa de ser uma opção.

Um sorriso aflorou nos lábios do rei, e soube logo do que viria aí. Sabia do propósito que teria nesta luta. O plano dele sempre foi esse, quando negociou com o meu raptor. Ele conseguiu que os nossos fossem para o Reino Crepuscular, apesar de eu já ter um plano a decorrer. Só queria que os meus voltassem às suas terras.

— Mas digam-me quem possa ser? Sinceramente, todos os monarcas são velhos! Eu não me quero casar com alguém que pareça muito mais velho que eu. Sou bem capaz de reinar sem um rei consorte.

— Eu sei que sim, mas precisamos de conseguir manter a linhagem, Janine! Nós não somos eternos.

Sorrio-lhe.

— Se não houvesse essa lei arcaica, eu não me importaria de casar até com o Axel. — Apontou para mim.

Um sorriso aflorou nos lábios do seu avô. Ele sabia que não haveria nenhum impedimento da sua parte.

— Sinto-me honrado, princesa Janine, por me considerar um bom partido.

Ela baixou o rosto, envergonhada. A princesa Janine ficava adorável, com as suas faces rosadas.

— Minha neta, vamos encontrar alguma coisa para contornar a lei arcaica dos nossos antepassados. — Garantiu-lhe. — Se voltarem a tocar no assunto, chama-me.

A princesa assentiu.

— Axel! — Virou-se para mim. — Vais ficar encarregue de tomar conta da princesa até ao sol raiar. Quando isso acontecer, vais levá-la de volta ao seu castelo.

Assenti-lhe e vi-o desaparecer daquele cómodo. Respirei fundo.

— A princesa precisa de alguma coisa? Deseja jantar?

— Apenas preciso de um banho e de uma cama para descansar.

— Vou providenciar isso, Vossa Alteza!

— Axel! — Chamou-me antes que conseguisse sair do cómodo. — Obrigada. 

Vingança - A PromessaWhere stories live. Discover now