Capítulo 3

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Milan


Faz hoje dois anos que sucumbi ao pedido daquele homem. Mantive-me fiel às minhas crenças e de todas as minhas convicções para ficar longe dele, mesmo depois de me libertar do lunático que me raptou. Sei que a minha família e o meu povo foram chacinados por eu me recusar a ajudar um lunático. Eu deveria ter-me aliado mais cedo àquele homem, mas algo me dizia que não devia. Muitos jovens da nossa espécie foram capturados e mantidos em cativeiro. Foi a presença deles, neste reino, que fizeram com que me sentisse mais forte. Apesar de estarmos em locais distintos do reino, conseguimos comunicar através de telepatia. Muitos dos seres perderam esta capacidade, mas os nativos do Reino Misoris mantém-na.

Durante este tempo, treinámos em segredo e traçámos um plano para pudermos retaliar quem me raptou. Foi doloroso assinar aquele tratado com o Rei Máximo, mas foi necessário. Eu precisava de conseguir libertar os meus e começar a colocar a nossa estratégia em prática. O meu povo precisava de mim para que pudéssemos voltar à nossa ilha.

Aproximava-me da sala do trono, para onde teria sido chamado.

— Vossa Alteza, mandou-me chamar? — Fiz uma vénia, assim que entrei na sala.

— Precisamos de conversar.

Compôs a coroa que estava sempre a cair. Aquilo era irritante ver a minha coroa na cabeça daquele homem. A coroa da ilha de Misoris apenas permanecia na cabeça do seu verdadeiro rei. E, esse era eu! Por mais que ele tentasse deixá-la na cabeça, esta fazia de tudo para não parar na cabeça. Além disso, estas coroas tinham sido amaldiçoadas, para quem se atravesse a usá-la sem ser o seu verdadeiro herdeiro. Ela sugava anos de vida e os poderes do indigno que a usasse. Tudo isso iria fortalecer o herdeiro do reino, quando se sentasse no trono. Eu tinha mencionado a coroa, por saber o que ela era capaz de fazer. Eu estava a destruí-lo e a enfraquecê-lo aos poucos, sem ele saber. E, quanto mais depressa devolvesse os meus ao meu reino, mais depressa voltaria a ter a minha coroa e governaria. Isto tinha sido ideia de um dos anciões que se mantinha preso nas masmorras. Este segredo era apenas mantido pelos seus ancestrais e os seus reis.

Apesar de mais de uma centena dos nossos estarem presos nas masmorras, ele usava platina para nos prender. A platina era o único metal que consegue manter a nossa espécie presa. Por ser altamente corrosiva à nossa pele, nenhum de nós tenta trespassar esta barreira. Eu descobri da pior forma, quando coloquei as mãos sobre as barras quando vim parar a este reino. Demorou semanas para que a minha pele rejuvenesce. Não tive ajuda nem qualquer tipo de magia curativa para tratá-la. Foi uma recuperação dolorosa, fazendo aumentar a minha raiva por aquele ser. Quem rapta uma criança e coloca-a numa masmorra? Quem priva uma criança de ter uma infância feliz? Ou de viver com os seus pais? Quem é o monstro que massacra os da própria espécie, por querer dominar o mundo? Isso foi o que me fizeram passar quando estive preso.

Olhei para ele, engolindo a seco. Saberia que vinha aí bomba.

— A tua população está a encher-me as masmorras. — Prosseguiu. — O povo está a reproduzir-se a olhos vistos! Preciso de saber o que fazer com eles.

— Libertá-los e levá-los para a ilha. — Sugeri.

O riso daquele homem ecoou nas paredes da sala. Aquilo ainda me deixava com mais raiva dele.

— Achas mesmo que isso era vantajoso?

— Você tem-me como seu aliado há dois anos, acho que se o quisesse atraiçoar já o teria feito.

— Como posso ter certeza disso?

Exalei todo o ar preso nos pulmões, fazendo-se ouvir.

— A única pessoa que eu conheço é o senhor. É como um pai para mim. — Aquela era a mentira que mais custava-me dizer, mas em parte foi a figura paterna que tive quando tudo estava mal. — Eu assinei o tratado para proteger o meu povo. Povo esse que lhe pertence. Você é o rei de Misoris!

Vingança - A PromessaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora