Capítulo 5

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Janine

Os conselheiros apressaram-se a sair para tratarem do aviso real. Dispensei os restantes, à exceção do Rei Negro. Caminhei um pouco pela sala, antes de o encarar. Precisava de entender porque ele fez isto. Estava furiosa pela lei que o meu avô tinha acabado de aplicar no meu reino. Ele tinha autoridade como rei transitório, mas não o direito para o fazer. Nunca passou por cima da minha palavra.

— Acha que é boa ideia? — Questionei ainda furiosa.

— Janine, isto é a nossa melhor opção. — Defende-se. — Eu não te quero casada com aquele homem! Sabes o que ele fez aos teus pais. — Olhei-o nos olhos. — Ele matou o meu filho e deixou um fardo muito grande nos ombros da minha neta. Isto tudo por a tua mãe, a Rainha Leila, e o teu pai, o príncipe Andreas, se apaixonaram. Eles não mereciam ser mortos daquela maneira. E, eu não quero que tenhas de medir forças com ele. Não quero que seja esquartejada pelo teu marido enquanto dormes, por seres mais poderosa do que ele. — Suspirou. — Tu és filha das trevas e da luz, a tua magia é a mais soberana que já se viu neste mundo! Tu és uma menina especial, das poucas com a magia pura que habita neste mundo desde os primórdios. És das poucas do sangue antigo, das últimas da linhagem puras.

— Mas o que sugere, avô?

O meu avô sorriu, mas com aquele sorriso de quem anda a tramar alguma.

— Confias em mim, minha neta? — Assenti. — Posso fazer-te uma questão? — Voltei a assentir. — Se eu tivesse a pessoa ideal para ti, mas que não se podem casar por uma regra arcaica do meu tataravô. Apesar de ser uma pessoa de sangue puro.

— O que quer dizer?

— Que eu tenho um plano. — Responde. — O Axel é o meu mais recente braço direito. — Sorriu. — Sei que queres casar por amor, coisa que os teus pais tentaram e acabaram por ser chacinados enquanto dormiam.

As lágrimas começam a querer fugir-me dos meus olhos. Olhei para o teto da sala para conseguir controlá-las. Apesar do tempo que passou, ainda mexia comigo.

— O que tem a ver com o seu novo braço direito?

— Confias em mim, minha neta?

— Avô, está-me a pedir o que estou a pensar?

Ele assentiu, estudando a minha cara. Eu estava receosa com tudo aquilo que ele pretendia. O meu avô sabia que eu era perspicaz e não precisava de me falar com todas as letras para entender o que ele queria. Ele queria-me casar com o Axel, só que ainda não sabia bem como é que ele pretendia que isso acontecesse. Sei que ele escondia algo, a sua magia não o deixava esconder-se como pensava. Algum tipo de magia que ele possuía que me cativava.

Eu tinha sido treinada para que entendesse as palavras que o meu avô não diria, mas que estava subjacente. Não havia ninguém na sala, mas as paredes poderiam ter ouvidos. Não era seguro falar de certos assuntos tão abertamente num local como estes. Poderia haver infiltrados na corte e o mais seguro era falar em código.

— Como é que vamos contornar a regra?

Eu conhecia o Axel, desde que ele se assumira braço direito do meu avô. Normalmente o Rei Máximo fazia-se acompanhar de algum dos seus conselheiros e guardiões. Nenhuma visita, nem por mais repentinas que fossem, ele vinha sozinho.

— Confias em mim, querida neta? — Assinto. — Eu tenho um plano.

— Ele acompanhou-o?

Ele assentiu.

— Pode chamá-lo?

O Rei Crepuscular aproximou-se da porta e abriu uma leve frecha, fazendo-lhe sinal. Em poucos segundos, estávamos os três na sala.

O Axel era alto com os seus olhos verdes-claros e os cabelos dourados, como eu me lembrava, faziam dele um dos mais bonitos da nossa espécie. Ele usava sempre o mesmo tipo de roupa — umas calças pretas e uma camisola/t-shirt preta. Sei que ele tinha nascido dois anos antes de mim, mas não sabia como é que o meu avô iria conseguir contornar as leis arcaicas que eram aplicadas. Para além de bonito, Axel tinha algo nele que me puxava. Lembrei-me do que aconteceu há umas horas, deixei-me divagar nas coisas que poderia ter feito, mas que não fez.

Assim que se aproximou, Axel fez-nos a típica vénia. Tentei detê-lo, mas sem sucesso. Estávamos apenas os três e os títulos deveriam ser deixados fora daquelas quatro paredes. Eu não queria que ele me tratasse como superior por ser a herdeira do trono.

— Não precisas de ser tão formal, Axel. — Disse o meu avô, tirando-me as palavras da boca. — Estamos apenas aqui os três. Precisamos de resolver o que vamos fazer.

— O que têm em mente, Rei Negro? — Questionou Axel, com receio do que poderá vir daí.

— Diz-me uma coisa, meu jovem, quanto tempo achas que iremos precisar para estares pronto?

— Umas semanas. — Esclarece-o.

— Pronto para quê, avô?

Ele sorriu-me e fez-me uma carícia no rosto.

— A seu tempo saberás, minha querida. — Passou o olhar pela sala, procurando algum indício que estávamos a ser ouvidos. — Mas se confiares em mim, terás as tuas respostas em breve.

— Eu confio. — Digo-lhe antes de me virar para Axel. — Tem a certeza que quer fazer isto?

— Vossa Alteza, eu estou aqui para a servir! — Tentou fazer uma vénia, mas consegui impedi-lo.

— Axel, deixe as formalidades um pouco. — Solicitei. — Preciso de saber, está de acordo com tudo o que poderá acontecer?

— Sim, Vossa Alteza!

Não iria conseguir que ele me deixasse de tratar com tanta formalidade. Só haveria uma maneira de o conseguir.

— Axel! — Os seus olhos verdes hipnotizantes encontraram os meus. — Peço-lhe que me deixe de tratar tão formal.

— Sim, Vossa Alteza! Desde que me trate de igual modo.

— Tudo bem, mas só me tratará como "Vossa Alteza" em público. Quando estivermos sozinhos ou apenas perante o meu avô trate-me pelo meu nome.

— Não sei se consigo, Voss... — Levantei o sobrolho. — Princesa Janine.

Solto um longo suspiro derrotada.

— Avô, podes ajudar-me nesta luta? — Viro-me para ele.

Ele riu-se.

— A princ... — Axel engoliu a seco. — A Janine tem a certeza que quer fazer isto?

— Que escolha tenho?

O meu avô abriu um sorriso satisfeito.

— Precisamos de nos encontrar fora dos olhares. — Afirma o Rei Nego. — Janine, sei que amas o teu reino e confias nas tuas pessoas. Mas não poderemos tratar de assuntos deste tipo aqui! Teremos de nos encontrar fora dos olhares alheios...

— Avô, não se preocupe. Eu apenas estou guardada do raiar do dia até me resguardar nos meus aposentos ao seu declinar. — Lembrei-me dos treinos que fazia com a minha mãe na antiga arena.

Olhei para o meu avô e enviei-lhe uma mensagem telepaticamente: — Encontramo-nos da antiga arena de treino.

Eu era das últimas a conseguir fazê-lo. Era algo que se foi perdendo com o passar dos anos.

Pelo menos era o que eu pensava, antes de receber:

Tem a certeza disso, Caracol?

Os meus olhos esbugalharam-se por uns segundos. Eu não esperava que o Axel conseguisse! Fiquei atónita, mas não poderia dar nas vistas.

Ele é a única família que me resta, porque não havia de confiar nele? — Voltei a utilizar a telepatia para comunicar com ele.

— Encontramo-nos lá. — Murmurou o Rei Negro antes de se fazer desaparecer com Axel. 

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