O Mundo Acabou com a Voz

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   O mundo acabou hoje.
   Calou-se uma voz que clamava o amor.
   Emudeceu-se uma caneta que pintava o protesto em palavras,
   uma voz surda que gritava muda,
   que não queria mais ouvir, que não era ouvida;

   nem nunca seria;
   que sabia que a vida acabaria;
   que morrera e matara (a si) pra salvar a Vida.

   Calou-se uma voz inaudível,
   pois soprou o mundo na chama que a mantinha aquecida,
   chama que nunca existira;
   esperança que nunca houvera
   e que nunca morrera.

   Esperança mais que verdadeira,
   uma vez mais morrera,
   com uma voz que a gritava.

   O mundo acabou hoje.
   Talvez tenha acabado ontem também.
   Talvez acabe de novo, amanhã.
   Certamente que sim!
   Mas talvez, não...
   Só talvez...

   Mas tudo está tão quieto agora.
   E esse barulho mudo não me deixa escutar
   nenhuma outra voz inaudível,
   nunca ouvida,
   que não quer mais ouvir.

   Que importa se não a ouço?
   Logo morrerá.
   Se emudecerá!
   Fará mais barulho do que nunca,
   quando nada tiver a dizer.

   Em breve também se apagará a chama minha,
   emudecerá também a minha voz,
   e o mundo acabará.

   Mas ficarei feliz se for em silêncio
   que meu mundo acabe,
   e que quando eu parar de gritar assim, falando sem voz,
   não seja pra fazer um barulho surdo que nada diz,

   mas, sim, para apenas não dizer mais nada.

De Um que AcreditaOnde histórias criam vida. Descubra agora