22. Retorno a Várzea

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Caminhando ao lado da escolta indígena, o detetive se aproximava da cidade

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Caminhando ao lado da escolta indígena, o detetive se aproximava da cidade. A transição entre o mundo natural e o construído pelo homem ficava cada vez mais perceptível. A normalidade da vida urbana parecia estranha depois das tragédias que havia testemunhado, e ainda assim, era naquela realidade que ele deveria estar.

A sinfonia matinal das aves e o suave sussurro do vento traziam uma sensação de conexão inesperada com a terra — uma lembrança viva em cada raiz entrelaçada e galho balançando. Os três guerreiros que o acompanhavam personificavam destreza e elegância, se movendo quase imperceptíveis sobre o tapete de folhas.

Enquanto se aproximavam do limite da floresta, a silhueta da cidade se delineava no horizonte. Mendes sentiu a garganta pressionar, ciente de que tudo ficaria mais difícil. Parando no limiar da cidade, ele olhou para trás, para aqueles que brevemente haviam trilhado o mesmo caminho.

— Chegamos. — ele falou, com um aceno respeitoso. — Agradeço a ajuda de vocês.

O homem mais velho da escolta tocou o braço de Mendes com reverência:

— Boa sorte lá fora. Iremos embora, mas a sombra de nossa arvore lhe guiará.

— Obrigado. Lamento por tudo que aconteceu.

— A floresta pode se curar. Só espero que nós também possamos.

Mendes não conseguiu dizer mais nada, apenas observou enquanto os guerreiros partiam com um aceno solene, suas figuras se fundindo com a floresta. À medida que desapareciam entre as sombras e os segredos que a mata guardava, ele sentiu um capítulo de sua vida se fechando suavemente.

permanecendo ali, em pé, por um momento eterno, observou o lugar onde a floresta encontrava a cidade — um ponto entre dois mundos. Respirando fundo, e sentindo a mudança de ar, ele caminhou em direção à civilização.

Várzea, era o nome que aparecia ao longe em uma placa de ferro envelhecido presa a um pilar de pedra que identificava o nome do local. As ruas, eram asfaltadas, mas também, estavam cheias de buracos e poças de água barrenta da chuva recente. Prédios desgastados se alinhavam, suas fachadas descascadas mostrando um esplendor e declínio.

Ele caminhava e observava as pessoas ao redor. Trabalhadores apressados, mães com crianças de mãos dadas, jovens conversando animadamente e moradores de rua acomodados em cantos, enrolados em cobertores sujos, com olhares distantes e perdidos.

Na Avenida Central, ele via lojas chiques e cafés modernos de um lado, e barracas e lojas fechadas do outro. O ar estava impregnado com o cheiro de fumaça e comida de rua, com aromas que traziam tanto conforto quanto desconforto.

Não demorou muito até que o D.I.C (Departamento de Investigação Criminal) finalmente viesse à vista. O prédio, uma estrutura de tijolos desgastados, erguia-se com autoridade na paisagem da cidade. As janelas altas, encaixilhadas em madeira escura, davam ao edifício um ar de seriedade. Mendes parou de andar diante da entrada principal, marcada por uma larga escadaria de pedra e portas maciças de madeira com detalhes em metal forjado. O reflexo de sua imagem nas vidraças polidas o surpreendeu; cabelos desgrenhados, barba por fazer, roupas rasgadas e manchadas de sangue.

O relógio de areiaWhere stories live. Discover now