Isadora, assim como na guerra da aldeia, convenceu Mendes a ficar mais um pouco para o enterro. Por mais que não gostasse de Antônio, sentia-se um pouco culpada pela sua dor. Kaimbe, por outro lado, resolveu ficar, talvez para passar mais tempo com Isadora. A verdade é que ele ainda não sabia se ficariam juntos ao término da tarefa, e aproveitava cada instante que podia para estar com ela.
Quando a preparação começou, Isadora permanecia com o bebê enquanto Kaimbe e Mendes foram com alguns funcionários ajudar a limpar o barco e posteriormente, retirar o corpo de Aurélia.
O corpo foi colocado com cuidado na areia, onde uma grande máquina estava escavando. Quando o buraco alcançou a profundidade adequada, o trator foi desligado e o silêncio perdurou.
Aurélia foi baixada no fundo da terra, envolto em lençóis. Mendes, Kaimbe e alguns operários desciam o corpo enquanto os outros, incluindo Isadora com o bebê nos braços, observavam. Ouviam-se orações seguida de homenagens e murmúrios. Todas essas etapas do enterro, deixavam as lágrimas de Antônio cair enquanto o céu se abria.
Quando o corpo já estava coberto pela terra, Antônio ainda permaneceu desolado e de ombros curvados.
— As flores favoritas dela eram jasmins. — Ele se ajoelhou próximo à sepultura feita de tábuas e troncos. As mãos, tocando a terra.
— Quer que as colhemos para ela? — Perguntou Raimundo, que recebe um sinal afirmativo antes de selecionar alguns dos homens para buscarem-nas.
Os jasmins, eram pequenas flores brancas de perfume doce que foram coletados em abundância. Mas ao invés de jogá-las em cima da terra, como habitualmente se fazia, Antônio teve outra ideia.
— Quero jogá-las onde Aurélia se foi. Quero ir até o mar.
Essa fala causou um déjà-vu em Mendes, que lembrou-se dos enterros em Orla dos Ventos, todos com flores jogadas ao mar. Imaginou que ali tenha sido onde e quando a prática começou. Essas memórias lhe aqueceram ainda mais a vontade de levar seu Arthur interior ao próximo século.
— Precisamos ir agora — Mendes disse, olhando para Isadora e Kaimbe.
— É, vamos. — Ela moveu a cabeça para o bebê e depois levantou-a para Antônio, que estava mais afastado.
Toda cena ao redor era melancólica, o mar ao fundo embelezando o céu cinzento, as ondas batendo na margem, lembrando o ritmo dos passos que iam até Antônio. Quando o trio chegou, o homem estava de costas, observando o mar, onde logo embarcaria outra vez.
— Estamos indo. — Isadora anuncia.
— E para onde vão?
— Ainda não sabemos, para longe daqui.
O pescoço do Capitão girou para avistar Isadora antes do filho, quando o percebe, o sorriso que tentou formar se acaba antes de se estender por completo. Ele aproximou-se mais dela e, com a voz impregnada de emoção, diz:
ŞİMDİ OKUDUĞUN
O relógio de areia
Genç Kurgu"O Relógio de Areia" é uma obra de fantasia dramática que conta, de forma linear, a história de Arthur Menezes, um protagonista que cresceu aprendendo a viver da pesca e da carpintaria naval em uma cidade pequena e culturalmente rica. Embora Arthur...