— MAIS RÁPIDO!
Mendes fitou por sobre o ombro. Os vultos dos Perpétunos ganhavam terreno, em figuras negras montadas em cavalos que pareciam cuspir fogo e fúria. O vento, os seguia na selvageria, batendo nos rostos dos quatro, com seu hálito frio e o toque do perigo. As mechas balançavam ao ritmo do hino composto pelo medo. E entre as pernas, os cavalos, ganhavam velocidade por essas vidas, seus rabos ao vento como estandartes de uma batalha da qual não queriam fazer parte.
A paisagem borrava-se em tons de verde escurecido, com a lua velada por uma névoa traiçoeira. Mesmo sob os galopes, Isadora não desenlaçava os braços da própria vida, enquanto Kaimbe, representava o foco do homem que tomava as rédeas a sua frente.
Mendes, com as mãos doloridas e o olhar ferozmente fixo à frente, conduzia seu cavalo sobre o labirinto das árvores que mal enxergava. Os cascos retumbavam imparáveis, não podiam parar.
— Atrás de vocês! — Na cacofonia, Kaimbe alertou enquanto os Perpétunos, na escuridão, avançavam com um vigor infernal.
O ar estalou com os sons de caçadoras em disparo. Os segundo esticaram-se em infinitos cortes no ar. Mendes, esqueceu da própria dor ao assistir incapaz quando um dos projéteis encontrou seu alvo.
— Isadora! — Um estouro de pânico e a flecha já estava cravada. Seu corpo estremeceu, um grito agudo, e milagrosamente a mulher atingida não caiu.
— Separem-se! — Paulo gritou. Os dois cavalos, como se compreendendo a ordem, dividiram-se em direções distintas, quebrando a unidade do grupo.
— Não... Isadora — Kaimbe protestou, ao se perder ante os galhos.
Mendes sentiu o agarrar da mulher mais fortes, virou seu cavalo para a esquerda, adentrando uma trilha menos densa. A moça, ofegava como se fosse a qualquer momento desligar.
Atrás deles, o som dos inimigos, em um número reduzido, se dissipava em um jogo de gato e rato. O detetive, cujos olhos faiscavam com a sobrevivência do caçado, sabia que a pura velocidade não os salvaria. Ele precisava ser astuto, como os heróis das lendas que seu avô já lhe contou.
Então por sorte, ou talvez destino, eles encontraram ao longe um pequeno riacho coberto pela trilha esverdeada. Foi essa direção que tomaram. Com os pontos do trajeto encurtados, via-se as águas correndo, indiferentes ao drama humano, e Mendes enxergou ali uma chance de confundir seus perseguidores. Ele conduziu o cavalo para dentro da fraca correnteza, esperando que a água apagasse seus rastros. Gemendo de dor, Isadora mantinha-se alerta, escaneando as sombras.
Eles atravessaram o riacho, com o cavalo desenhando um caminho na água que logo se desfazia, e assim, a própria natureza conspirou para sua fuga. A sinfonia, gradualmente se tornou distantes, até que o som do riacho e o sopro do vento foram os únicos sonidos que restaram. O plano, por um fio de esperança e astúcia, funcionou. E os Perpétunos, por fim, sumiram de vista. A vitória ficou agridoce quando Isadora enfraqueceu seus dedos na cintura do guia. A lua, ficou clara no céu, como um olhar pálido sobre eles, iluminando o caminho à frente.
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O relógio de areia
Teen Fiction"O Relógio de Areia" é uma obra de fantasia dramática que conta, de forma linear, a história de Arthur Menezes, um protagonista que cresceu aprendendo a viver da pesca e da carpintaria naval em uma cidade pequena e culturalmente rica. Embora Arthur...