Segure a minha mão

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NOTAS: Algumas observações para vocês não ficarem perdidos. Whitman que é constantemente citado é um poeta do século XIX.  A data 4 de julho também citada é o feriado da independência nos EUA e equivale ao nosso 7 de setembro.

Os dois poemas apresentados neste capítulo são de Walt Whitman e E.E. Cummings

No fim do capitulo tem uma arte encomendada para este  capitulo

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O sol já havia se posto quando Lan Zhan chegou em casa. Ele estava esgotado, em todos os sentidos da palavra. Estava coberto de poeira, o que pouco contribuía para melhorar seu humor. Pelo menos a casa estava escura, e ele rezava para que isso significasse que ninguém ainda estivesse acordado. Lan Zhan achou que estava livre quando chegou ao seu quarto, até ouvir uma porta no corredor se abrir. Ele parou, virando apenas levemente a cabeça.

— Lan Zhan, onde você esteve? — Lan Huan sussurrou, seu tom baixo indicando que não queria acordar o tio deles. — Você sabe o quão irritado o tio está com você desaparecendo sem dizer uma palavra?

— Hmn — Lan Zhan respondeu secamente.

— Lan Zhan? — Lan Huan questionou, seu tom suavizando. A preocupação coloriu seu rosto enquanto se aproximava. — O que aconteceu?

— Eu — Lan Zhan começou. Sua mão apertando a maçaneta da porta. — Eu não quero falar sobre isso.

Ele girou a maçaneta de seu quarto e entrou. Fechou a porta atrás de si, apoiando-se pesadamente contra ela. Pelos rangidos das tábuas do chão, seu irmão estava parado em frente à porta. Ele estava grato por ter chorado todas as suas lágrimas a caminho de casa ou Lan Huan logo descobriria que seu irmão era uma atrocidade, um desviante, uma inversão.

Se desembaraçando de suas roupas sujas de viagem, procurou por sua cópia de "Leaves of Grass". Enquanto vasculhava seu quarto, um sentimento de afundamento se instalou. Ele fechou os olhos, a realização de que havia deixado seus livros no carro de Wei Ying. Incluindo a amada, surrada e bem usada cópia de "Leaves of Grass".

Certamente foi uma coisa boa o fato de ele ter chorado todas as suas lágrimas a caminho de casa, deixando-o apenas com a sensação oca da perda. Talvez fosse apenas mais um sinal dessa catástrofe de uma noite. Ele concordou com a aposta de Wei Ying para deixar de sentir da maneira como sentia. Ele sentia-se atraído por Whitman porque parecia que o homem estava colocando seus próprios sentimentos em palavras.

Talvez fosse hora de deixar Whitman para trás também.

Talvez fosse hora de deixar tudo para trás. Ele não precisava de palavras doces para sentimentos que não sentia pelas pessoas certas. Era apenas mais um obstáculo impedindo-o de engolir os planos do tio. Seria melhor se ele fosse oco, destituído de emoções.

Pelo menos impediria seu peito de doer por algo mais, por algo real.

Isso não o impediu de dormir demais.

Bem, mais precisamente, não o impediu de deitar em sua cama e ficar olhando para o teto.

Pela primeira vez em anos, Lan Zhan dormiu demais.

Não que ele tivesse dormido muito. Chegara em casa bem depois do anoitecer, coberto de poeira e decepção. Sentiu tudo naquela caminhada, a exaltação por finalmente sentir aquela faísca, raiva em relação a Wei Ying, em relação aos seus próprios sentimentos, suas frustrações. Decepção por ter permitido que Wei Ying o levasse tão longe. Então, o frio medo das consequências de suas ações começou a se infiltrar.

Louco por esse garoto (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora