Queria deixar isso claro

111 11 21
                                    

O gaúcho ainda estacionava a caminhonete quando o clique do desafivelar do cinto foi ouvido, Goiás estava ansioso para sair logo dali.

— Tá com pressa Goiás? — O barbudo cutucou. — Pelo menos dessa vez lembrou do cinto. — Sorria largo o encarando afiado pelo retrovisor.

O cantor torceu a cara desconfortável, não havia superado ainda a brincadeira de mau gosto e o segredo escandaloso que ouvira. Destravou a porta para sair. O trinco voltou a travar logo em seguida. Tentou novamente. Mesmo resultado. Encarou indignado o motorista. Rio Grande do Sul o encarava sacana pelo espelhinho.

— O qui foi agora? — O goiano foi obrigado a falar.

O loiro se virou o máximo que conseguiu em seu banco para o encarar de frente.

— Tchê, só pra tu saber, qualquer coisa que for acontecer, se acontecer, vai ser sempre muito bem esclarecida. — Olhava sério para ele. — Aquilo que eu e o Paraná sugerimos antes de entrar no carro só vai chegar a acontecer se todo mundo aqui concordar claramente. — Passou o olhar pelo seu namorado, que acenou afirmativo com a cabeça, portava um sorrisinho de canto. Desviou para Matinha, que sorria discretamente, ela sabia como os dois se comportavam eticamente, apesar de tudo. Voltou a encarar o goiano. — Não vou roubar a Matinha de ti guri. Nunca vai ser minha intenção. Se é pra acontecer vai ser com o conhecimento de todos os envolvidos. — Voltou-se novamente para frente, destravando as portas. Encarou Goiás pelo retrovisor e finalizou sua fala. — Queria deixar isso claro. — Abriu a porta e saiu.

Goiás precisava digerir aquela fala com mais calma depois, estava muito agitado para isso no momento. Encarava o vazio à sua frente.

— Resumindo. — Paraná emendou antes de sair do veículo. — Não te preocupa com a gente. Se rolar flerte é de brincadeira. — Olhou divertido para a mulher. — E eu sei que a Matinha gosta disso também. Néh chuchu? — O menor provocou com o apelido deles ao mesmo tempo que desembarcava do carro, logo batendo a porta.

Matinha apoiou a mão na perna do namorado, chamando sua atenção para si.

— Paraná tem razão viu Goiás. Si ocê mi vê daquele jeito cum eles num precisa di preocupá. — Abriu a própria porta e desceu, antes de fechar completou. — Ocê num vai levá chifre di verdade di mim não. — Piscou pro moreno. — Só di zuera. — Fechou a porta.

O cantor ainda estava estático no lugar quando sua porta foi aberta. Levou um pequeno sobressalto pela surpresa, estava absorto demais em pensamentos.

— Vai ficar até quando aí tchê? — Sul falou divertido. — Quer que eu te leve comigo pra casa? — O loiro sorria maroto, insinuando sobre a proposta anterior.

Rapidamente o goiano pula fora da caminhonete, em alerta de qualquer movimento suspeito dos sulistas. Só acalmou um pouco depois que já estavam a meio caminho da porta da empresa. Num ataque rápido leva um tapão de mão cheia na bunda.

— AI CARALHO! — Se virou indignado. É claro que tinha que ser o Sul ainda o incomodando. — Já num deu disso não?! Óia qui é assédio.

O barbudo ria alto da reação. Sem nem combinar Paraná alcança a cintura do cantor, o tocando indiscretamente onde conseguia alcançar.

— Claro que não néh! Agora temos que te convencer que não vai ser nada ruim aceitar nosso convite.

— MI LARGA LAZARENTO! Oceis tão si achando dimais da conta sô! Eu num tenho interesse nisso não!

— Já diziam o Minas e o Matin naquele dia. — Paraná continuou o atormentando. — Daí olha no que deu.

— Já deu mininos! — Matinha interrompeu a conversa. Enfiou o braço entre o namorado e o paranaense, os separando. — Podi dexá meu namorado im paiz agora. Sobre isso eu i ele ainda vamo cunversá. — Piscou para o goiano e em seguida encarou desafiadora Paraná. — Í ocê também tem qui vê si consegue fazê isso cum mulher. — Viu o menor encolher os ombros contrariado, era seu calcanhar de Aquiles daquele assunto. — Fora qui ocês tem otros assuntos na mesa. Óia quem vem ali. — Apontou com o queixo para o outro grupo que se aproximava.

Vinham na frente Maranhão, Pernambuco e Bahia, sendo seguidos por Norte e Alagoas conversando animados, Catarina e Paraíba em seguida e por último Sergipe, que parecia seguir todo mundo distraidamente, um pouco cabisbaixo talvez. Sem querer cruzou olhares com o Sul. Rapidamente desviou o olhar.

— Chegaram bem na hora dai! — Paraná falou em voz alta conferindo o horário.

— Oxente. Como se a gente fosse deixá o Gipinho se atrasar assim de graça. — Bahia respondeu divertida. — Eu sei que ele ainda tem bastante trabalho pela frente. — Olhou para RS. — Num é não minino?

O barbudo sorri desconfortável.

— Sim guria. — Desviou o olhar. — Mas ele está indo bem. Nesse andamento é capaz de acabar até antes do previsto.

— É mesmo? Então vamos comemorar quando acontecer.

— Se acontecer. — Pernambuco incomodou.

— Cale a boca. Meu minino é muito bem capaz de acabar tudo antes com a ajuda do Sul!

— É só ele não distrair. — Maranhão complementou olhando significativo para o gaúcho que estralou a língua irritado.

Norte se adiantou e colocou a mão no ombro do maranhense, num aviso silencioso.

— Ele não vai distrair. — Olhou para o namorado. — Néh Gipe?

O menor concordou com a cabeça, se mantendo calado.

— É.... Tá mesmo na hora. — Catarina comentou distraída. Estava de bom humor. — Vamos juntos pro escritório? — Perguntou para seus colegas de região.

— Claro guria. — Sul foi o primeiro a responder.

A loira enganchou o braço no de Sergipe o puxando para ir junto.

— Vamos também Gipe? — Ia passando pelo gaúcho quando decidiu o puxar com o outro braço. Os dois se deixaram levar para dentro. — Vem logo Paraná! — Falou por cima do ombro sem conferir se ele os estava seguindo.

O menor se aproximou do Norte enquanto ainda observavam o trio se afastar. Olhou em volta e falou baixinho.

— Tu notou?

— O que?

— ...Nada não. — Paraná estava pensativo. — Deve ser coisa da minha cabeça.

O potiguar apoiou a mão na cabeça alheia e bagunçou o cabelo do cunhado.

— Pode ser.... Tu tens a mente muito fértil hômi.

PR encarou o maior com malícia.

— Daí? Vai passar lá mais tarde?

Recebeu um sorriso de canto como resposta.

— Se tu quiseres Paranazinho. — Se abaixou um pouco, aproximando os rostos. — Eu te faço esse favor.

— Sorte sua que Bahia já foi embora visse. — Maranhão comentou em voz alta assustando os dois. — Não sei como isso ainda se sustenta como segredo na verdade. Com vocês fazendo esse tipo de coisa sem nem perceber.

Paraná empurrou Norte com força, olhando em volta com temor. Constataram que não tinha mais ninguém ali além dos três. O menor estava extremamente arisco tentando disfarçar a proximidade ao máximo, ainda não sabia que Maranhão sabia.

— Não sei do que tu tá falando piá!

Norte sobrepôs à fala do cunhado.

— É-é claro que eu conferi antes visse. Eu vi quando o pessoal foi embora.

O paranaense percebeu que o outro nordestino também guardava o segredo deles pela postura e forma de falar do RN.

— Aham claro. — MA olhava com desdém para eles.— Nossa.... É estranho ver vocês assim tão próximos. Parece mesmo é que estão traindo o Sul e o Sergipe.... — Recebeu olhares agressivos de ambos. — Mas isso não é da minha conta. — Levantou as mãos em defesa própria e foi se afastando de costas, logo se virando rumo ao elevador deixando os dois a sozinhos no hall de entrada.

RepetecoWhere stories live. Discover now