5. DAVID

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ALERTA DE GATILHOS:

Bifobia.
Alienação parental.
Problemas familiares.

.....

— Charlie...

Meu amor me olha, em seguida, sacode a cabeça.

— Desculpa, Nick — ele tomou a voz diante da minha, começando a falar. — Eu não devia ser tão enxerido...

Chegou a hora, não tem como fugir disso. Como sei, uma hora ou outra eu tenho que abrir essa porta para o meu namorado, para que ele veja o que tem escondido atrás dela.

— Não, Char, não precisa se preocupar — me encolho, indo de encontro a ele, pegando a sua mão e puxando-o para se sentar na cama junto comigo. — É que é um assunto não tão legal assim.

— Não precisa me dizer, se não quiser...

— Eu quero — sou incisivo, soltando o ar que estava preso em meu peito. — Eu e o David, o meu irmão, nunca fomos próximos, e isso ficou pior depois dele virar um adolescente chato e que queria ser sempre superior a mim, em tudo, muito embora eu fosse apenas um garoto que ainda tinha medo do escuro. Cada coisa que ele fazia, ele esfregava na minha cara, me dizendo que era melhor do que eu. Em tudo. Garotas, na escola, com os nossos pais, muito embora eu saiba que é apenas coisa da cabeça dele. Sempre estivemos no mesmo nível, era nítido, até a minha mãe dizia isso quando ele implicava comigo. Porém, em uma coisa ele quis se mostrar superior.

— Em que, Nick? — Charlie perguntou, segurando a minha mão.

— Na masculinidade.

Charlie arregalou os olhos, fazendo uma careta desacreditada com a boca. Abaixei a cabeça, tentando criar jeito para falar o resto.

— Embora eu nunca tenha respondido as mensagens que ele mandou, logo depois de eu ter me assumido bi e você, como o meu namorado, eu li pela barra de notificação. E, amor, ele foi um escroto — ergui o olhar para o Charlie, tentando achar o conforto que só ele me passa —, e isso foi o bastante para eu excluí-lo da minha vida.

— Não precisa dizer o que ele falou pra você, Nick — Charlie me surpreendeu com o seu abraço, puxando-me para ele, para o seu colo, seu calor. — Não precisamos falar mais dele, nunca.

— Obrigado, Charlie... — falei, abraçando-o. — Mas acho bom falar sobre o que eu li, só contei pra minha mãe.

— Tá bem, Nick.

— Ele perguntou se era verdade, se eu era mesmo... ele não usou a palavra bissexual, foi ofensivo. Depois começou a falar que restou a ele o nome e jeito de homem pra família, que, depois do papai, ele era o outro homem, que agora éramos uma família composta de dois homens e duas... mulheres.

— Que horrível — eu pude notar a voz trêmula do meu namorado.

— Sim — concordei —, por isso não quis ir com a minha mãe, não sei o que eu seria capaz se eu o visse.

— Você fez bem — Charlie disse, limpando os cantos dos olhos que estavam marejados. - Agora, vamos mudar de assunto — ele ergue, puxando-me com ele —, temos um forte de travesseiros pra fazer.

Sorri, engolindo o ar. Me surpreendo com o fato de eu não ter chorado contando isso tudo para o meu namorado. É ele, o meu amor, que me dá coragem para ser eu mesmo. Para ser o cara que sou. Ele.

— Sim, Charlie.

Continua...

Heartstopper: Forte de Travesseiros (um conto 🔞)Where stories live. Discover now