Capítulo VIII

450 85 21
                                    

A cada dia que passava eu me aproximava mais de Lizzie. A garotinha era extremamente carinhosa e eu não imaginei a intensidade do que as palavras de Sam naquele dia no parque significavam, até Lizzie começar a me procurar todas as vezes que ela acompanhava a avó e a tia nas visitas ao hospital. As ligações diárias começaram há algum tempo depois, em uma de suas visitas ela perguntou se eu me importaria se ela ligasse para conversar comigo e o sorriso foi de amolecer qualquer coração quando eu disse à ela que podia fazê-lo.

Lizzie me ligava todas as noites em videochamadas, perguntava sobre a mãe e passava algum tempo falando o quando sentia falta das histórias antes de dormir, do beijo de boa noite e da alegria de manhã ao acordá-la. Depois me contava sobre a escola, o que tinha aprendido de novo, sobre a aula de desenho enquanto mostrava alegremente seus traços na folha de papel, contava histórias sobre seus amigos e o quanto eles eram legais com ela.

Alex e Eliza não se incomodaram com a amizade repentina entre mim e Lizzie, o medo e a insegurança que me assombrava, desapareceu quando vi nos olhos e na suavidade das palavras, o respeito e a gratidão por abraçar a sobrinha e a neta delas com tanto carinho.

A verdade era essa, recebi Lizzie na minha vida, no meu coração com um carinho enorme, de forma genuína, espontânea, sem reservas. Lizzie tem o melhor de mim, pois com ela posso ser eu mesma.

Não preciso ficar me preocupando o tempo todo em manter uma pose, o ar de seriedade, me desdobrar para cumprir milhares de responsabilidades, Lizzie não vai me julgar se eu descer do salto, se eu me sentar no chão ou me esquecer dos problemas por algumas horas, ela vai me abraçar, abrir um enorme sorriso e sentar ao meu lado, pois com ela tudo é tão leve, tão natural, tão doce, tão cheio de bagunças e gargalhadas, nada é planejado e eu sinto aqui dentro que a criança dentro de mim aflora e tudo vira motivo para brincadeira, é fácil enxergar a menina feliz e sonhadora que fui um dia, através daqueles olhos brilhantes.

Depois daquela noite tensa pela piora no quadro de saúde de Kara devido uma infecção, sua temperatura oscilou durante a noite e início da madrugada. No dia seguinte, precisei interromper as visitas até que ela se recuperasse, não queria arriscar um agravamento da infecção, e apesar da família compreender a situação, Lizzie foi bem resistente.

— Ela perguntou de você ontem! — Sam quebra o silêncio. Nós duas estávamos almoçando no restaurante do hospital, um pequeno tempo livre em meio a nossa rotina agitada.

As visitas à Kara já estavam liberadas novamente, ela se recuperou da infecção há alguns dias e segue estável novamente. Lizzie havia se afastado depois que interrompi as visitas, foi difícil para a garotinha se afastar da mãe depois que autorizei algumas rápidas visitas durante a semana.

Não estava no hospital ontem, planejava algumas ideias para o hospital e algumas mudanças que em breve pretendo colocar em prática, mas mesmo distante soube que Lizzie esteve aqui com Eliza no horário de visitas.

— Ela está chateada, eu entendo! — levo o garfo com salada até a boca.

— Está assustada, nunca passou tanto tempo longe da mãe e em um dia podia visitá-la e de repente no outro não podia mais, isso a deixou com medo. — ela aponta o dedo pra mim — Você à deixou mal acostumada. — reviro os olhos

Estou a dias tentando encontrar o momento certo para conversar com Sam, contar a ela sobre quem é a mulher que conversávamos naquele dia, contar que me reencontrei com ela horas depois, contar que era a Kara, contar que ela esteve por perto esse tempo todo, dizer a ela que realmente me senti atraída naquela noite, mas que me apaixonei, pela vida, pela família, pela filha, pela mulher incrível que eu pude conhecer através das histórias que escutei, dizer que eu quero mais, quero poder conhecê-la através dela mesma, ouvir os sonhos, os medos, o amor pela filha, pela família e pela profissão. Quero que ela me olhe nos olhos e tente puxar um assunto aleatório, que se atrapalhe toda e tente consertar só pra piorar mais um pouco, e então aquela risada gostosa surgirá no ambiente de novo. Quero poder ouvir ela falar sobre Lizzie, enxergar o amor transbordar da mesma maneira que acontece com Lizzie quando ela me conta algo de sua mãe.

Waiting For YouWhere stories live. Discover now