Capítulo 1

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(Pai nosso que estás no céu... Eu cansei...)

[(Diário de pensamentos – Dia 3, Segunda-Feira) Por um momento, por um único segundo, eu jurei pra mim mesmo que eu conseguiria. Por um mísero instante, minha esperança voltou a brilhar, e eu até consegui ver a luz novamente, mas, foi tão rápido... Foi tão fraco... Foi tão distante... Que eu não sei dizer mais se era real...]

  — JOE! Desce logo! Sai desse computador e vem comer alguma coisa!

  A voz da mãe de Joe não parecia vir de muito longe, já que estava apenas um pouco abafada, o que também significa que ela estava no andar de baixo da casa, provavelmente na cozinha.

  O garoto, que estava sentado em uma pequena cadeira, olhando fixamente para as palavras que havia digitado na tela de seu computador e para o espaço em branco abaixo delas, pensou duas vezes antes de salvar o arquivo e se levantar, sem pressa alguma.

  Ele estava cansado. Ele se sentia pesado. Talvez fosse por ter passado as últimas duas horas apenas usando aquele teclado várias e várias vezes. Seus dedos não estavam doendo, mas, o seu pulso esquerdo incomodava um pouco, e isto o levou a procurar pela sua munhequeira dentro das duas gavetas do pequeno criado mudo ao lado de sua cama. Após alguns segundos procurando, ele se lembrou que no dia anterior havia a jogado dentro da máquina de lavar no andar de baixo, e, por conta disso, talvez estivesse molhada.

  — Droga...

  Ele não pôde evitar resmungar algumas coisas antes de aceitar a dor em seu pulso, e voltou a ficar de pé em frente a mesa de seu computador.

  Seu quarto não era grande. Também não era pequeno. Ele gostava de pensar que era um quarto mediano. Havia espaço suficiente para uma cama de solteiro, um criado mudo, uma pequena mesa com cadeira e um pequeno armário aonde guardava as suas roupas e alguns outros objetos.

  Por mais alguns segundos, ficou olhando a tela do computador, agora mostrando o papel de parede da tela inicial, que não passava de uma imagem de Photoshop da série preferida dele. Seu corpo quase se moveu novamente para aquela cadeira tão confortável, mas, ao ver as horas no canto inferior da tela, decidiu por caminhar um pouco.

  — Já são nove da manhã? Novamente eu acordei cedo demais e fiquei escrevendo... Qual é o meu problema?

  Se forçando a desviar a sua atenção do teclado do computador, ele se virou, e foi em direção ao armário de roupas. Não era como se quisesse uma roupa muito especial. Ele apenas queria tirar aquele pijama listrado do corpo, que, a propósito, achava muito confortável.

  — Aonde eu devo ir hoje? Na praça? Acho que eu posso me encontrar com eles lá.

  Enquanto puxava uma camisa azul do monte de roupas, juntamente de uma calça de pano preta, ele não pôde deixar de olhar para uma foto antiga, colada no fundo do pequeno armário.

  — Há quanto tempo, né?
 
  Por alguns segundos, Joe apenas observou aquela foto com um sorriso em seu rosto, admirando a lembrança que ela trazia.

  Duas crianças sentadas em um balanço de jardim; essa era a imagem da foto. Uma delas, sendo um garotinho pequeno, possuía o cabelo preto e olhos castanhos, o que era muito comum na família dele. Mas, a outra criança, era uma menina, de cabelos pretos também, mas, com uma condição especial em um dos olhos. Uma de suas pupilas, a da direita, era branca como a neve, e, por mais que existisse a deficiência em seu rosto, o seu sorriso acabava por ser mais brilhante que seus olhos.

  — Senhor... Aonde ela está?

  Como de costume, ele não esperava que alguém o respondesse, mas, ainda assim, fez a pergunta em voz alta, como se estivesse junto de mais uma pessoa dentro do quarto.

  Rapidamente, antes que seus olhos se tornassem mais pesados, ele se trocou, e deu uma última olhada no quarto, apenas conferindo se não esquecera nada. Seu celular estava em seu bolso, a chave de seu quarto e uma cópia da chave da casa também havia pegado, e, antes que saísse, desligou rapidamente o computador. Normalmente ele teria feito todo o processo correto para desligar o PC, mas, algo estava tirando a sua paciência, então ele apenas puxou o cabo da tomada, economizando seu tempo.

  Ao sair do quarto, um cheiro bastante agradável invadiu seu nariz, colocando em seu rosto, um breve e alegre sorriso.

  — Ela fez torta! E parece ser de maçã.

  Por mais que o cheiro delicioso o convidasse a descer as escadas que estavam no fim do corredor à esquerda da sua porta, ele se virou na direção oposta, indo em direção ao banheiro que estava a pouco mais de dez passos do seu quarto.

  Como de costume, a porta estava fechada e, quando tentou abrir, percebeu que estava trancada pelo lado de dentro. O que também acabou chamando a atenção da pessoa que estava dentro do banheiro.

  — TEM GENTE!

  Uma voz feminina saiu meio abafada lá de dentro, e, pelo tom, parecia está despreocupada com o tempo em que estava ali.

  — ANDA LOGO, CLOE! Não existe só você nessa casa!

  — QUEM MANDA VOCÊ FICAR TRANCADO NESSE QUARTO ATÉ TARDE?

  — Nove da manhã é tarde?

  Ao invés de continuar gritando, ele decidiu não gastar a sua voz atoa, então começou a falar em um tom pouco mais alto que o normal.

  — Todo mundo sabe que você deve tá acordado desde seis! Se queria usar o banheiro, deveria ter entrado antes!

  — Idiota...

  — O que você disse seu....

  — Se a mãe não fosse tão educada, eu já teria te mandado pra um lugar bem longe daqui.

  — Some daqui! Menino coruja.

  Não foi preciso pedir duas vezes e o jovem já estava indo em direção as escadas.

  — Por que eu sempre perco meu tempo com ela? Até parece que não tem outro banheiro na casa!

  Antes que começasse a descer as escadas, ele ouviu o barulho de porta se abrindo, acompanhada da voz de sua irmã.

  — Aqui, se a Maia e as meninas chegarem, avisa que daqui dez minutos tô pronta! Obrigado, bye, bye!

  A garota nem esperou por uma resposta, e voltou a fechar a porta novamente. Joe nem olhou para trás, e apenas continuou descendo cada degrau em seu ritmo lento.
 
  Com um tom de voz levemente irônico, Joe respondeu sua irmã, mesmo sabendo que ela não o escutaria.

  — Sim, senhora, Menina pavão.

A Escolha Certa - Um Romance Um Tanto Quanto Cristão Onde histórias criam vida. Descubra agora