Capítulo 2

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[(Diário de pensamentos – Dia 5, quarta feira) Não escrevi nada ontem porque acordei um pouco tarde demais pra isso, e, também não escrevi nada de noite, porque o meu dia foi mais do que normal, então não tenho nada a falar sobre ontem. Mas... Eu ainda não esqueci o que aconteceu segunda... Aquela garota realmente era ela... Parece até que “Ele” me escutou dessa vez...]

  Mais um dia estava para começar, e, como de costume, o garoto mal havia acordado do sono noturno e já pulou direto para o seu computador, passando algumas horas digitando em seu teclado, e ouvindo os sons que cada tecla emitia ao ser apertada.

  De início, a tela em branco o fez hesitar um pouco antes de escrever qualquer coisa, já que pensou muitas vezes sobre a primeira palavra que usaria.

  Assim que começou a digitar seus pensamentos, uma lembrança percorreu a mente de Joe, levando o seu foco para algo que havia acontecido alguns meses atrás.

  Já havia alguns anos desde que Joe adquiriu o hábito de escrever sobre seus pensamentos, ideias ou planos; pela manhã quando acordava, ou a noite, antes de deitar para descansar a sua mente.

  Todos de sua casa sabiam disso, e, apesar de sempre perguntarem o que ele tanto escrevia sem parar, ninguém nunca teve a audácia de quebrar a sua privacidade lendo qualquer uma de suas palavras sem a permissão prévia. Talvez seja por isso que ele nunca trancava o seu quarto, e apenas desligava seu Pc para economizar um pouco de energia.

  Uma vez.

  Apenas uma vez, ele acabou dormindo de uma hora para outra, e deixou a tela ligada, aberta em uma página não muito importante. Naquele dia, sua mãe havia entrado em seu quarto para conferir se estava tudo bem com ele, e, ao vê-lo dormindo em sua cama, apenas jogou o cobertor por cima de seu corpo.

  Mesmo que tenha sido sem querer, enquanto saía do quarto, ela acabou lendo uma ou duas frases do que estava escrito na tela.

  Bem...

  Não é como se ele houvesse escrito algum tipo de crime ou sonho nojento, mas, Joe se lembra de que sua mãe havia ficado um pouco estranha nos dias seguintes. Tanto que alguns homens e mulheres da igreja até foram em sua casa, com o pretexto de apenas estarem fazendo uma visita breve, mas, sempre acabavam a “visita”, subindo até o quarto do garoto e fazendo uma oração de alguns minutos juntamente dele.

  Logo de cara ele imaginou que ela pudesse ter lido algo em seu Pc, mas, também entendeu que se isso tinha acontecido, não havia sido por culpa dela. Felizmente, depois de alguns dias, a sua mãe o chamou em um canto da casa, e explicou toda a situação. Ela não parecia irritada, muito pelo contrário, parecia um pouco feliz, mas, bastante preocupada com ele.

  { Por que aquele homem com o microfone falou que um anjo ia descer na minha vida? Quem disse que eu quero mais alguém pra me incomodar? }

  Esta foi a frase que havia sido lida por sua mãe naquela noite. E esse era o motivo pelo qual tanta gente estava visitando eles naqueles últimos dias.

  Joe pensou que talvez não tivesse entendido algo importante, e isso poderia ter criado uma pequena confusão para si mesmo. Na verdade, o que ele sequer imaginava era que tudo aquilo era um pouco mais complicado do que parecia...

  A lembrança daquela pequena inconveniência deixou o garoto um pouco distraído enquanto escrevia, e, para não perder a noção do que estava fazendo, ele decidiu por se levantar e tomar um pouco de água para acalmar a sua mente, que agora estava começando a pensar em um terceiro assunto.

  — É sério isso?

  Como de costume, ele havia esquecido de encher a sua garrafa d'água antes de dormir; coisa que ele só fazia porque tinha ganhado uma garrafa especial que mantinha a água fria e fresca por mais tempo.

  — Ok, então! Vou ter que descer até lá embaixo!

  Antes de ir para fora do quarto, o garoto deu uma breve conferida no pijama que estava usando; de verdade mesmo, ele só queria ter certeza que não era o pijama rasgado.

  Pegando a sua garrafa e se dirigindo para a porta, Joe ouviu brevemente um zunido vindo da sua cama, e já com a mão na maçaneta, ele se lembrou que havia deixado o celular carregando no canto da cama.

  Ele até pretendia pegar o aparelho, mas, pensou que seria tão rápido a sua ida até a cozinha, que acabou por ignorar a notificação por um momento. 

  Passando pelo corredor do segundo andar e descendo as escadas para o piso de baixo, Joe não pôde deixar de achar estranho o silêncio que estava na casa. Não havia nenhum barulho que viesse de dentro da casa. Nada mesmo.

  Bem..

  Não é como se todo mundo avisasse sempre que ia sair de casa, então, ele simplesmente aceitou que todo mundo deveria ter saído antes dele se levantar.

  Já na cozinha, Joe foi direto para a geladeira principal (sim, eles possuem duas geladeiras aonde uma guarda sucos, frutas e qualquer outro alimento mais fresco, e, na outra, carne e congelados), e encheu a sua garrafa térmica com a água gelada que estava em uma jarra verde de plástico.

  Quando ele estava para sair do cômodo, duas coisas singulares chamaram a sua atenção.

  O relógio acima da porta, estava marcando sete da manhã, e isso o fez pensar que estava cedo demais para alguém levantar, principalmente porque estavam em época de férias.
 
  Mas, como toda a sua família, exceto ele, possuía certas obrigações com as coisas da igreja, Joe imaginou que alguma urgência poderia ter feito sua mãe e pai saírem apressados, e, bem... a sua irmã fazia muitas coisas sem o avisar...

  E, a outra coisa que não pôde evitar de olhar atentamente, foi o fogão da cozinha, que estava com uma das bocas ligadas em fogo baixo, mas, curiosamente, não havia nada em cima dela.
 
  Olhar aquela chama viva que saía da boca fogão levemente azulada, fez com que o garoto tivesse um leve arrepio, e um pensamento girou em torno de sua mente, que, felizmente, logo acabou descartando aquela ideia estranha.

  Após desligar o fogo, Joe também fechou o registro do botijão de gás, trazendo um alivio para si mesmo. Não é como se ele tivesse pensado na possibilidade de ocorrer algum tipo de desastre, mas, ao saber que não iria ter nenhum vazamento inesperado, ele já conseguiu deixar os seus pensamentos um pouco mais arejados.

  Saindo da cozinha, Joe conferiu a porta da entrada da frente da casa apenas para ter a certeza de estar trancada corretamente. Tudo estava perfeitamente trancado, e a casa continuava com aquele silêncio estranho.

  Logo, sem nada mais para se fazer no andar de baixo, ele seguiu em direção das escadas que levavam para o andar de cima.

  Enquanto subia os degraus da escada, Joe sentiu uma leve brisa passando por ele, soprando um vento suave e gelado em sua pele, fazendo um pouco de seu cabelo balançar.

  — Qual janela ficou aberta dessa vez?

  Ele até pensou em fazer o caminho contrário, voltando assim ao andar de baixo para fechar a tal janela, mas preferiu por continuar em frente, até chegar mais uma vez em seu quarto.

A Escolha Certa - Um Romance Um Tanto Quanto Cristão Onde histórias criam vida. Descubra agora