Capítulo 4

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  É estranho imaginar que, mesmo conectados por uma linha invisível, a gente consiga se sentir distante de alguém que é muito mais do que especial para nós; pelo menos era assim que Luna se sentia, quando, ainda no início de sua adolescência, se viu sem outra opção além de viajar para outro estado, sendo então forçada a dizer um “até logo” angustiado para todos aqueles com quem se importava.

  Sua mãe era quem levava sustento para dentro de casa, já que o “abençoado” homem que deveria ser o seu pai e responsável pelo lar, abandonara a ambas, quando a garota ainda era apenas um sonho no ventre de sua mãe. Com a ajuda de familiares e amigos, Carmem, uma mulher esforçada e com uma aparência invejável, conseguiu criar Luna desde seu nascimento até a sua adolescência, sem deixar faltar o essencial para a criança.

  No mês em que a garota fez treze anos completos, uma promoção inesperada agitou a casa de Luna, e até mesmo aos vizinhos ao lado. Carmem trabalhava como secretária em uma empresa de construção, mas, alguns anos antes de engravidar, ela conseguiu se formar em engenharia civil; não tinha conquistado a maior nota, mas, teve o suficiente para conseguir um diploma.

  A promoção consistia na evolução da profissão de Carmem, largando a mesa de telefones e agendas, para iniciar um estágio remunerado como engenheira na mesma empresa em que já estava contratada.

  Naqueles dias, Luna só conseguia ver um enorme sorriso no rosto de sua mãe, independente da onde estivessem. Até mesmo as coisas que esgotavam sua paciência, estavam sendo motivo de risos para ela. E Luna só possuía um desejo: que sua mãe finalmente conseguisse descansar. Ela pedia todas as noites para Deus, que o sorriso de sua mãe durasse toda a eternidade.

  Alguns dias após a notícia da promoção, Luna finalmente caiu em si. Um telefonema, que ela escutou por acaso, revelou a verdade oculta de que, para receber a tão sonhada promoção, elas teriam de se mudar para outra cidade. Uma cidade que ficava mais longe do que ela gostaria.

  Para Carmem, não havia um problema tão grande em se mudar, já que, apesar dos parentes e amigos, ela não possuía nenhuma raiz tão profunda que a prendesse naquela cidade. Ela também frequentava a igreja quando tinha algum tempo livre, mas, por conta de sua constante ocupação com seu trabalho, ela não conseguia ser alguém tão constante quanto a sua filha.

  Mas, para Luna, a história era um pouco diferente. Ela era responsável por bastante coisas na igreja apesar da pouca idade, sendo uma delas, auxiliar no grupo de jovens, como assistente dos dois líderes. Luna participava do coral dos jovens e até mesmo de algumas peças teatrais que aconteciam periodicamente, quando tinha algum evento paralelo às atividades da igreja.

  Para completar a preocupação dela, Luna não sabia como contar a notícia para os amigos que havia feito, e, muito menos para seu “irmão” Natan. Mas, ela também sabia que não havia uma segunda opção. Ou era aquilo, ou era aquilo.

  Obviamente, Luna ficou alguns dias irritada, mas, pensando no bem de sua mãe, ela se forçou a aceitar a viagem, imaginando que um dia ela iria reencontrar aquelas pessoas tão queridas novamente.

  Luna ficou um tanto quanto surpresa quando percebeu que foi mais fácil do que imaginava, contar a notícia para as pessoas com quem convivia diariamente.

  É verdade que algumas choraram um pouco, principalmente as crianças mais nova que ela, mas, todos tinham a mesma esperança de um dia se verem novamente quando já fossem crescidos.

  Foi mais complicado para Luna se despedir apenas de Natan, já que eles eram quase inseparáveis.

  — E quando você volta, Luna?

  O garoto, apesar de ser o mais chorão entre todas as crianças, estava se esforçando para não soltar todas as lágrimas que enchiam seus olhos.

  — Não sei.

  No dia em que se despediram, o céu estava tão lindo, e Luna o estava observando, sentada ao lado do garoto.

  — Pra onde que você vai se mudar?

  — Muuuito, longe!

  — Fica a quantas horas daqui?

  — Não sei. Minha mãe ainda não olhou isso.

  — Por que que a dona Carmem tá fazendo isso?

  — A gente precisa de dinheiro. E esse novo emprego vai ajudar com isso.

  — E se eu pedir meus pais pra te dar um pouco de dinheiro? Assim vocês podem ficar, né?

  — Natan, você sabe que não é bem assim que funciona. Os adultos são complicados, mas, eu sei que minha mãe precisa fazer isso.

  — Por quê?

  — Ao invés de ficar fazendo um monte de perguntas chatas, você podia olhar esse céu lindo comigo?

  — Eu não quero olhar pro céu. Eu posso ver ele todo dia!

  — Eu posso pegar o telefone da minha mãe, e a gente pode conversar todo dia.

  — É diferente. Eu não vou poder ver seu sorriso. Nem vou poder andar com você. Nem te abraçar mais. Você vai tá muito longe pra isso.

  — Você tá agindo feito uma criança!

  — Nós dois somos crianças. Você que tá tentando agir com uma adulta.

  — Às vezes você é bastante irritante. Por favor, só olha pra essas nuvens lindas por uns minutos, pode ser?

  — Tá bom.

  Será que é pedir muito que uma criança simplesmente aceite sem reclamar, que a sua melhor amiga vai embora? Talvez o pequeno Natan estivesse tentando entender aquilo tudo, ao mesmo tempo em que não queria aceitar o fato de que ficaria “sozinho”.

  Era óbvio que ambas as crianças queriam chorar.

  — Mas, a gente vai se ver de novo, né?

  Sem querer, o garoto deixou uma lágrima escorrer pelo seu rosto, que ele se apressou para secar com a gola da camisa.

  — O amanhã só pertence a Deus.

  — Isso é algo que nossos pais dizem, pra não assumirem que estão com medo.

  — É até engraçado que eu tô imitando eles, né?
 
  Mesmo triste, Luna tentou sorrir, para deixar o momento mais agradável.

  — Por que você tá rindo?

  — É estranho crescer. Dá um pouco de medo saber que um dia nós vamos ser adultos.

  — Pra mim, tanto faz.

  — Te conhecendo, acho que você vai continuar sendo uma criança pra sempre.
 
  Dessa vez, ela realmente riu com sinceridade.

  — Se você for crescer, então eu também quero crescer.

  — Posso te pedir um favor?

  — Depende.

  — Eu tô indo embora, e você vai mesmo agir como um idiota quando eu tô te pedindo algo importante? Você é mesmo um bebê chorão, Natan!

  — Desculpa, pode falar...

  — A gente vai ficar distante um do outro, e, talvez, a gente também não se fale por algum tempo, mas, me promete que não vai deixar de ser meu irmãozinho fofo?

  — Eu sou mais velho que você!

  — Mas chora muito mais que eu!

  — Nada a ver!

  Natan fez bico enquanto falava, como se ela o tivesse ofendido de alguma forma. Mas, aquilo só serviu apenas para que ela soltasse mais uma risada às custas dele.

  — Tá bom, “irmãozão”. Mas, você me promete então?

  — Sim.

  Ao responder, ele levou sua mão até perto dela, somente com o dedo menor levantado, esperando que ela fizesse o mesmo sinal.

  — Quando a gente se encontrar de novo, você vai continuar sendo a minha irmã preferida!

  — Sua irmã vai ficar com ciúmes.

  — Ela tem as amigas delas.

  — Você é meio egoísta às vezes.

  — E você? Vai me prometer o quê?

  Antes de responder o garoto, a pequena Luna ergueu sua mão direita, com o mesmo sinal que o garoto fazia, e enganchou seu dedo no dele, finalizando o juramento do mindinho.

  — Prometo que, quando eu voltar, não vou mais te deixar chorar, pode ser?

A Escolha Certa - Um Romance Um Tanto Quanto Cristão Donde viven las historias. Descúbrelo ahora