Capítulo 4.1

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  Luna, aos seus dezesseis anos, via em sua mãe o sorriso de uma mulher corajosa que, após muitas lutas e provas, finalmente havia alcançado um sonho de sua juventude. E ela se inspirava naquela mulher, garantindo que em tudo o que escolhesse fazer, usaria sempre todas as suas forças para que não houvesse nenhum arrependimento habitando em suas próprias memórias.

  A nova notícia entregue por sua mãe, de que, mais uma vez, ela recebeu outra promoção surpresa, trouxe memórias não tão agradáveis para a garota. Desde aquela primeira viagem na sua infância, as duas já haviam mudado de cidade pelo menos cinco vezes; basicamente uma vez ao ano, ela tinha que se despedir de qualquer amizade que pudesse ter feito em um curto espaço de tempo.

  Felizmente, Luna já havia se acostumado com toda aquela situação, e ao olhar pelo lado positivo, ela se via descobrindo pessoas diferentes, lugares diferentes, e igrejas diferentes, aonde cada uma delas, contribuiu de alguma forma para o crescimento da fé da garota. E, independente de para onde se mudassem, essa era sempre a sua primeira prioridade ao terminar toda a mudança: encontrar uma nova igreja, o mais perto possível de sua casa.

  E dessa vez não seria diferente.

  — Luna, pode me ajudar com essa caixa aqui?

  Carmem, vestida com uma de suas roupas de trabalho, estava ajudando a tirar algumas caixas de dentro do caminhão, e levando até a sala da nova casa onde seria o novo lar das duas mulheres.

  — Esse lugar não tem cupim não?

  Enquanto pegava uma caixa de papelão pequena e subia os degraus da frente da casa, Luna não pôde deixar de analisar atentamente cada tábua de madeira que formava as paredes da casa.

  — É óbvio que não né, boba. Quando esse tipo de casa é construída, eles passam uma espécie de tinta diferente para que cupins sequer cheguem perto da madeira.

  As caixas estavam quase acabando, e Carmem parou alguns segundos para respirar, enquanto observava a vista da rua, pela janela da sala.

  — O que você achou daqui, Luna?

  — Eu dormi o caminho todo, então não sei se o bairro é bonito.

  — Eu não diria que é o bairro mais atraente que já moramos, mas, com certeza, as ruas são bastante charmosas e aconchegantes!

  Carmem havia acabado de chegar naquela cidade, mas, ao falar, ela já parecia apaixonada por cada detalhe daquele lugar.

  — Tem muitos canteiros de flores espalhados pelos passeios; a maior parte das casas possuem cercas vivas, verdes como as folhas de uma floresta virgem; as casas, quando não são de madeira como a nossa, são feitas de tijolo de barro, ou pelo menos algo que simule isso, dando um toque mais simples ao lugar; e, até mesmos a iluminação daqui parece combinar com o ar tradicional que esse lugar emana!

  — Você ama mesmo coisas mais de época né, mãe?
 
  Luna não podia deixar de sorrir enquanto ouvia sua mãe falar com um tom tão apaixonado.

  — Como não amaria? É tão confortável lugares assim. Me lembra tanto da minha infância, onde meus avós me criaram em uma casa de campo...

  — Com direito a uma enorme fazenda de vacas e porcos, e muitos pomares de maçã, laranja, e tantas outras frutas que você nem se lembra do nome de todas né?!

  — E sabe por que eu me apaixono tão rápido por cada lugar que vamos?

  — Por que você é meio doida?

  — Nada disso, bobinha. É porque em todos os lugares, eu tenho você comigo!

  Assim que a garota deixou no chão a última caixa que carregava, Carmem se apressou para lhe dar um abraço bastante apertado.

  — Não... Não tô conseguindo respirar...

  — Ah, desculpa!

  Carmem afrouxou um pouco o abraço, deixando a filha mais confortável, e sorriu para ela
  — Te amo, minha pequena Lua.

  — Também te amo, mãe!

  — Agora que todas as caixas estão dentro de casa, você vai procurar uma igreja pra gente, né?

  — Você não quer ajuda pra desempacotar tudo não?

  — Pode ir. Eu vou fazer isso tão devagar, que quando você voltar, ainda vai ter metade de tudo para colocar no lugar.

  A mulher deu um beijo na testa da garota, abrindo seus braços para que ela pudesse sair.

  — Então tá bom. Só tenta não carregar muito peso sozinha!

  — Tá me achando com cara de velha?

  — Você não tem mais vinte e poucos anos né, mãe!

Carmem não tinha como não rir, apesar da verdade que sua filha acabara de falar.

  — Vai logo, antes que eu mude de ideia e te faça abrir todas essas caixas!

  — Tá bom. Tchau mãe! Daqui a pouco eu volto.

  — Se você conseguir achar uma hoje, agradece a Deus por mim também, viu!

  — Pode deixar, mãe.

  Luna pensou em se trocar antes de sair, já que estava usando o vestido esmeralda, que vestia antes de começarem a viagem de algumas horas entre uma cidade e outra. Mas, ao perceber seu reflexo em uma das janelas, e ver que estava com uma aparência agradável, decidiu por manter a mesma roupa e seguir em busca do que desejava encontrar; e, convenhamos, Luna não queria nem um pouco, procurar de caixa em caixa, até encontrar outra roupa que a agradasse.

  Assim que deu um beijo no rosto de sua mãe, como já havia acostumado de fazer sempre que saía de casa, Luna se apressou indo para o lado de fora e até mesmo pulou os dois últimos degraus da escada, que era outra mania que possuía desde a infância.

  Parada no pequeno jardim em frente a sua nova casa, a garota abriu um grande sorriso enquanto olhava para os lados da rua, decidindo para que direção iria primeiro.

  — A mãe sempre acerta, né! Esse lugar é realmente bonito, apesar de ser bastante tradicional.

  Tudo que sua mãe havia dito, era a mais pura verdade. Todos os detalhes simples, mas, únicos, formavam uma paisagem agradável a vista, que fazia com que Luna se imaginasse dentro daquela filmes de época, aonde todos se locomoviam através de carroças e carruagens belíssimas, com cavalos das mais variadas cores, mas, todos com uma imponência majestosa diante das pessoas.

  Diante daquele pequeno sonho que Luna teve, seus olhos voltaram a enxergar a paisagem verdadeira e, ao ver algumas crianças correndo do outro lado da rua, decidiu por ir até elas, para cumprimentá-las.

  — Que moça bonita!

  Luna mal havia dado oi para aqueles pequenos na sua frente, e uma garota de maria chiquinha a elogiou com um olhar alegre.

  — Obrigada, minha flor. Você também é muito bela. Vocês todos!

  Ao todo, haviam quatro crianças reunidas em volta de um desenho no chão que Luna pôde reconhecer como o jogo de amarelinha. O que era até um pouco nostálgico pra ela, já que fazia alguns anos que não se divertia com algo simples como aquelas crianças estavam fazendo.

  — Posso fazer uma pergunta rapidinho? Vocês por acaso sabem aonde fica a igreja mais próxima daqui?

  — A gente te mostra, só se você brincar com a gente!

  Um garotinho que parecia ter apenas uns seis anos de idade, se aproximou dela, entregando uma pedrinha branca na mão dela.

  — Tá bom, mas, peguem leve comigo, faz muito tempo que não brinco disso.



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  — Moça, o que é isso no seu olho?
 
  Uma das crianças, curiosa como já era de se esperar, apontou para o olho direito de Luna, que apareceu entre as franjas quando ela se abaixou para pegar a pedra, após jogá-la no desenho durante a brincadeira.

  — Ah, isso? Eu nasci sem poder enxergar com esse olho.

  —Dói?

  — Nem um pouquinho, Deus é tão perfeito que, apesar de eu não conseguir usá-lo, esse olho não me atrapalha em nada no meu dia a dia.

  — Ah, tá. Então você tá procurando uma igreja pra pedir Deus pra curar seu olho?

  — Por que você acha isso?

  — Meus pais, uma vez me disseram que a igreja é um lugar onde Deus cura os seus filhos.

  — Bem, isso é verdade.

  — Então é por isso?

  — Não, não, meu bem. Meu olho não precisa de cura, eu estou perfeita assim mesmo.

  — Mas não seria melhor se você ver com ele?

  — Talvez sim, mas, eu não quero ser curada apenas pra eu me sentir melhor.

  — Como assim?

  — Quando você crescer você vai entender melhor, mas, resumindo, eu me sinto bem sabendo que esse pequeno “detalhe” pode acabar ajudando alguém outro dia.

  — Tá bom, moça.

  — Luna. Meu nome é Luna.

  — Que nome lindo. Meu nome é Diego.

  — O meu é Joana. Mas todos me chamam de Jô. – (esta era a menina da maria chiquinha).

  — Eu sou a Ana.

  — Eu sou a Carol.

  — É um prazer conhecer tantas crianças lindas! Agora, vocês podem me mostrar onde fica a igreja?

  —Você vai ficar irritada com a gente?

  Ana, enquanto mexia em seus cabelos negros, parecia querer se esconder dentro deles.

  — Por quê?

  — A gente não sabe dizer como chega lá...

  — Nossos pais nos levam de carro, então a gente não lembra o caminho.

  Diego acabou completando o que Ana falava, quando a mesma se calou, envergonhada.

  — A gente só disse que sim, porque a gente queria mais alguém pra brincar com a gente.

  Jô começou a mexer em uma das tranças de seu cabelo, também envergonhada.

  — Desculpa.

  Nesse momento, todas as quatro crianças responderam ao mesmo tempo.

  — Como eu poderia ficar irritada olhando para esses rostos tão fofinhos?

  Enquanto falava, Luna apertou levemente a bochecha de cada um, que sorriram de volta, envergonhados.

  — E vocês não são os primeiros a fazer isso comigo, então eu já tava imaginando que isso ia acontecer. Na próxima vez, é só me pedirem que eu brinco um pouco com vocês, ok?

  — Ok.

  — Pelo menos vocês sabem para qual lado eu tenho que ir?

  Luna não esperava que nenhuma das crianças soubesse a direção certa, mas, não pôde deixar de rir, ao ver três delas apontarem para um lado, enquanto uma apontava para o outro, mas rapidamente corrigindo a sua mão, ficando igual as outras.

  — Obrigado, meu anjos. Depois a gente brinca mais.

  Antes de seguir sua caminhada, a garota deu uma abraço em cada uma das crianças, e seguiu em busca da igreja que eles apontaram.

A Escolha Certa - Um Romance Um Tanto Quanto Cristão Where stories live. Discover now