TRÊS ANOS E MEIO ATRÁS

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Suíte de "Illya Makhachev". Ibiza, Espanha.
Aprox. 38° 52' 59.3868" N, 1° 24' 17.226" E


Intrigante. Esse foi o primeiro adjetivo que Illya usou para caracterizar Francesca nas primeiras horas de conversa. No jogo de luzes, percebeu sua maturidade por trás de suas palavras e pela forma como se portava. Caso não revelasse por trás de algumas sentenças o quanto viveu, lhe daria vinte anos a menos.

Não sabia se era por questões de genética ou se fosse obra dos melhores cirurgiões plásticos. O cabelo descolorido realçava o leve bronze de sua tez alva, os seios eram içados, talvez preenchidos com silicone e seu gosto em roupas gritava uma vadia viciada em sexo. Porém havia algo diferente em seu entorno.

Eram os olhos inteligentes por trás das sutis rugas de expressão? Os risinhos suaves e excitantes? O quanto de suas primeiras impressões eram verdades e o quanto eram mentiras?

Ela também mostrou um desejo insaciável pelo controle. Praticamente exigiu dirigir seu conversível e, entre as ruas iluminadas e o os ventos frigidos de uma Ibiza noturna, ela testou o rugido do motor de seu carro alugado.

Ele gritou, xingou, vociferou palavrões. Ela gargalhou, não indicando se entendeu ou não a mensagem oriunda de seus berros ensurdecedores. Seria uma compensação?

As surpresas daquela noite não pararam.

Na volta ao hotel, ela estacionou próximo a praia e iniciaram uma singela caminhada, descalços, pela areia morna, com os grãos dela afundando um pouco sobre seus pés. Com os saltos nas mãos, Francesca rodopiou um pouco e ele pode sentir novamente o coração bater um tanto mais forte.

Não sabia se ignorava o sentimento ou se o abraçava. Era a primeira vez dele fora das amarras cruéis de sua família e amigos. A primeira vez em uma boate como a Santamaria, a primeira vez que lhe permitiam um pouco de liberdade. O ar chegava até ser mais puro, limpo e aconchegante, por mais frio que fizeste.

- O que você faz Fran? - Pigarreou. - Posso te chamar de Fran, não é mesmo?

- Pode. - Ela sorriu de maneira elusiva, como se quisesse dar um mistério a mais sobre sua vida. Cativante... - Eu sou o terror de sua profissão.

- Não creio. O que pode ser o terror de um banqueiro? - Ele manquitolou na areia, quase caindo antes de tirar os caros sapatos. Presentes irrecusáveis de um chefe tão carinhoso quanto perigoso. - Só se for uma auditora fiscal.

Quase gargalhou da própria piada. A brisa cortante acariciou ambos de forma insólita e cruel, levando para longe seu chapéu panamá e causando arrepios na mulher que caminhava a frente.

Ela havia deixado seu casaco de couro no carro, assim, Koji como todo cavalheiro se desvencilhou de seu blazer e a puxou para seu quente abraço.

- Obrigada. - Ela aninhou. Por mais que fosse um pouco mais alta, a cabeça dela cabia perfeitamente em seus ombros. - Em resposta a sua pergunta, sou uma liquidante corporativa.

- Ah...

Ele entendia perfeitamente agora a causa pela qual ela afirmou ser o terror de um banqueiro. Francesca era a pessoa designada para encerrar as atividades de uma empresa insolvente. Uma das profissões mais odiadas e bem pagas do mercado.

Imaginou Fran caminhando pelos corredores de sua empresa, demitindo funcionários e vendendo seus ativos para que sua financeira pagasse suas dívidas com os credores. Claro, além de jogá-lo no olho da rua.

Por mais linda que ela fosse, ele a veria como o demônio.

- Você é a pessoa que ninguém gosta.

- Eles raramente têm a chance de me conhecer.

Instintos Criminais [Em Hiatus]Where stories live. Discover now