Capítulo 45

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No dia 27 de agosto, volto ao trabalho.
Minha chefe está de férias, o que me dá uma trégua. É bom demais estar longe do seu veneno. Luan também não está e eu sinto falta de suas piadas. Mas meu desânimo é tamanho, que quase prefiro que ninguém venha falar comigo.
Cada vez que olho na direção da sala de Gustavo ou entro no arquivo, morro de tristeza.
Impossível não pensar nele. Nas coisas que me dizia, no que fazia comigo ali, e tenho que me segurar muito para não chorar.
Meus amigos não saíram de férias, e marco com eles um cinema ou vamos tomar umas cervejas de tarde depois da academia. Meu grande amigo Mateus tenta conversar comigo, mas eu não tenho vontade. Não quero lembrar o que aconteceu. A presença de Gustavo no meu coração ainda está muito forte e, enquanto eu não o esquecer, sei que minha vida não voltará ao normal.
No dia 31 de agosto, recebo uma mensagem de Vetuche. Por acaso está em Madri até 4 de setembro e vai ficar, como sempre, num hotel perto da minha casa. Combinamos de nos encontrar.
Eu o levo uma noite para jantar na Cava Baja, e em outra ocasião vamos a um restaurante japonês. Nesses dias marco com meus amigos e saímos todos juntos para beber depois do jantar. Para minha surpresa, vejo que Vetuche se dá bem com minha amiga Salu e isso me alegra. Ele cumpre sua palavra. Comporta-se como um amigo e fico agradecida por isso.
No dia 3 de setembro, minha chefe, Luan e quase todos os funcionários da Müller reaparecem. O ritmo volta a ser frenético e, quando vou ver, minha chefe já me afogou num mar de papéis outra vez. Luan voltou animado das férias. Me conta histórias enquanto trabalhamos, o que me faz rir. O telefone interno toca, e minha chefe pede que eu vá à sua sala. Vou logo.
— Sente-se, Ana Flávia. — Obedeço e ela continua: — Como você deve se lembrar, a viagem do senhor Mioto às sucursais da Müller pela Espanha teve que ser adiada para depois de setembro, certo?
— Certo.
— Pois então. Falei com o senhor Mioto e as viagens serão retomadas.
Meu estômago se contrai e fico inquieta. Ouvir falar dele deixa meu coração a mil. Ver Gustavo de novo é o que preciso, embora eu saiba que não é o mais recomendável para mim.
— Quero que você prepare os dossiês relativos a todas as sucursais. Mioto quer começar a viagem nesta quarta-feira.
— Está bem.
Fico parada. Na quarta-feira vou vê-lo. Estou quase gritando como uma louca, até que minha chefe diz:
— Ana Flávia, vamos... não fique aí parada como uma pateta.
Concordo com um gesto de cabeça. Me levanto, mas, quando vou sair da sala, ouço minha chefe dizer:
— A propósito, desta vez sou eu que vou acompanhar o senhor Mioto. Ele mesmo me pediu isso ontem quando nos reunimos no Villa Magna.
Ouvir isso é como levar uma surra. Gustavo está em Madri e nem se dignou a me procurar.
Minhas ridículas ilusões de voltar a vê-lo se dissipam de uma só vez, mas consigo sorrir concordando. Quando saio da sala, sinto as pernas fraquejarem e vou logo para minha mesa.
Luan percebe.
— O que você tem?
— Nada. Deve ser o calor — respondo.
Quando saio do escritório, estou desnorteada. Me sinto ofendida. Furiosa e muito chateada. Pego o carro no estacionamento e, sem saber por quê, me dirijo à avenida Castellana. Ao passar em frente ao hotel onde Gustavo está hospedado, olho para lá, entro em uma das ruazinhas transversais e estaciono. Como uma idiota, vou até o hotel, mas não entro. Fico parada a poucos metros da porta sem saber o que fazer.
Durante uma hora, minha mente ferve e eu tento me acalmar, até que, de repente, vejo seu carro se aproximar. Para na porta do hotel e de dentro do automóvel saem Gustavo e... Kemelly Garcia! Ambos sorriem, parecem se entender muito bem, e se enfiam no hotel.
O que Kemelly está fazendo em Madri?
O que Kemelly está fazendo nesse hotel?
As respostas se atropelam umas às outras e, furiosa, vou registrando todas elas. Chateada com o mundo e perplexa com o que vi, pego o carro e me dirijo ao hotel onde sei que provavelmente Vetuche está.
Chego e subo direto ao seu quarto. Quando ele abre a porta me olha surpreso.
— Não me diga que tínhamos marcado alguma coisa e eu esqueci?!
Não respondo. Me jogo em seus braços e beijo sua boca. Nem preciso dizer que ele, ao ver minha empolgação, fecha a porta. Continuo beijando-o enquanto ele tira meu blazer e depois desabotoa a calça, que cai no chão.
Decidida, me penduro nele e Vetuche me atira na cama e murmura enquanto abro com desespero o botão de seus jeans:
— O que você está fazendo, Ana Flávia?
Não respondo. Preciso extravasar a fúria que tomou conta do meu corpo. Ao me ver tão fogosa, ele arranca a blusa pela cabeça e volta a me beijar. Mas, se afasta um pouco de mim e diz:
— Ana Flávia... está acontecendo alguma coisa? Não quero que depois você...
— Vetuche... cala a boca e me come.
Ele fica paralisado por alguns segundos, mas seu desejo por mim o faz reagir e não pensar em mais nada. Sem dizer mais nada, tira a calça e a cueca, e vejo que já está pronto para me possuir. Respiro com irregularidade, e o calor sobe por todo o meu corpo. Então me lembro de uma coisa.
— Me dá minha bolsa.
Sem hesitar, Vetuche me entrega e, enquanto eu pego o vibrador que Gustavo me deu, ele coloca um preservativo.
Tira minha calcinha.
Enfia os dedos pelo elástico da calcinha e a retira com cuidado, quando de repente nota minha tatuagem e sussurra:
“Peça-me o que quiser.”
Gustavo! Gustavo! Gustavo!
Fico nua da cintura para baixo e murmuro enquanto abro as pernas:
— Olha pra mim, por favor.
Atônito, faz que sim com a cabeça, ainda surpreso com minha tatuagem. Ligo o vibrador e o coloco onde sei que vai me dar prazer. Instantaneamente meu corpo reage e respiro ofegante. Fecho os olhos e sinto que é Gustavo quem está diante de mim e não Vetuche.
Gustavo... Gustavo... Gustavo...
Vou curtindo a sensação do vibrador no meu clitóris, solto um gemido e fecho as pernas com o prazer chegando. De repente, duas mãos me tiram da minha fantasia particular e abro os olhos. Vetuche, excitado, se enfia entre minhas pernas e entra em mim. Grito e ele suspira. Sinto meu corpo preenchido e eu o escuto gemer.
Estou tão descontrolada, com tanta vontade de esquecer tudo, que aumento a potência do vibrador, grito e me encaixo nele. Vetuche, ao ver isso, tira o vibrador das minhas mãos, me segura pelas coxas e toma meu corpo, várias vezes sem descanso, com movimentos certeiros, enquanto meu orgasmo vem e quero mais. Preciso de mais. Preciso de Gustavo.
Penso nele. Em como me faz vibrar com suas ordens, até que sinto Vetuche envolvendo minhas costas com suas mãos e, num movimento, me erguendo da cama e me apoiando contra a parede. Sua boca procura a minha e me beija enquanto ele pressiona nossos corpos um ao outro.
— Ana Flávia...
Transtornada, eu o encaro com os olhos cheios de lágrimas. Ao ver meu estado, sinto que ele se detém.
— Não para, por favor... agora não.
Retoma o movimento. Dentro... fora... dentro... fora. Enquanto isso, me sinto presa contra a parede e chego ao clímax. Me entrego a ele com fúria. Grito o nome de Gustavo e, quando gozamos juntos, sabemos que o que eu tinha ido procurar ali acaba de acontecer.
Tudo chega ao fim e eu continuo entre seus braços por alguns minutos. Me sinto péssima. Não sei o que fui fazer e, principalmente, não sei por que fiz. Quando Vetuche me solta, vou ao banheiro sem olhar para ele. Me limpo, lavo o rosto e me olho no espelho. O rímel borrado me deixa com uma aparência deplorável. Minha cara não poderia estar pior.
Cinco minutos depois, mais refeita, saio do banheiro e Vetuche me espera vestido sentado na cama. Vejo o vibrador e, sem dizer nada, pego e guardo. Depois lavo em casa. Me visto e sento diante dele. Devo-lhe uma explicação.
— Vetuche... não sei como te explicar isso, mas primeiro eu queria te pedir desculpas.
Ele concorda com a cabeça e me olha.
— Desculpas aceitas.
— Obrigada.
Nos olhamos por alguns segundos.
— Você sabe que eu adoro o que acabamos de fazer. Gosto muito de você e, por mim, passaria o dia inteiro te beijando e...
— Vetuche, não torne as coisas mais difíceis, por favor.
— Essa tatuagem é por causa dele, né? — pergunta de repente.
— É.
Em seu olhar percebo que ele quer me dizer um monte de coisas.
— Não gostei do motivo que te trouxe aqui. Você não veio porque queria ir para a cama comigo. Nem porque queria me ver. Se você até disse o nome dele enquanto estávamos transando. Merda!
— O quê?!
— Você disse o nome dele.
— Ai, meu Deus, desculpa!
— Não. Não peça desculpas. Com isso entendi bem por que você veio aqui.
— Estou com tanta vergonha... Não sei por que escolhi você pra fazer isso. Podia... podia...
— Olha, Ana Flávia... — diz, pegando minhas mãos —, prefiro que você tenha vindo aqui, mesmo pensando em outro, a que você fizesse uma loucura com qualquer um.
— Ai, Deus... estou mesmo ficando louca! Eu... eu...
— Ana Flávia, eu te prometi que não voltaria a falar desse homem e não quero falar. Você sabe o que penso dele e nada mudou. Só espero que você própria se dê conta do que você está fazendo e por quê.
Estou de acordo. Me levanto para ir embora e ele me acompanha. Quando chego à porta, Vetuche me pega pela cintura e me beija. Me beija apaixonadamente.
— Você sabe que vai me ter sempre, né? — diz quando se afasta.— Mesmo que seja pra me usar como objeto sexual.
Dou um soco nele de brincadeira e sorrio. Instantes depois, saio do quarto aturdida.
Quando estou indo pegar o carro, penso em meu amigo Mateus e decido ir agora mesmo até seu estúdio. Ao me ver, ele fica logo preocupado com meu estado. Não sabe o que está acontecendo comigo, mas sabe, sim, que estou precisando conversar. Me convida para jantar.
Nessa noite, Mateus demonstra o excelente amigo que é. Não conto que Gustavo é o meu chefe, nem falo de nossas intimidades. Isso eu não quero que ele saiba. Mas o resto, a relação estranha que cultivamos, eu lhe explico. Após me escutar, Mateus me aconselha a deixar meu orgulho de lado e diz que, se estou com tanta saudade, devo tentar falar com ele, porque fui eu que me afastei. Ele tem razão. Ao chegar em casa, ligo o computador e mando um e-mail para Gustavo.

De: Ana Flávia
Data: 3 de setembro de 2012 23:16
Para: Gustavo Mioto
Assunto: Está melhor?
Oi, Gustavo, sinto muito ter ido embora daquela forma. Fui impulsiva e te peço desculpas. Espero que esteja melhor. Eu poderia te ligar, mas não quero incomodar. Por favor, me responda e me dê uma chance de te pedir desculpas olhando nos olhos. Você faria isso por mim?
Amo você e sinto sua falta. Mil beijos.
Ana.

Escrevo essas palavras e envio em seguida. Por mais de três horas espero a resposta. Sei que ele leu o e-mail. Sei que, no hotel, seu computador terá apitado, avisando que ele recebeu uma mensagem. Sei de tudo isso e sofro por isso.

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Continua........☆

Peça-me o que quiser, miotela ✔️Où les histoires vivent. Découvrez maintenant