Capítulo 64

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Na segunda-feira, quando chego ao trabalho, fico sabendo que Gustavo, meu suposto namorado, voltou para a Alemanha. Foi embora e não me avisou.

Maraisa, sua secretária, está empolgada porque ele pediu para ela se encontrar com ele na quarta-feira nos escritórios de Munique. Isso me tira do sério. Saber que ele foi embora por não querer me ver nem falar comigo me deixa arrasada. E, cada vez que olho para as caixas embaladas, me dá um nó na garganta.


Os dias vão passando dentro do possível. Não ligo para ele. Não mando e-mails. Resumindo, não vivo. Eu lhe disse que, se fosse embora, teria de assumir as consequências, e sou uma mulher de palavra. Mas tenho que falar com ele. Preciso disso.


Escrevo um e-mail para a tal de Thay ou Thaynara, mas ela não responde. Compro um celular e coloco o chip do telefone em que tenho o número dessa sem-vergonha, mas ela não atende.

Ligo para Criss, e ela também não atende. Estou de mãos e pés atados e não sei o que fazer. Nem como provar a Gustavo que o que ele pensa de mim é mentira.


Minha chefe tem sido simpática comigo esses dias. Continuo sendo a namorada do chefão e percebo que ela não me enche de trabalho como fazia há alguns meses. Agora até fico entediada.


Na semana seguinte, quando chego ao escritório na segunda-feira, me surpreendo ao ver Gustavo na sala dele. Meu coração dispara. Minhas mãos começam a suar e acho que vou ter um troço.

Caminho pelo departamento para que ele me veja. Sei que me viu. Mas, como ele não me liga nem faz nada para falar comigo, resolvo tomar a iniciativa.
Quando abro a porta da sua sala, Gustavo me olha de um jeito duro.


— O que deseja, senhorita Castela?
Fecho a porta. Meu coração está a mil. Vou até sua mesa e murmuro:
— Fico feliz em saber que você voltou.


Me olha... me olha... me olha e finalmente repete com uma expressão neutra:
— O que deseja, senhorita Castela?
— Gustavo, a gente precisa conversar. Por favor, você tem que me escutar.


Com um olhar implacável, ele se recosta na poltrona.
— Já deixei muito claro que eu e a senhorita não temos mais nada a falar. E agora, por gentileza, volte à sua sala antes que eu perca a paciência e a coloque no olho da rua, como está merecendo.


Meu corpo acusa o golpe. Ah, não... isso não vai ficar assim. Quero gritar. Quero dar um chute nele e não aceito que me trate com tanta frieza. Mas, como preciso que ele me escute, faço um esforço para engolir o orgulho.


— Senhor Mioto, gostaria que o senhor ouvisse o que tenho a dizer.
— Saia da minha sala — diz sem alterar sua expressão — e atenha-se à sua tarefa, que é trabalhar para mim e para minha empresa.


A porta é aberta, e Maraisa entra com um café. Ela nos observa e, quando faz menção de nos deixar a sós, Gustavo diz:
— Maraisa, fica aqui pra gente terminar o que estava fazendo. A senhorita Castela está de saída.


Me revolto e insisto:
— Pelo amor de Deus, Gustavo, quer fazer o favor de me dar um minuto?
Ele se levanta. Está superelegante com esse terno preto. Apoia-se na mesa e diz, olhando nos meus olhos:


— Saia da minha sala imediatamente.
— Não.
— Quer ser demitida?


Maraisa faz uma cara cerimoniosa toda sem jeito. Olho para ela e digo furiosa:
— Por favor, sai da sala. Já!
Ela obedece sem hesitar.

Gustavo solta um palavrão e, quando ficamos a sós, eu tomo coragem, ponho para fora o gênio que meu pai diz que é idêntico ao da minha mãe, e digo:
— Você pode me expulsar, pode me demitir, mas não pode me calar.
— Não quero te ouvir. Já disse que...

Peça-me o que quiser, miotela ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora