010² • PENSANDO ALTO

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• PENSANDO ALTO •







Talvez — e só talvez — ter trago Letitia para a missão tenha sido uma péssima ideia.

Kara fez questão de declarar isso no momento em que a porta pra cabine do capitão se abriu com violência e nós mal vimos quando ela se lançou para a balaustrada e passou as duas horas seguintes se dividindo entre me xingar e vomitar.

Trazer Kara talvez também tenha sido uma péssima ideia, mas, pelo menos isso, não foi intencional.

A ratinha me seguiu durante a madrugada enquanto eu tirava Letitia da enfermaria e levava até a praia, onde o barco que pedi ao meu pai estava me esperando.

Eu pedi à Kara que me desse trinta bons motivos para levar uma campista que não chegou ao acampamento para uma missão. O primeiro que ela me deu foi que Jackson saiu em missão no seu quarto dia no acampamento. O segundo foi que eu a devia por ter enfiado um garfo na mão do irmão gêmeo dela. Disse à ela, então, que pensasse nos outros vinte e oito durante a viagem e que me ajudasse a cuidar de Letitia.

Ela não fica mareada, o que já é um bônus em compensação à Letitia, mas também não sabe ficar de boca fechada, o que, é claro, só nos coloca em situações horríveis.

— Não trouxe uma peça de roupa pra mim? — minha garota questiona, sentada num banco no convés, a cabeça entre os joelhos. — Me trouxe pra um maldito barco e nem pensou que eu poderia precisar de roupas, Clarisse?

Ela está irritada. Muito. Mais até do que está enjoada, mesmo que sei rosto não demonstre.

Kara bufa uma risada de onde está recostada no ferro da balaustrada.

— Essa é a melhor amiga da Éden?

Letitia ergue a cabeça, lentamente, e dirige um olhar frio à Kara que eu agradeço por não ser direcionado à mim.

— Algum problema com isso? — pergunta.

— Não — a mais nova responde, na defensiva. — Eu só achei que estaria mais interessada em saber da Éden ao invés de ficar reclamando de não ter roupas.

— Kara... — resmungo em aviso.

— Deixa, Clarisse — Letitia ergue a mão, e apoia os cotovelos nos joelhos quando olha pra Kara. — Me diz, Lews, como você acha que é ser filha de Hades?

Minha meia-irmã dá de ombros.

— Sombrio? Um pouco fúnebre, talvez?

Os lábios da minha garota se esticam.

— Tudo isso e mais um pouco — responde e leva a mão pra tirar os cabelos do rosto. Agora, depois de dias adormecida, ela tem quatro dedos de raíz loira aparecendo, o que é curioso já que seu cabelo continua do mesmo tamanho, como se a tinta estivesse desbotando. — Pode ser difícil para aqueles que não sabem controlar o poder, mas também é muito fácil se deixar ceder pelo que as sombras te oferecem.

— Tá — as sobrancelhas finas de Kara se erguem. — E daí?

— E daí que eu não preciso saber como a May está desde que eu não a sinta entrando na fila para aguardar julgamento.

Vejo Kara engolir em seco e não posso evitar fazer o mesmo.

Quando eu entrei na enfermaria pra levar Letitia, Éden May estava acordada e deitada ao lado da amiga na cama.

Ela me olhou por um segundo, o rosto ainda colado ao ombro da filha de Hades e o braço em volta de sua cintura. Para a mochila nos ombros, o bracelete de Letitia no antebraço e a expressão determinada. Tirei minha garota de lá depois de prometer à minha irmã que só voltaria para o acampamento com ela viva e curada. Prometi pelo Rio Estige.

did i mention • clarisse la rueWhere stories live. Discover now