011² • QUATRO

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• QUATRO •















A moeda está girando entre os meus dedos, a esfígue dourada de Zeus brilhando à luz do sol da manhã enquanto eu encaro o arco-íris feito pelo cristal refletido pela luz do sol, enquanto repenso a ideia de ligar para minha melhor amiga e pedir conselhos.

Clarisse levou Kara para o arsenal, dizendo que ensinaria à sua irmã mais nova como se realmente afiava uma espada de verdade para me deixar a sós com May.

Só que eu não sei se May realmente vai me ajudar com o que eu preciso lidar agora. Ela nunca teve que esconder um segredo como o meu de Rodriguez ou da Silena. Éden May, na verdade, deve ser a pessoa mais expressiva de todas, mesmo que saiba guardar segredos.

Então, quando jogo o dracma no arco-íris, não é a May que tenho em mente, mas é claro que me arrependo de não ter ligado pra minha melhor amiga assim que os olhos azuis idênticos aos meus me encaram.

— Então você está viva — minha mãe observa, embora esteja franzindo o cenho para a paisagem atrás de mim. — E na água. Hm, me lembro de um cruzeiro adorável pela Itália em que você passou duas semanas vomitando sem parar.

Ela está em seu trailer, no set de filmagens de qualquer que seja seu novo filme. Com os cabelos presos em cachos perfeitos e o rosto maquiado. Usa uma blusa de seda com um lenço no pescoço.

— Oi pra você também, mãe — resmungo. — Eu estou bem, obrigada por perguntar.

Sua expressão se suaviza.

— Está mesmo?

— Foi por isso que liguei — eu vejo o momento em que sua coluna se estica em desconfiança, mas ela só acene pra que eu continue enquanto toma um gole de algo em uma caneca. — Você é a única pessoa que eu conheço que já fez barganhas no Mundo Inferior.

Ela engasga. Sua bebida mancha pelo menos metade da sua blusa, mas ela nem mesmo repara nisso enquanto olha pra mim com puro terror no rosto.

— Fez uma barganha com seu pai, Letitia?

— Sim e não — vejo suas bochechas mudando de cor mesmo pela imagem translúcida do arco-íris. — Olha, mãe, é complicado, eu não tenho tempo de explicar agora.

— Então você vai arranjar tempo, Letitia — ela diz, o tom sério não deixando abertura pra negociação e me arracando um suspiro. — E não faça essa cara pra mim. Ou você me conta, ou eu vou sair desse set e vou até a casa do seu pai pra descobrir o que foi que ele fez dessa vez.

— Porque acha que foi ele quem fez alguma coisa?

— Porque, pelos dez anos que criei você, fiz o máximo pra te tornar uma menina independente que não precisava de ninguém pra sobreviver — ela diz e meu nariz arde no mesmo segundo. — Sou uma mãe horrível pra você, mon coeur, eu sei disso, mas eu ainda carreguei você por nove meses e isso vale mais que tudo pra mim. Você é tudo pra mim, minha filha.

— E a Larissa?

Ela suspira e se recosta em sua cadeira, puxando lenços pra limpar sua blusa.

— Imagino que você já tenha descoberto sobre os anjos — eu só assinto, porque sei que ela está falando dos Di Ângelo. — A Larissa... Letitia, ela é sua irmã. Mas não é minha filha.

Eu agradeço por estar sentada, porque nesse momento eu poderia ter perdido até o chão se não estivesse no mar.

Há mais uma. Três.

did i mention • clarisse la rueWhere stories live. Discover now