02 - Sopre e faça um pedido

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"O tesouro de maior significado é aquele que se faz ausente de luxúria"

Layla Grinffin,

— Isso claramente está torto, não está vendo? — Minha mãe diz irritada com meu pai, que prega as fitas roxas no teto liso de gesso pela quinta vez consecutiva de forma errada. — Desce daí, eu mesma faço.

— Não vou descer, só diz direito onde isso vai e pronto! — Ele teima e continua em cima da escada decorando a sala para o meu aniversário. — Você está muito estressada, amor, relaxa...

Colocar lenha na fogueira agora é arriscado, meu pai sabe como irritar, ela pode ser estressada às vezes e jogar isso na cara dela, dessa forma limpa e seca, vai piorar tudo.

— Não quero briga no meu aniversário. — Aviso quando vejo minha mãe levantar as sobrancelhas pronta para discutir com meu pai. — Não precisa ficar tudo perfeito, ok?

— Amor, me passa as fitas rosas. — De cima o iniciador da intriga aponta para a caixa de papelão em cima do sofá. Minha mãe bate o pé no chão e cruza os braços indo até a caixa com passadas pesadas e indesejadas. Parecendo uma verdadeira criança birrenta.

— Sem reclamar. — Meu pai brinca com um sorriso no rosto sacana. — Pega direitinho.

Ela gesticulou a boca, sinal que vira um sermão agora mesmo, mas o barulho do telefone da cozinha toca e tira sua atenção das palavras de baixo calão que iriam transbordar pela sala agora mesmo.

— Salvo pelo gongo. — Ela aponta o dedo com certa raiva em direção a cara dele que continua com uma expressão divertida no rosto. — Quando eu voltar você vai ver, engraçadinho.

Deixou a sala, poderia dizer que ela soltava fumaça pela cabeça, enquanto ia para a cozinha a passos largos, já que o telefone não parava de tocar. Então eu mesma me disponho a pegar as fitas dentro da caixa. As entrego nas mãos do meu decorador particular, que se abaixa um pouco na escada para alcançá-la. Ele continua a pendurar as fitas brilhantes, o teto agora está todo cheio, com elas balançando ao vento que entra pelas janelas grandes da minha casa.

— Assim está bom? — Meu pai pergunta nas alturas e eu não tenho tanto critério quanto minha mãe pela perfeição. — Admito que não sou um especialista.

Teimando em falar isso mesmo já tendo decorado 17 aniversários meus. Chega a ser contraditório ou talvez não seja o forte dele aceitar que seu trabalho é bem feito.

— Está ótimo, para mim tudo que vocês fazem é maravilhoso. — Solto com um grande sorriso meigo e agradecido.

Ele desce das escadas, limpando as mãos e olhando para o teto concentrado, auto avaliando o próprio serviço.

— Hoje tudo vai estar perfeito para você, Lay. — Odeio esse apelido carinhoso que me deram desde que me entendo como gente.

— Já disse que estou velha para esse apelido. — Reclamo em uma careta determinada. — Não tenho mais 7 anos.

— Você sempre será nossa bebezinha. — Sinto o beijo ser depositado em minha testa, doce e cheio de amor. — A nossa Lay.

Me rendo a isso, não consigo deixar de se sentir bem com todas as palavras que meus pais sempre deixam claro a minha importância e bem. Os cuidados deles me transbordam de felicidade.

— Querido! — A voz da minha mãe vem ecoando da cozinha. — Venha aqui rápido e deixe a Layla terminar a decoração!

— Falta só posicionar os refletores, você consegue? — Até por que os refletores têm um tamanho generoso.

Chamas Do PurgatórioWhere stories live. Discover now