04 - A morte vem no começo e no final

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"Você só percebe o valor da vida quando sente o peso da morte em seus ombros"

Layla Grinffin,

As listras radiantes oriundas do sol entram pela minha janela, misturadas com as sombras mexidas das árvores do lado de fora. A claridade em meus olhos sensíveis do sono me faz despertar um pouco mais cedo, antes mesmo do despertador dar seus sinais de alerta diurno ou minhas amigas darem suas primeiras reclamações andando pela casa em plena manhã de volta às aulas.

Olho de relance para o relógio branco digital no criado mudo e são 06:10, irei para os dormitórios as 08:00, o primeiro dia do semestre letivo é puramente situacionista, onde se tem apresentação e o direcionamento dos quartos.

Os alunos antigos celebram a chegada dos novatos com apresentações de boas-vindas organizadas pela comissão acadêmica. Demonstrações de magia e uma espécie de pequeno seminário explicando as regras da escola de magia e apresentando a planta do campus.

Além de uma longa passeata em todos os blocos da instituição que me doem os pés só de relembrar as duas vezes que me submeti a caminhada do conhecimento. Na primeira vez foi tudo muito incrível, eu era nova lá, um sonho a ser realizado, mesmo assim cansativo. No segundo ano fui com os novatos e quase fugi do evento canônico estudantil, que chatice.

E hoje não será diferente, vou passar por tudo de novo, pela terceira vez, mas pelo menos a última.

Puxo a cortina e meus olhos fecham com a claridade direta do sol, alongo meus braços olhando a linda paisagem das montanhas verdes ao longe da cidade. Empurro meu corpo um pouco para fora, sinto a brisa fria da manhã levar meus cabelos brancos ao vento e posso ouvir os pássaros cantarem um lindo canto anunciando o belo dia.

Minhas amigas continuam um sono profundo em suas cobertas quentes, aparentemente só eu que estou ansiosa nessa manhã.

Saio da janela e a lembrança da chegada de meus pais clareiam minha mente. Tenho muitas coisas para contar a eles sobre a festa, os momentos bons, claro. Aqueles que me fizeram rir durante a noite e me esquentaram de felicidade.

A essa hora eles já devem ter chegado em casa e com certeza viram a zona festejada na sala de estar em um caos da bagunça adolescente.

O que não devem reclamar, aliás é uma festa. A minha festa que tanto esperei e foi realizada com altos e baixos, uma montanha russa de emoções.

Desço as escadas deslizando minhas mãos pelo corrimão de madeira polida ainda de pijama rosa, esperando ouvir o barulho da faca cortando algo na comida e as panquecas deliciosas de minha mãe chiarem na margarina quente dentro da frigideira.

Inclino meu corpo ainda descendo o lance de degraus, direcionando meus olhos para todos os cômodos, acho estranho não ouvir nenhum murmúrio ou som da comida ser feita, o silêncio é difícil quando se trata deles dois.

— Eu tenho uma longa história de aniversário para contar para vocês! — Falo adentrando a cozinha em um pulo determinado, mas para minha surpresa está vazia. — Mãe?

Atravesso o desarrumado da festa que a essa altura minha mãe deveria estar olhando com as mãos em cada lado do quadril, batendo o pé de leve no chão, suspirando fundo para não estourar.

Mas nada deles aqui.

Subo as escadas novamente, eles podem estar dormindo, a viagem com certeza foi longa, sem pausa, repentina e cansativa.

Eles não atrasariam sem me ligar, não é?

Bato de leve na porta, três batidas rápidas, mas nenhum retorno, de novo e nada.

Chamas Do PurgatórioWhere stories live. Discover now