Capítulo 15

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Ceci💐

Meu rosto continuava quente, e minha respiração incontrolável. Meu Deus, que vergonha. Trovão não me olhou mais, e eu sinceramente fiquei muito agradecida por isso. Cibele estava na minha frente, a morena tinha um silencio ensurdecedor que me deixava cada vez mais apreensiva.

Meu estômago estava cheio do líquido gasoso do guaraná, e o calor infernal do Rio de Janeiro me fazia ter vontade de vomitar. Tudo estava estranho para mim, cada vez mais difícil de entender e lidar com tudo. As preocupações com a escola, a vontade infernal de chorar e a confusão que se tornou em pouquíssimos dias a minha relação com o trovão, me fazia querer desaparecer.

Minha vida estava difícil, eu mal falava com a minha mãe e as vezes acho que ela nem se lembra mais de que tem uma filha em casa. Me escondo no meu quarto o dia todo, e me sinto culpada por não sair de lá nem pra varrer casa. Talvez tudo isso esteja realmente me deixando mal, e eu precisa urgentemente dar um jeito de ajeitar minha vida.

Mas eu não consigo, não consigo ajeitar minha vida.

Abaixo a cabeça na mesa de madeira dura. Atrás, o meu pescoço estava soado. Eu sentia meu cabelo grudar na pele quente e molhada. A pressão no meu ouvido aumentava cada vez mais, me fazendo ter uma vontade absurda de vomitar.

Mas principalmente, uma vontade infernal de sumir.

Apoiei minhas mãos na mesa me levantando, respirei fundo e fechei os olhos tentando não me lembrar da vergonha que passei à minutos atrás. Olhei para a Cibele que estava no celular, e que continuava sem falar nada, então murmurei um simples "já volto." E ela nem ligou.

As pessoas falavam e a bagunça no restaurante parecia aumentar cada vez mais. Muito barulho, calor, confusão e falação; era o que se via, sentia, e ouvia. Nada mais, nada menos.

Aquilo parecia um vulcão em erupção, e eu sabia que precisava de alguma forma me livrar, ou eu iria oficialmente passar mal.

Fui até o banheiro feminino e abri a porta, logo entrando. Me encarei no espelho manchado e velho vendo o quão branco o meu rosto estava. Eu não tinha comido nada de manhã, a única coisa que havia no meu estômago era o refrigerante que minha amiga tinha deixado na mesa a minutos atrás. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde, eu passaria mal.

Senti minhas pernas bambearem e o calor aumentar. Me firmei o máximo que eu podia na pia, mas tinha medo dela cair. Liguei a torneira deixando a água escorrer na esperança de ter uma água gelada o suficiente para refrescar meu rosto, mas tive uma grande decepção ao ver que ela estava mais quente do que fogo.

Esperei a água escorrer, e quando ela deu uma refrescada, eu lavei meu rosto pálido. Molhei o pescoço, os pulsos, e respirei fundo, mas eu continuava tonta da mesma forma. Olhei novamente para o espelho manchado e comprido, sentindo minha visão oscilar, e de pouqinho a pouquinho, tudo ficando mais embaçado.

Minhas pernas bambearam humilhantemente, quase me dando um tombo, me fazendo me apoiar na parede. Senti minhas costas baterem no azulejo, e nem força para gemer de dor eu tive. A pressão no meu ouvido aumentou e o calor começou a ficar insuportável. A água na pia continuava escorrendo, e de pouco a pouco minha consciência também.

Um nó se formou novamente na minha garganta, juntamente de um vazio no peito. Lágrimas lutavam para escorrer, e eu lutava para mantê-las paradas. Ouvi passos apressados se aproximando do banheiro, acompanhados de batidas incansáveis na porta velha de madeira.

Foi quando eu ouvi sua voz..

— Maria Cecília? — Senti meu coração acelerar com a voz grossa dele me chamando. Mas eu estava fraca e com uma vontade terrível de vomitar e desmaiar, uma verdadeira sensação de morte, eu diria.

Eu nem sequer poderia constatar se ele realmente estava ali, ou se eu estava delirando.

A única coisa que consegui fazer naquele momento foi virar a cabeça e olhar em direção a porta. Meus lábios estavam secos, e minha voz estava fraca. Tudo estava insuportavelmente complicado naquele momento. Trovão começou a bater na porta várias e várias vezes, quase esmurrando ela.

Ele chamava meu nome firme, mas eu não conseguia responder. Abri a minha boca, mas nenhum som saiu dela. Nada saía de mim, nada funcionava em mim naquele momento. Respirei fundo, tentando me manter um pouco melhor, na esperança daquele mal estar logo passar.

— Porra Maria Cecília, fala alguma coisa caralho! Ce ta ai? — Trovão insistiu. — Vou arrombar saporra se tu não disser nada.

Ele não podia arrombar, eu estava atrás da porta e não conseguiria me afastar por causa da fraqueza. Estiquei o braço o máximo que pude, e me arrastei pelo chão tentando alcançar a maçaneta da porta. Com muita dificuldade, consegui, girando a chave a abrindo a porta.

Trovão imediatamente entrou dentro do banheiro, e pude ver um resquício de desespero no seu olhar. Ele teve dificuldades de entrar, pois como eu estava atrás da porta, a abertura da passagem ficou quase minúscula. Tive sorte, pois por mais que ele tivesse um corpo definido, sua altura era tão imensa que o deixava parecer mais magro do que ele realmente deveria ser.

Ele tocou meu rosto com a mão direita, me fazendo sentir o quão gelada sua mão estava. Encarei seu olhar, vendo a preocupação no seu olho. Ele se preocupava comigo?

— Você tá branca, caralho — Não falei nada — Fala alguma coisa fia — Eu não conseguia.

Fechei os olhos sentindo a escuridão tomar conta do meu corpo, eu não desmaiei, mas me deixei levar pelas sensações que insistiam em me rodear. Senti sua mão em mim, me segurando no seu colo, e foi quando que tudo em mim, enfim apagou.


Continua...

Apareci deusas(o), estavam com saudades? A autora que é viva, ela sempre aparece, e eu apareci!

(Ontem foi meu aniversário, quero parabéns!)

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Obsessão - MorroWhere stories live. Discover now