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Jão Romania

- Que decepção te ver aqui de novo. Segunda vez só essa semana,João.

Dizia Lúcia, a diretora do colégio São Dinas. Que andava pela sua sala, sentando em minha frente, me encarando, suado com a blusa do time da escola, com meu nome e o número dez atrás.

- Diretora! Eu juro, eu não empurrei ele! Aquele menino tá fazendo um drama danado! Estavamos treinando pro jogo de sexta! Ele quer o que? É um jogo sério! Decisão final!

- Ele se machucou,João!

- Não é motivo de me chamar aqui! Eu já me machuquei várias vezes! Esse menino não para de fazer drama!

- João, você participa do time desde o 6° ano. Correto?

- Sim.
Finalmente abaixo meu tom de voz, cruzando os braços, me encostando na cadeira.

- Isso tá subindo na sua cabeça desde desse tempo. Acho que seria melhor pra você relaxar um pouco. Você tem notas boas, é um bom aluno. Vai se sair bem no teatro.

Como é? Teatro! A coisa mais chata! Me dá sonooo! Eu jamais perderia meus jogos pra sentar e ler a merda de um texto, que fala baboseira atrás de baboseira.

- Que? Não dona Lúcia, obrigado pelo convite.

- Não é um convite. Estou te tirando do time por um tempo, e te colocando no teatro.

- Como é? Não dona Lúcia! Essa sexta temos jogo! Eles não podem ficar sem o camisa dez!

- Lucas fica no seu lugar. Está decidido. Vou falar com o Sérgio. Vai te fazer bem! Você vai relaxar e descansar. Se você se sair bem, te coloco de volta no time pro seu último ano na escola. Liberado.

- Mas!

- Sem mas, João. Está decidido. Pode ir.

Me levanto da mesa, revelando minha altura, definitivamente bem mais alta do que a diretora, saindo da sala. Andando rápido e bravo como nunca. Andando diretamente ao vestiário do time. Contando pra todo mundo sobre a conversa com a diretora. É claro que Davi, o menino que fez tudo isso acontecer, me pediu desculpas. Eu definitivamente, falei que tava tudo bem, mas não estava nada bem.

Avisei Lucas sobre seu trabalho nos próximos jogos, e coloquei um dos meus melhores amigos, como capitão do time. Tomamos o banho rápido no vestiário e saímos pro intervalo. Sentamos na mesa com Renan, contando pra ele o que tinha acontecido. Na verdade quem contava era o Otto, nosso melhor amigo, agora capitão do time, como eu disse.

Eu só comia meu sanduíche, pensando que teria de entrar no teatro. Perderia os jogos do ano todo. Principalmente perderia nossos últimos jogos pra ganhar o primeiro título do ano.

- Poxa Jão, o teatro pode ser legal!

- Nunca Renan! Vai ser terrível! E ainda vou ter que apresentar uma peça!

- Pode ser uma nova oportunidade!

- Exatamente! Eu não quero outra oportunidade, eu quero o time, entendeu Otto?

- Saquei..

- Nem fala em saque!

Ele solta um riso, rindo da minha cara. E eu ignoro, voltando a comer meu lanche.

Era 16:15, e na próxima aula eu não voltaria pra quadra. Eu pisaria no auditório.

Nossa escola tem várias atividades. Renan faz administração, Otto vôlei, minha prima, Gio, faz advocacia, e minha irmã, Isa, Enfermagem.

Além das que fazemos tem outras. A verdade é que nossa escola é tempo integral, mas que invés da parte da tarde ser coisas chatas são cursos que gostamos. Saímos da escola no início da noite. Mas não é chato. Eu gosto. Das 13:50 as 19:00 no vôlei.

Agora não, agora é no teatro. Mas eu vou reclamar muito com minha irmã e minha prima.

Estava indo pra sala de teatro, e quando cheguei vi várias pessoas esquisitas. Principalmente o professor, que veio falar comigo. Me levando pra fora da sala.

- Vitor?

- João, por favor.

- Ah sim Vitor. Bem vindo ao seu novo time!

Ele solta uma risada que não me arranca um sorriso. Apenas cruzo meus braços, deixando ele sem graça, parando de rir.

- Bom.. É.. Como você deve saber, vamos fazer uma peça do final desse ano. E como você chegou atrasado, vou pedir pra um dos meus alunos te ajudar com técnicas e conhecimento. Você vai se sair bem! Vou trazer ele aqui. Um estante.

Ele sai correndo de um jeito incrivelmente, desajeitado. Como alguém consegue correr daquele jeito?

Fico totalmente "feliz" esperando o tal aluno veterano. Até ver o professor voltar com um garoto da minha altura, cabelos morenos, olhos castanhos e roupas básicas, mas estilosas.

- Esse é o Augusto. Vou deixar vocês conversarem o resto dessa aula.

- Tá bom!

O garoto diz em um sorriso simpático, e logo se vira a me olhar

- João Vitor, o garoto popular no teatro. O que fez pra estar aqui?

- Augusto, nem eu sei.

- Pedro! Meu nome é Pedro. O professor que tem mania de nós chamar pelo segundo nome, ou pelo sobrenome.

- Olha, Pedro! Eu ficaria muito feliz de ficar conversa com você. Mas eu tenho uma ideia melhor! Você sai lá fora comigo, se distrai acidentalmente.

Faço aspas com os dedos

- E eu saio correndo, vou embora e nunca mais volto. Gosta?

- Não! Eu acho realmente que você pode gostar do teatro, e parar de ser desse jeito!

- Que jeito? Eu nem te conheço!

- Mas eu te conheço! Já te vi muito pela escola. Além de ouvir falar várias!

- Ah.. Por favor ! Eu só queria estar jogando meu vôlei! Não com esse bando de esquisitos!

Óbvio que estava mencionando ele também, e o vi meio desconfortável. Mas ignorei.

- Vem! Vou te levar lá fora. Mas pra conversar mesmo. Não pra fugir. Se você acha que você é louco, eu sou mais aínda!

Amor teatral  | pejão Où les histoires vivent. Découvrez maintenant