XV

134 12 14
                                    

Jão Romania

As férias tinham acabado, acordar 6:20 de novo. Me levantei já tirando pedra, papel e tesoura com a Isa pra ver quem tomava banho primeiro. Começamos a fazer isso pra perdermos a mania de brigar pela conquista do chuveiro.

Dessa vez quem ganhou foi ela. Desci pra tomar meu café da manhã. As aulas voltaram bem na quarta feira, agradeci por não ter sigo segunda. Confesso que não estou animado de voltar pro teatro. Nesses primeiros tempos da escola fomos trabalhando as primeiras partes da peça, antes de Pietro e Alex se apaixonarem, e agora vamos começar a fazer essa parte, da paixão recíproca.

Apenas de pensa me dá dor no estômago, eu teria que subir em um palco com Pedro, e ainda teria que o encarar com o olhar mais apaixonado possível. Eu não sou ator, nunca quis ser ator.

Agora eu estaria falando "vou desistir" Mas a questão é que eu não tenho como desistir, nem pra onde correr. 

Passei metade das férias no quarto da Isa, tocando violão e desabafando, sobre o medo de eu acabar confundindo teatro com amor, e me descobrir lgbt. Mas também sobre o quanto seria impossível eu me apaixonar pelo Pedro. Eu não gosto dele. Bom, como um colega, Pedro é gente boa.

Mas não é como Renan, que eu me vejo saindo da escola com ele, indo pra faculdade com ele, vivendo a vida com ele, porque ele é o meu melhor amigo. Passar mais tempo com Pedro é uma boa, mas não pra nós ensinar como devemos nos apaixonar em um palco.

Subo pro banheiro assim que Isa desce, e tomo um banho quente e rápido, colocando o uniforme escolar, descendo com minha mochila.

- Vão com Deus! - minha mãe diz dando um beijo na testa de cada um. No meu pai, claramente não foi um beijo na testa.

Fomos pro carro, enquanto conversávamos sobre a volta as aulas.

- E filho, como vai ser esse terceiro bimestre no teatro? - meu pai diz me observando do retrovisor.

- Ah bom.. Não tenho muita ideia, mas vamos, acho, que nos relacionar a parte final da peça, a resolução dos problemas acontecidos.

- Maravilha! Como você anda se saindo? Vai indo bem?

- É.. Aí você pergunta pro professor.

- Qual? O professor Sérgio, ou o professor Pedro? - Isa diz no banco da frente, me olhando de cima abaixo. Bufo, tirando meu olhar dela

- O professor Sérgio, pai. Não liga pra Bela!

Não demora pra descermos do carro na porta da escola, encontrando Otto, Renan e Gio. Meus olhos se direcionam pra trás, encontrando Pedro, que me dá um sorrisinho simpático e um aceno de mão. Claro, retribui. Ele estava com Malu, que estava dando um abraço em Lucas.

Pedro não tinha mais amigos? Só a Malu? Eu poderia ir falar com ele, se o sinal não tivesse tocado, indicando que deveríamos correr pras salas e ficar sentados nos nossos lugares. O que claramente não acontecia, ficava todo mundo na porta, espiando a espera da professora. Nossa primeira aula era ciências, e tínhamos de apresentar um trabalho, que ficamos o tempo das férias pra fazer.

As aulas foram passando, e chegou 11:30, hora de comer e ficar livre até 13:00. Vi que Malu deixou Pedro na mesa, pra ir falar com Lucas num canto, creio eu que foram falar mais com a língua, do que com a fala.

Deixei meu lanche com Renan, que me apoiou que fosse até Pedro falar com ele. Cheguei já me sentando, dando um sorrisinho.

- Oi professor Pedro.

- Ah! Não vem com essa de professor Pedro!

- É como eu te vejo.. Eai, Malu te deixou aqui sozinho, você não tem outros amigos?

- Bom.. tenho os do teatro, mas eu gosto da Malu, somos amigos de tempos e tempos. Tenho uma intimidade maior com ela, que é difícil que eu pegue nos outros.

- Ah sim.. entendo.. Mas olha, o Otto, o Renan, minha irmã e prima não mordem não. Se quiser ir lá sentar com a gente. Se conheço essa jogada de ir ao canto mais quieto da escola na hora do lanche, ainda com o namorado. Sei que não é de se voltar cedo. - dou uma risadinha e uma piscadela pra ele, tirando uma risada.

- Bom, se quiser ir lá, é só chegar. - digo me levantando, voltando pra nossa mesa. E não demora muito pra que Pedro venha sentar com a gente. Pedro era bom de conversa. E tenho certeza que ele se sentiu animado com os "amigos"

Assim que deu 13:12 e ouvimos o sinal, fomos nós dois, juntos pro auditório. Rindo e conversando, como sempre. Bom sempre não, mas agora.. Agora é sempre. Entramos na sala e já recebemos a grande bomba

- Bom dia meninos! Vamos estrear nosso início de aulas com jeito. Vamos primeiro repassar uma valsa do Pietro e do Alex, e assim que essa valsa acabar o beijo.

- O QUE? - acredito que gritei junto com Pedro.

Amor teatral  | pejão Where stories live. Discover now