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POV AURORA

Eu vivo um inferno, sempre vivi, na verdade, mas antes, esse inferno se passava na minha cabeça. Agora estou vivendo-o. Nada, nem ninguém, é capaz de me fazer sentir bem.

Eu só consigo pensar em uma coisa: Como o mundo seria melhor sem mim, ou em como eu finalmente teria paz se o deixasse.

Eu queria, sinceramente, não me sentir assim: um nada.

Mas daí eu lembro que tem um amanhã, e hoje, eu sou isso. Um nada!

É tão difícil...

Esse sentimento me domina, me consome. Eu só queria ter tido a chance de não ter vindo tão quebrada a este mundo.

— Se você não comer, me dá! — disse Janaina, estendendo a mão para a minha comida. Não era uma boa comida, confesso. Mas agradeci mesmo assim, porque tem gente que nem isso tem para comer.

Olhei para o prato em minhas mãos e olhei para a mão de Janaina estendida.

— Eu vou comer! — falei apenas, e ela recolheu sua mão, dando atenção para o seu prato novamente. Suspirei e comecei a comer.

— O que o delegado queria com você hoje? — Ela perguntou, curiosa.

— Interrogatório. — Respondi.

— Ele é um gato né, mas é um filho da puta como todos esses guardas. — Fez careta.

— Nem reparei. — Menti, enchendo minha boca de comida para não falar mais nada.

Na verdade, eu estava evitando pensar no delegado. Desde o momento em que entrei nesta penitenciária, ele tem sido o único gentil comigo, atencioso. Ele me olha de um jeito diferente, e ontem ele chegou tão perfeito... Eu queria muito saber o que ele iria falar se aquele outro cara não tivesse aparecido.

— Ah, para de ser mentirosa! Você não é cega! — Janaina falou, colocando seu prato em cima da mesa. — Tô com fome ainda. — Resmungou.

— Pode comer a minha... — estendi meu prato para ela, que abriu um sorriso ao pegar o prato de minhas mãos. Dei minha comida para ela ficar quieta. Pelo menos, com a boca cheia, ela para de falar.

— Você matou quem? — ela perguntou de boca cheia, derrubando alguns grãos de arroz.

— Come de boca fechada. — Falei, fazendo careta.

— Fresca. — Ela resmungou.

— Banho de sol! — Um guarda gritou, batendo nas grades, e as mesmas se abriram. As presas foram saindo de suas celas, e eu olhei confusa para Janaina.

— Duas horas de banho de sol para manter nossa sanidade mental. — Ela explicou, colocando o outro prato na mesa.

— Todas as presas juntas? — Perguntei, assustada.

Ela sorriu, levantando-se.

— Sim. Mas fica tranquila, ninguém vai mexer contigo. Fica comigo, beleza?

Assenti e me levantei também, saindo da cela acompanhando Janaina.

Estávamos em uma área aberta, parecia uma quadra. Havia algumas grades, mas dava para ver o sol bem tímido.

Sentei-me no chão, fechando os olhos e erguendo a cabeça para sentir o sol em minha pele.

Senti a necessidade de olhar para o meu lado direito, abaixei a cabeça e abri meus olhos olhando para o lado. Por trás da grade, vi o delegado parado de braços cruzados, olhando em minha direção.

A DetentaWhere stories live. Discover now