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POV AURORA

Abaixei minha cabeça com medo de encarar o delegado, mas eu sentia seus olhos queimando minha pele.

A primeira vez, ele relevou. Ele estava no pátio e viu que eu não comecei aquela briga, mas agora, dificilmente ele irá ter piedade de mim.

— SAIA! — falou rudemente com o policial nojento que segurava meu braço com força. Ouvi tanta merda desse policial que eu peguei ranço.

O policial soltou meu braço e saiu da sala, fechando a porta.

Não ousei olhar para o delegado um minuto sequer, eu estava tão assustada com tudo. Fui jurada de morte!

O silêncio na sala era gritante, eu não falei nada, ele muito menos. Mas eu sentia que ele me olhava.

— Erga a cabeça. — ele mandou.

Permaneci imóvel. Ele tem sido tão bom comigo e eu me meti em encrenca duas vezes em menos de duas horas...

Levei um susto quando senti sua presença em minha frente. Seu cheiro era uma delícia, colônia masculina amadeirada.

Ele ergueu a mão e tocou meu queixo com o dedo indicador, levantando meu rosto fazendo nossos olhares se encontrarem.

— Não abaixe a cabeça para ninguém. Já te falei isso uma vez e estou repetindo agora. Espero nunca mais ter que repetir.

Seus olhos me olhavam com tanta intensidade e seu toque em meu rosto me fez ficar com um friozinho na barriga.

O que é isso?

— Desculpa. — pedi.

Ele suspirou e abriu a boca várias vezes para falar algo, mas acabou se afastando rapidamente.

— Por que estava brigando novamente? — perguntou sem me olhar, virado de costas para mim.

— A namorada daquela detenta que brigou comigo mais cedo veio me cobrar porque a companheira dela estava na solitária...

Observei o homem em minha frente se inclinando sobre a mesa, colocando os punhos ali. Ele estava pensativo e eu sentia que queria falar alguma coisa.

— Senhor delegado, me desculpa, por favor. Desde que eu fui presa, o senhor é o único que tem sido legal comigo. Eu não queria te decepcionar... Eu juro que não tive culpa. Não sei o que acontece comigo, eu chamo confusão! Eu odeio brigas, odeio... — comecei a falar desesperadamente e quando eu ficava nervosa falava sem parar.

— Eu não estou decepcionado com você — ele falou, se virando de frente para mim e encostando em sua mesa, escorando ali. — Vem aqui — me chamou.

Não sei o que deu em mim, só sei que me aproximei dele sem pensar duas vezes. E me surpreendi ainda mais quando ele me puxou pela mão, me dando um abraço.

E, meu Deus, eu precisava tanto desse abraço.

Me senti tão confortável dentro desse abraço que poderia ficar o resto da minha vida aqui que não reclamaria. Me senti em casa... Me senti protegida, como se nada pudesse me atingir aqui. Me senti acolhida...

Nem me dei conta quando comecei a chorar. Chorei tanto que até molhei sua camisa social com minhas lágrimas.

Eu nunca, em toda minha vida, eu nunca havia recebido um abraço assim. Tão acolhedor...

Desde quando eu me conheço por gente, eu só recebi porrada da vida. Nunca tive ninguém por mim.

Seus dedos acariciavam meus cabelos, enquanto eu não conseguia parar de chorar. Soluçava, me tremia.

Chorei por tudo. Tudo que eu guardei durante esses 18 anos fodidos da minha vida.

— Calma — ouvi sua voz rouca acariciando meus cabelos e costas. — Respira. — pediu.

Fiz o que ele pediu e aos poucos meus soluços foram passando e eu fui me acalmando. Afastei um pouco meu rosto que estava em seu peito e encarei o homem em minha frente que me olhava de uma maneira tão intensa.

— Obrigada. — agradeci.

— Pelo que? — ele perguntou, limpando minhas lágrimas. Fechei os olhos por um momento para sentir seu toque em meu rosto. Ele colocou meus cabelos atrás da minha orelha e focou sua atenção em meus olhos.

— Eu precisava desse abraço — falei baixinho.

— Esse lugar não é para você, cara. — falou com pesar. — Você é muito inocente para estar no meio daquele ninho de cobras...

— Eu acho que não vou durar muito aqui mesmo. — falei, olhando para baixo.

Eu não tinha medo da morte. Não mesmo.

Quantas vezes eu pedi pra isso acontecer? Quantas vezes implorei pra Deus acabar com todo meu sofrimento?

Às vezes, meu coração dói tanto que eu penso em morrer para acabar com essa dor. Mas eu nunca consegui de fato realizar esse meu desejo. Eu já planejei, mas me faltava o principal, coragem...

— Por que? — sua voz saiu um pouco alta e rude. — Alguém te ameaçou?

— Não — menti, desviando o olhar. Sou uma péssima mentirosa, mas não quero sair como uma X9.

Ele segurou meu rosto, focando seu olhar em mim, como sempre...

— Não mente pra mim, porra. — ele estava irritado. — Quem foi a filha da puta que te ameaçou?

Ouvimos batidas na porta e eu me afastei dele rapidamente. Não pegaria bem alguém ver o delegado e diretor do presídio tão próximo de uma detenta.

Delegado Theodoro respirou fundo e voltou para sua cadeira, se sentando, e apontou para a cadeira em frente da sua mesa para que eu fizesse o mesmo. Me sentei rapidamente.

Outra batida na porta.

Ele estava furioso.

— Entra, porra! — esbravejou.

A porta foi aberta e por ela adentrou um homem, o mesmo que estava aqui no dia do meu depoimento.

— O que você quer aqui, Tomas? — o delegado perguntou, encarando o homem seriamente.

— Tá ocupado, irmão? — perguntou.

– Tá cego, porra? — bateu na mesa, me dando um leve susto. Ele realmente estava muito irritado!

— Quanta agressividade, meu irmão! Eu em. — caminhou até a mesa, colocando uma chave ali. — Vim devolver seu carro, otário.

— Mete o pé — Theodoro apontou para a porta.

O irmão dele me olhou por longos minutos e se sentou no sofá que havia ali.

— Vou esperar você acabar. — cruzou os braços. — Fingem que eu nem tô aqui.

Theodoro estava fuzilando o irmão com o olhar. Fiquei até com medo.

— Aurora, me conte o que aconteceu desde o início! — ele pediu.

Contei tudo pra ele. Desde o momento que voltei ao pátio todas as detentas não paravam de me olhar. Mas essa em especial que eu nem sei o nome, ela me encurralou com outras quatro presas. Ela falou um monte pra mim, nunca fui tão xingada na minha vida. Ela disse que qualquer dia desses eu iria acordar com a boca cheia de formiga. Me empurrou e começou aquela algazarra, as presas gritando querendo briga.

— Ruan — chamou o guarda que logo apareceu na sala. — Por que você trouxe a Aurora aqui ao invés da outra detenta? — questionou.

— Ela que começou a briga, senhor. — mentiu.

— Tem certeza? Porque eu estou sabendo de outra versão.

— Essa vaga... — parou de falar ao perceber que iria me xingar. — Tenho certeza, chefe.

— Traga a outra detenta aqui. Agora! — falou rudemente e o policial nem questionou, saiu praticamente correndo.

A DetentaWhere stories live. Discover now