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POV THEODORO

Me sentei na cadeira de couro em frente à mesa do meu pai; ele se sentou em sua cadeira e cruzou os braços, me analisando por completo.

Meus pais me conhecem muito bem.

— Quer me contar o que está acontecendo? — Ele respirou fundo.

— É uma bobagem da cabeça do Tomas.

— Você sabe que eu adoro ouvir as bobagens de vocês.

Inevitavelmente, ri com seu comentário.

Sinceramente, eu me sinto sortudo pra caramba com a família que eu tenho.

Nunca faltou amor e companheirismo.

Me ajeitei na cadeira e comecei a contar para ele desde o início, quando a Aurora entrou na minha sala e não quis sair mais da minha cabeça.

— Eu não estou afim dela, pai. Apenas sinto que preciso ajudá-la, ela não tem ninguém por ela... — terminei dizendo.

Meu pai riu, negando com a cabeça.

— Eu não diria que você está afim dela — sorri convencido. — Eu diria que você está apaixonado por ela. — fechei meu sorriso.

Apaixonado?

Eu?

— Claro que não, pai. Como vou estar apaixonado por uma pessoa que eu mal conheço? Nunca nem toquei nela... impossível.

— Já ouviu falar em amor à primeira vista? — questionou.

— Já, e eu não acredito nisso.

— Eu também não acreditava até ver sua mãe pela primeira vez.

Engoli a saliva com certa dificuldade.

— O que você sente quando está com ela? — meu pai perguntou, calmo. Remexi-me na cadeira, incomodado com esse assunto, ainda mais depois dele dizer que estou apaixonado por Aurora. Que absurdo!

— Eu... eu sinto vontade de poder abraçá-la, de poder sentir ela em meus braços nem que seja só uma única vez. Pois é o olhar azul inocente dela que vem à minha mente a cada maldito segundo do meu dia. Por mais que eu tente, parece ser impossível esquecer aqueles olhos. Eu não consigo entender esta louca e doce obsessão por ela. Hoje mais cedo, eu tive o maldito deslize, ela estava frágil e chorando, eu acabei cedendo um abraço para que ela chorasse em meu ombro. Eu senti um friozinho na barriga, meu coração acelerou e até senti minhas pernas fraquejarem. Desde o momento que ela entrou na minha sala pela primeira vez, eu sinto a necessidade de tê-la por perto. Se eu pudesse, mandaria o guarda levá-la a minha sala toda hora! Eu posso estar em um dia ruim, e ela é a única capaz de, com um simples olhar, transformar o meu dia. Todas as vezes que eu passo do seu lado é uma emoção indescritível que eu sinto. Toda vez que eu olho para ela eu me encanto mais, pois cada detalhe dela é único e perfeito para mim.

Abri a boca em surpresa por tudo que eu falei. Que coisa é essa? Porra!

Meu pai sorriu gentilmente para mim e esticou a mão para segurar a minha; dei a mão para ele, que apertou com firmeza.

— A resposta está bem nítida para mim. Eu não preciso dizer mais nada...

Eu me levantei atordoado com essa descoberta.

Eu estou apaixonado por Aurora?

— Filho, eu não vou te julgar. Mas como seu pai, devo te alertar sobre qualquer consequência que você terá se avançar o sinal com essa moça.

Eu assenti, porque eu sei que eu foderia minha vida se tentasse alguma coisa com ela.

— Ela é uma detenta e você o diretor e delegado daquela penitenciária. — ele se levantou, me olhando com pesar. — você sabe que esse relacionamento nunca daria certo, né?

— Eu... — esfreguei meus olhos, cansado, e coloquei as mãos em minha cintura. — eu nunca cogitei ter um relacionamento com ela, pai. Você sabe que eu prezo muito pelo meu trabalho. Batalhei muito pra chegar onde cheguei e não quero manchar o nome da nossa família.

Meu pai é delegado aposentado, deixou um legado significativo dentro da instituição e eu jamais quero manchar isso.

— Que tal pedir transferência para outra penitenciária? — sugeriu. — Se continuar naquela penitenciária, poderá ter um deslize! Eu sei o que é você amar uma pessoa e não poder tocá-la... E ainda mais por ser "proibido", você vai ficar ainda mais tentado em fazer.

— Eu sei controlar meu corpo e minhas vontades.

Meu pai não confiou muito no que eu falei, mas não ficou insistindo nisso.

— Você realmente acha que ela é inocente?

— Eu tenho certeza. Pai, se você vê-la... — suspirei, lembrando daquela garota — ela é tão delicada, sensível, ela jamais sujaria suas mãos com sangue.

— Posso te ajudar, meu filho. — ele caminhou até onde eu estava, colocando as mãos em meus ombros. — estou aposentado e sem nada pra fazer além de dar atenção para a sua mãe, posso investigar o caso. Você sabe que eu era o melhor investigador que essa cidade já teve. Nada passa despercebido sob meus olhos!

Meu coração se aqueceu ao ver meu pai disposto a ajudar a mulher que eu... amo?

— Você faria isso?

— Com toda certeza desse mundo. Começo amanhã!

— Obrigado!

Abracei meu pai com força, mostrando o quanto eu estava grato com isso.

Eu trabalho muito e quase não tenho tempo para nada. Seria praticamente impossível investigar completamente esse caso, que me parece bem complexo.

— Vai me informando sobre o caso dela, quando vai ser o julgamento?

— Em breve... o deputado está empenhado em culpá-la e condená-la.

— Fique em paz! Se ela for inocente, a verdade aparecerá. Ela sempre aparece...

Sorri para o meu pai, encarando seus olhos verdes como os meus. Diziam que eu era a cópia do meu coroa e até a profissão que ele tanto amava, eu também sou apaixonado.

— O que vocês dois tanto fuxicam?

Minha irmã cruzou os braços, nos olhando com curiosidade. Desconheço alguém mais curioso do que ela.

— Thamires, não é da sua conta... — respondi.

— Grosso — fez bico, querendo chorar. — era só uma fofoquinha para me fazer feliz.

— Está de TPM, princesa? — amoleci meu coração, me aproximando dela e a abraçando; ela assentiu, fungando. Ela está chorando porque não contamos o que estávamos conversando?

— Sua curiosidade, às vezes, me assusta. — meu pai falou, dei início a uma gargalhada, mas parei repentinamente com ela chorando ainda mais. — Cruzes, Thamires, estávamos falando sobre as coisas da penitenciária. Você não vai querer saber...

— Claro que eu quero! Em breve, pretendo trabalhar lá.

Fiquei rígido no mesmo segundo.

— Já falei o que eu penso disso...

— Meu pai trabalhou a vida inteira lá e você também. Por que eu não posso? — cruzou os braços.

— Você acha que é fácil lidar com presos todos os dias? É um pior que o outro lá dentro.

— Esse assunto me deu fome, vamos comer.

Encarei meu pai, que ria da filha que saiu correndo da sala para fugir do assunto.

Sem vergonha! Pilantrinha!

A DetentaOnde histórias criam vida. Descubra agora