04.

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— É bom te ver novamente, enfermeira Chaewon. — Provocou.

— Infelizmente, não posso dizer o mesmo de você. — Respondi.

A última vez que a vi foi no escritório, ela estava vestindo o jaleco branco de Aeri, mas agora estava vestindo aquela roupa azul característica dos pacientes. Dois botões de sua camisa estavam desabotoados, as mangas dobradas até aos seus cotovelos, fazendo com que suas tatuagens que cobriam seus braços ficassem visíveis.

Estava tão longe dela que não conseguia decifrar o que as tatuagens significavam e isso me deixou curiosa.

Yunjin soltou um riso abafado, o tipo de risada disfarçada que era mais adequada para um escritório do que para um manicómio.

Olhando para ela, ninguém pensaria que ela era louca, mas essa era a verdade.

Ela era a merda de uma psicopata.

Algo mais assustador é ela parecer o tipo de pessoa que facilmente se misturaria com as pessoas normais se eles não soubessem dos demônios que ela tem como seus amigos.

— Vá, não seja assim. Ainda temos aquele encontro no café que você falou. — Sorriu torto para mim, claramente me zoando. — Devo te buscar às sete?

Cruzei meus braços sobre o meu peito e a encarei.

Eu não estava com paciência para piadas, não depois do que ela fez da última vez.

— Pensei que ontem fosse uma razão suficiente para você parar de trabalhar como enfermeira. Porque ficou?

Coloquei a bandeja de comida na mesa ao seu lado e rapidamente me afastei, mantendo uma distância considerável e segura.

Ela continua. — Você tem medo de mim, Chaewon?

A forma como ela disse o meu nome
me causou arrepios.

— Nos seus sonhos.

A mulher loira riu como a mulher louca que ela é. — Então, porque você está tão longe? Chegue um pouco mais perto.

— Obrigada, mas eu estou bem. Não quero que você morda e arranque um pedaço de pele meu. — Eu disse.

— Você tem certeza disso? — Perguntou com sua sobrancelha erguida. — Existem fan clubs por todo o mundo dedicados a mim. As mulheres que fazem parte deles querem que eu tire suas roupas, entre outras coisas...

— E isso é suposto me impressionar? — Questionei.

Ela sorriu novamente. — Bom, não é? Não é todos os dias que você encontra uma garota que consegue ser sedutora e ter coragem de cortar cabeças fora sem vomitar.

— Eu diria que as pessoas que sentem nojo de ver isso são na verdade normais, e você claramente é o oposto.

Yunjin riu. — Psicopatas são normais, até. — E adicionou. — Às vezes.

— Uma psicopata pode ser uma fiel e amorosa esposa, uma boa mãe e tudo o que você sonha. Apenas não entre na cave dela. — Suspirei. — Ah, acho que esqueci de acrescentar que psicopatas também são mentirosos patológicos e não sentem empatia.

Notei que sua mandíbula estava tensa e seus olhos castanhos estavam fixados em mim.

Eu não conseguia dizer o que ela estava pensando pelas suas expressões faciais, mas tenho a certeza que consegui dizer a coisa perfeita para silenciá-la. 

E por qual motivo eu estava achando prazeroso deixá-la sem palavras?

Quando pensei que as coisas estavam tomando um rumo mau, sua expressão tranquilizou.

Decidi irritá-la mais um pouco. — Então, que tipo de psicopata você é? Hannibel Lecter ou Patrick Bateman?

— Nenhum deles. — Ela disse. — Eu sou mais como o Dexter Morgan.

— O Dexter Morgan não mordia as pessoas. — Respondi.

— Esqueci de adicionar a parte que eu consigo ser um pouco mais... agressiva?

Não consegui conter um riso. — Se você não fosse tão maluca, eu diria que você é interessante.

Seus olhos continuavam presos em mim como se ela pudesse ver a minha alma e ler todos os meus pensamentos. E então me perguntou a coisa que eu menos esperava.— Você tem namorado, enfermeira Chaewon?

— Sim. — Menti, surpresa com a minha habilidade de mentir tão facilmente.

— Quem é a mentirosa patológica agora? — Perguntou.

Hanni tinha razão.

Yunjin era inteligente, manipuladora e alguém que nem se deveria conversar.

— Mesmo que eu não tenha um namorado, não é nada da sua conta.

Yunjin sorriu. — Estou esfomeada, o que você tem aí? — Questionou, fingindo olhar para a bandeja.

— Bem, não é carne humana, se é isso que você esperava. — Respondi.

Não mostrei nenhum sinal de saber que ela estava fervendo por dentro e morrendo para me matar.

Ela merecia um pouco de sarcasmo e zoação depois de tantos problemas que ela me causou.

Yunjin simplesmente sorriu para mim, como se eu tivesse parabenizado ela. — Você deve ser vidente! — Exclamou.

Eu estava desapontada que o insulto não havia afetado ela.

Retirei a tampa da bandeja de comida e coloquei na frente dela.

Era a comida habitual, batatas e molho com uma pequena salada.

Me senti mal por ela instantaneamente.

O hospital precisava fazer umas mudanças no menu e deixar de servir a mesma coisa três vezes por semana.

Coloquei tudo que faltava na sua mesa com cuidado e fiz a sua cama quando reparei estar sendo vigiada por ela como um falcão.

Depois disso, decidi que era hora daquilo que eu mais temia.

Eu me aproximei dela e por alguma razão desconhecida, meu coração começou a bater fortemente dentro do meu peito.

Nunca me senti tão nervosa cuidando de um paciente e percebi que estava tremendo.

Talvez seja por causa do que aconteceu com Dra. Aeri, e eu tinha medo que aquilo pudesse acontecer comigo também.

Os olhos de Yunjin estavam sobre mim, observando todos os meus movimentos enquanto eu libertava seus pulsos daqueles cintos.

Como se tivesse uma pressentimento do que iria acontecer, recuei rapidamente, mas não rápido o suficiente porque Yunjin já estava bem atrás de mim.

Eu abri a porta para correr, mas ela fechou-a enquanto eu estava presa em seus braços.

Me virei para encará-la e percebi o quão alta ela era.

Eu estava tremendo e Yunjin gostava daquilo. O seu sorriso assustador dizia tudo.

Se eu nunca senti medo, bom, agora sim.

A minha decisão de me manter forte parecia ter caído no esquecimento.

— O que você vai fazer comigo? — Perguntei.

O seu corpo se colou ao meu e ela aproximou seu rosto do meu.

Sussurou, sem emoção. — Bom, essa é a pergunta que estou fazendo a mim mesma. O que vou fazer com você, enfermeira Chaewon?

— Não, Yunjin... Por favor!

Seu sorriso assustador havia voltado.

mental asylum ── purinzWhere stories live. Discover now