CAPÍTULO 12

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O relógio desperta e fico feliz por ter dormido mais alguns minutos do que, normalmente, consigo, já que sempre acordo antes do despertador. São 6h40 e faço o ritual de todas as manhãs, antes de descer para tomar café. Arrumo minha cama, tomo um banho rápido e me visto com um dos meus modelitos variados de moletom e em dois minutos estou pronta.

Desço para o café, e não encontro ninguém na cozinha, então me prontifico para preparar o desjejum da família.

Nic é a primeira a chegar para o café da manhã. Aparece na cozinha de calça jeans, uma baby look com jaqueta de couro por cima e bota de cano alto.

- Bom dia bela adormecida. O que ta aprontando aí?

- Bom dia! To me arriscando a preparar um café da manhã, digno. - falo enquanto despejo a água sobre filtro de café.

- Se está fazendo isso na intenção de que eu te perdoe por ontem, tire o cavalinho da chuva, Yas.

- Mil desculpas, Nic. Eu avisei que estava com sono ontem, você que insistiu. - dou uma piscadela para ela que me retribui com virada de olhos. - Aliás, quem me levou pra cama ontem?

- Eu arrumei a cama e o Dani te carregou no colo. - ela solta um risinho.

- No colo? - olho para ela, espantada. - Como assim? Que vergonha, Nicole.

- É, querida. Você estava dormindo como pedra. - ela me olha séria. - Relaxa, Yas. Daniel te achou leve como pena.

O problema não era o meu peso e sim a situação, a cena e o constrangimento! Uma coisa é certa, nunca mais faço qualquer coisa quando estiver com sono!

Terminei de preparar o café e o restante da família desceu para comer. Nicole e eu cumprimentamos cada um e depois seguimos para a faculdade.

Assim que entrei na sala, muitos alunos vieram perguntar sobre meu estado de saúde, como se fôssemos amigos íntimos. Respondi curta e educamente a alguns. Quando o professor entrou na sala, me orientou a procurar alguém da secretaria para assinar alguns papéis de abono de falta e recuperação de matéria, e assim o fiz.

- Oi, bom dia. Vim assinar os papéis de abono de faltas. Sou Yasmin Martinez Medeiros. - disse para a mulher esquisita de sorriso metálico, sentada em uma das mesas da grande sala de secretaria.

- Bom dia. Só um instante. - ela se levantou e foi até uma daquelas gavetas enormes de arquivos, depois voltou com uma pasta nas mãos. - Aqui está. Esses são os papéis de abono e você deve assinar aqui. - falou enquanto folheava duas páginas. - E aqui está seu trabalho para recuperar nota. Deve ler este livro e fazer uma resenha dele para entregar até sexta. - ela pegou um exemplar do livro em sua gaveta.

- Como assim? Eu só faltei duas semanas. Por qual motivo preciso fazer um trabalho de recuperação, sendo que não perdi tanta coisa? E ainda mais desse livro enorme?

- Se não quiser, não faça. Esse trabalho é para ajudar o aluno, caso ele sinta-se prejudicado pelo período em que esteve afastado. Todos os professores terão acesso.

- É mesmo necessário tudo isso?

- É uma regra da faculdade para quem traz atestado. Ajuda a controlar a quantidade de documentos desse tipo. Quanto mais dias afastado, maior o trabalho. - ela sorri sarcasticamente e eu odeio mais ainda Bernardo.

Saio da secretaria bufando de ódio e vou direto para a biblioteca pegar o livro para o meu trabalho. Aposto que Bernardo está se divertindo com tudo isso, mas ele não perde por esperar. Só preciso encontrá-lo para dar o que ele merece.

Saio da biblioteca com o livro em mãos e depois volto à sala para assistir o restante das aulas.

O sinal toca e antes de guardar meu material, pego emprestado de Flávia algumas anotações das duas últimas semanas. Nos despedimos e vou para o estacionamento encontrar Nicole. Caminho com toda cautela, para não ser atropelada novamente, em direção ao carro de Nic.

Não! Não pode ser o que estou pensando.

Sem tempo para refletir sobre qualquer coisa, largo minha mochila no chão e vou correndo, quase voando, em direção a ele.

Abro bem a mão, e dou um tapa na cara de Bernardo. Ele parece nem sair do lugar, o que me deixa irritada, então ameaço dar outro quando ele segura forte o meu braço. "Calma, Yas, você ainda tem a outra mão livre". Preparo a minha outra mão, que também é agarrada por ele.

- Sangue de Jesus tem poder! Yas, você está louca? - Nicole grita, me puxando pelos ombros, para me afastar de Bernardo.

Olho para ele que aparenta estar nervoso e assustado. Ele tem uma das mãos no rosto, como se esfregasse a dor, e olhos fixos em mim.

- Essa garota só pode estar possuída. Eu, hein! - ele se vira e vai embora. - Parece que é louca. - ouço ele resmungar de longe.

Não sei o que deu em mim. Sinceramente eu já tinha planejado meu ataque contra Bernardo, mas não seria assim, na frente de algumas pessoas. Seria entre ele e eu. Mas não consigo explicar o que aconteceu, simplesmente na hora em que vi ele conversando com a minha prima, foi como se eu entrasse em transe e sofresse mudanças, igual acontece com aqueles lobisomens de filmes sobre vampiros; eles se transformam, ficam cegos, e atacam. Foi o que aconteceu comigo.

- Yasmin, dá para falar comigo? - ouço Nicole chamar. Olho para ela que parece furiosa. Ela está me encarando seriamente. - Pode me explicar o que foi isso?

- Isso foi eu explodindo, depois de tudo que sofri com o acidente. - grito. - Não aguento ver esse cara esbanjando sorriso por aí, como se nada tivesse acontecido.

- Mas o quê ele tem a ver com seu acidente? - ela me olha eu sorrio ironicamente. - Espere aí, não vai me dizer que esse Bernardo é o mesmo Bernardo que...

- Bingo! - interrompo.

Ela me olha confusa depois entra no carro, que está atrás de nós. Em seguida também entro e vamos em direção à casa dos meus tios, caladas.

Volta e meia eu olhava para Nicole e constatava que ela ainda pensava no que tinha acabado de acontecer. Eu estava louca para saber de onde ela conhecia Bernardo e por quê parecia gostar da amizade dele, mas não perguntei.

Ela estacionou o carro em frente a casa, para me deixar, antes de ir para o estágio.

- Quando eu chegar, a gente conversa melhor. - é só o que ela diz antes de dar partida.

Eu não tinha nada para explicar à Nic, muito pelo contrário, ela que me devia explicações. Qual é? Fui atropelada, minha vida arruinada por causa desse garoto e ela ainda queria ser amiguinha dele? Será que sou a única que enxerga o tamanho da injustiça nisso tudo? Enquanto Bernardo desfila com seu sorriso idiota, fazendo novos amigos, como se fosse uma ótima pessoa, eu continuo aqui, sofrendo as consequências do acidente causado por ele. Era o que me faltava.

Bernardo mereceu tudo que aconteceu hoje. E espero que Nicole não venha defendê-lo. Ou terá que escolher entre ele e eu.

Cumprimento tia Martha, que está na sala, e subo direto para o quarto. Dou a desculpa à minha tia de que estou cheia de dever da faculdade, mas a grande verdade é que eu não quero encará-la com seu poder matarno de descobrir tudo o que estou pensando ou sentindo.

Abro a porta do quarto e me esparramo na cama, antes de me perder em pensamentos.

Você Aceita Orar Comigo? [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now