Capítulo 01

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Serkan Bolat

Dia quente, calor insuportável. Nem mesmo o ar condicionado do meu amplo escritório amenizava o calor fora de época. E pensar que eu teria uma longa noite pela frente. Não que eu não estivesse acostumado. Assim que meu pai percebeu o quanto eu era mais rígido e durão que ele, me colocou a frente dos negócios. Eu era implacável, às vezes. E temido. Nem sei como fiquei assim. Talvez já tenha nascido assim, quase sem sentimentos.

Comandava nossos serviços com mãos de ferro. E me irritava facilmente com esse bando de molengas que às vezes colocavam para ficar ao meu lado. Eu era chamado de O capo, ou seja o líder, o chefão de tudo isso. Olhei para a placa reluzente de ouro em minha mesa: Serkan Bola. Há anos minha família dominava a máfia na Turca. Eu era o último do clã. Por isso mesmo sempre me via em discussões com o meu pai. Eu precisava de um herdeiro. Sim, eu precisava. Mas mulher nenhuma até hoje se mostrou digna de ter um filho meu. Nem mesmo Selin, minha atual amante.

Uma batida na porta e meu irmão adentrou. Apesar de bem mais forte que eu, Engin era um crianção. Coração de manteiga às vezes. Por isso não foi escolhido para ocupar o lugar do meu pai.

- Serkan, já está tudo pronto.

- O homem já está lá?

- Sim. Só estamos esperando por você.

- Já estou indo. E quanto ao carregamento?

- Já chegou e armazenamos tudo.

- Ótimo. Excelente.

Levantei e ajeitei novamente a gravata saindo em direção ao galpão mal iluminado. Estava cercado pelos meus homens e lá dentro mais alguns.

Entre eles, Engin e meu outro irmão Ferit Esse era um problema sério para mim. Definitivamente não nasceu para isso. Olhei para o homem corpulento a minha frente, os pés sobre o caixote. Sentia o cheiro do medo no ar.

- Então...

- Senhor Bolat eu já devolvi tudo, cada grão daquela droga, não me restou nada. Isso não é necessário.

- Cale a boca. Não me venha dizer o que devo fazer. Você me desafiou Yldiz. Sabe que eu não perdoo isso.

- Sim... mas...

- Engin ... a corda. Vi o rosto do homem empalidecer e o terror tomar conta dele.

- Não. Pelo amor de Deus eu tenho família.

- Pensasse nela antes de tentar me roubar. Isso é só um aviso para que ninguém da sua família atravesse o meu caminho. Ou será bem pior.

- Eu tenho uma filha. - Sorri.

- Eu sei que tem... e um filho tão vagabundo quanto você. Agora chega de conversa.

- Engin. Fiz sinal com a cabeça e Engin ajustou a corda no pescoço do homem. Ele tremia visivelmente. - Algum pedido Yldiz ?

- Cuide... cuide da minha filha. - Eu ri alto.

- Depende. Que tipo de cuidado quer que eu tenha com ela?

- Não se atreva a encostar nela, seu ordinário.

- Adeus, Yildiz.

Me afastei um pouco, ficando ao lado de Ferit. Eu sabia que ele era fraco. Engin aguardava meu sinal, que veio rapidamente. Com um chute certeiro, Engin tirou o caixote dos pés do homem. Suas pernas se debateram no ar, o barulho da corda ringindo. Continuei olhando a cena, totalmente desprovido de emoção. Os olhos do homem já estavam esbugalhados, a face roxa e a língua para fora. Um de seus órgãos internos se desprendeu, enchendo o ambiente com o odor da morte. Ferit virou o rosto.

- Se você vomitar aqui, eu arranco suas bolas.

Ferit endireitou o corpo, mas com a respiração suspensa. Eu não tinha mais nada a fazer ali. Yildiz estava morto. Merecidamente. Ninguém me desafiava e saia impune.

- Engin se desfaça desse corpo. Estou indo pra casa.

Cheguei em casa e fui direto ao meu escritório. Esparramei meu corpo na poltrona acendendo meu cigarro.

Dei uma longa tragada deixando a fumaça invadir meu organismo. Acho que esse fora um dos dias mais massacrantes para mim. Não pelo que acabara de acontecer. Aquele homem não valia muita coisa. Mas por me recordar a todo instante das palavras do meu pai. Um herdeiro. O pior de tudo é que eu estava com Selin agora. Ela estava longe de ser a mulher ideal, apesar de ser gostosa e boa de cama. E apesar de ser um chefão poderoso, temido e sem sentimentos, eu não me envolvia com mais de uma mulher ao mesmo tempo. Primeiro porque mulheres davam trabalho demais. E segundo, porque eu não tinha a mínima paciência com elas.

O Mafioso e a Herdeira Where stories live. Discover now