36. i never dreamed of this

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Clear blue water
High tide came and brought you in
And I could go on and on, on and on, and I will

This Love, Taylor Swift

CARLOS SAINZ

Durante todo o nosso caminho até o hotel eu fiquei pensando no olhar assustado de Martina do outro lado da rua. Ela não tocou no assunto de quem era no telefone e sorriu assim que me juntei a ela, mas de alguma forma isso acendeu uma luz vermelha dentro da minha cabeça e por mais que eu me forçasse a deixar isso pra lá, a lembrança do medo nos olhos dela me perturbava.

Agora, depois de almoçarmos e gravarmos mais alguns takes no caminho do hotel, estamos os dois deitados na cama, tentando encontrar coragem para irmos montar o nosso quebra-cabeça na mesa do outro lado do quarto.

Pego a câmera e aperto o play, apontando na direção dela.

Martina parece tranquila, olhando alguma coisa de forma bem concentrada no celular. Quando percebe minha atenção, ela me encara por cima do aparelho e seus lábios se repuxam em um sorriso tímido.

— Pare de me filmar, seu stalker — ela ri e acabo caindo na risada, encerrando o vídeo.

— Você não pode ficar dizendo essas coisas pra câmera, eu preciso parecer o melhor namorado do mundo e não um psicopata — sustento a risada e mudo de posição, ficando de barriga para baixo, apoiado nos cotovelos, enquanto tento ver o que tanto ela olha no seu celular.

Com uma das mãos, Tina me empurra de leve, brincando comigo.

— Além de ficar me filmando, agora quer ver o que estou fazendo? — ela argumenta. — Aí, quando eu te chamo de stalker você fica bravo... vai entender.

— Podemos fazer melhor, que tal irmos montar o seu quebra-cabeça do Star Wars e deixarmos os celulares de lado por uma tarde?

Faço essa proposta pensando ainda no que vi lá na loja de brinquedos, pra poder distraí-la um pouco da lembrança do que foi conversado naquela ligação, já que Martina parecia tensa e pensativa mais do que o normal.

— Ok, combinado — ela dá de ombros e coloca o celular embaixo do travesseiro, focando sua atenção em mim. — Já pensou nas suas perguntas do dia?

Dou um sorriso.

— Tenho todas na ponta da língua — me gabo e viro para colocar a câmera para gravar, apoiada na mesinha do meu lado da cama.

O embrulho com o quebra-cabeça tinha ficado do outro lado do quarto, então quando me levanto, puxo Martina comigo para iniciarmos a nossa aventura da tarde. Arrumamos alguns itens em nossas malas para nos ajudar a separar as peças, mas o que temos não são de grande coisa, afinal são dois bonés meus, um bucket hat dela e um sutiã que pesquei da sua mala de propósito só para provocá-la.

— Chili, não dá pra você usar um sutiã pra separar peças de um quebra cabeça — ela reclama, tentando tirar a peça da minha mão a todo custo.

— Por que não? — me defendo, erguendo os braços e deixando o item longe do seu acesso. — São arredondados, ia servir perfeitamente.

— Por que é a porra de um sutiã — ela se aproxima mais e sinto o ar denso quando respiro.

Ficamos alguns segundos assim, até que sinto a tensão aumentar e resolvo abaixar o braço, devolvendo o item pra ela.

— Obrigada — ela resmunga e joga a peça dentro da mala mais uma vez.

Branco, de renda.

Eu mesmo não ajudo a minha cabeça e fica impossível não imaginá-la nele. Sinto raiva quando a nossa última noite na Inglaterra volta com tudo. Essa mulher dormiu com os peitos encostados em mim e eu simplesmente não lembro de nada.

barcelona | carlos sainzWhere stories live. Discover now