barcelona | carlos sainz

83. i'll pay the price, you won't

Aquamarine
Moonlit swimming pool
What if all I need is you?

— Slut!, Taylor Swift

CARLOS SAINZ

Suzuka foi um Grand Prix esquisito com a presença de Hector Fernandez e dava pra sentir a marca que ele tinha deixado na forma com que Tina estava se comportando. Ela tentava disfarçar, claro, mas desde que a vi com uma cara assustada na garagem, momentos depois de ter saído do carro, eu tive a certeza que ela tinha tido um momento com o próprio pai.

Ainda não conseguimos conversar sobre o que aconteceu por pura falta de tempo. Como se não bastasse as diversas reuniões que Fred inventou em Suzuka, ele ainda insistiu para que eu e Charles fossemos para o Catar no mesmo avião, como uma ordem de equipe, de forma que ganhássemos algum tempo de trabalho que seriam perdidos no deslocamento. Então, como meus pais estavam com Ana e Rodrigo, acabamos optando por eu e Tina viajarmos com o monegasco na ida e volta do oriente médio, ao invés de viajarmos com a minha família.

O clima ainda estava ruim.

Sei que Tina percebeu isso assim que se sentou ao meu lado no translado que pegamos até o aeroporto, por que eu e Charles não trocamos uma só palavra um com o outro, literalmente, durante todo o tempo que permanecemos juntos.

Para ajudar, Charles estava com uma namorada nova e que ia nos acompanhar. Eu estava tão alheio ao que estava acontecendo na vida dele que nem notei a presença dessa nova moça, mas ela parecia igual a última namorada. É bonita, tem um jeito meio tímido e anda com ele pra cima e pra baixo.

Ouvi Tina conversar com ela por alguns minutos, já que nem eu, e muito menos ele, abrimos a boca.

Durante todo o tempo em que ficamos no avião eu permaneci em silêncio, ignorando a presença do meu colega de equipe e da namorada dele. De vez em quando Tina me cutucava para perguntar se eu estava bem e eu sempre dava a ela a mesma resposta: estou apenas cansado.

O efeito de Hector também tinha me atingido de alguma forma e, depois de tanto tempo em silêncio, eu já tinha pensado o suficiente se tomei a melhor decisão deixando que ele soubesse que estava o procurando. Ainda mais depois que falei da casa.

Isso é algo importante pra Tina e Hector parece ser o tipo de pessoa que quando está com rancor não pensa duas vezes antes de se vingar. Já deu pra perceber que ele sente o cheiro da fraqueza e esse, com certeza, deve ser um dos trunfos mais assustadores dele.

Quando o comandante avisou que estávamos próximos do nosso destino, depois de longas horas em silêncio e na meia luz da cabine, Tina estava enroscada em mim mesmo com a poltrona reclinada para trazer mais conforto e foi quando percebi o olhar de Leclerc pra nós dois na outra extremidade.

Era uma atitude neutra da parte dele, não parecia estar criando nenhuma teoria sobre nós ou coisa do tipo, ele estava apenas observando. Franzo a testa numa resposta talvez não muito sutil e ele desvia o olhar, mas ao invés de olhar para a própria namorada, que descobri que se chamava Amelie, ele encarava a imensidão através da pequena janela do avião, com os braços cruzados no peito.

Agora era minha vez de observá-lo.

Charles parecia distante, não só da própria namorada, mas de tudo ao redor. Ele passou a maior parte da viagem exatamente como eu, em completo silêncio. De vez em quando concordava com algo que Amelie comentava, mas ele não parecia de fato estar prestando atenção nas palavras dela. Como se algo muito mais importante estivesse acontecendo dentro da sua própria cabeça que o deixava alheio a todo o resto.