barcelona | carlos sainz

75. time moved to fast

And so it goes
You two are dancing in a snow globe,
round and 'round

— You are in love, Taylor Swift

CARLOS SAINZ

A raceweek começou oficialmente em Singapura.

Depois do media day que Lando me levou para uma visita à McLaren, eu sentia como se isso tivesse renovado um pouco as minhas energias. Dominei os treinos livres com vantagem e organizei meus pensamentos, tentando blindar a minha mente e focar em apenas uma coisa: vencer.

Clair passou boa parte do tempo me seguindo e tendo conversas rasas comigo, como se estivesse tentando encontrar um território entre nós dois que não estivesse minado depois de tudo o que aconteceu em Monza.

Isso estava começando a me irritar um pouco, por que comigo não é necessário isso. Eu sei ser profissional e gostaria que esse tipo de coisa não atrapalhasse a nossa dinâmica que era tão boa. Mas também não me esforcei tanto pra tentar iniciar um diálogo e convencê-la de que as coisas estavam bem, só segui o fluxo.

Depois de ter terminado o segundo e o terceiro treino livre em P1 eu me sentia confiante para a qualificação. Embora soubesse que Leclerc ia ser um grande adversário pra mim já que circuitos de rua são seu modelo de pista favorito, o pressentimento bom ainda estava aqui e eu só conseguia focar nele.

Agora eu estava no meu closet, terminando de vestir o macacão quando Clair entrou, acompanhada da sua fiel prancheta com a programação do dia.

— Sainz — ela começou. — Martina pediu pra avisar que vai ver a quali da garagem junto comigo, mas que antes precisava comer alguma coisa então, provavelmente, vocês só vão se ver depois.

— Ok — respondo e me sento na poltrona pra colocar os sapatos antes de colocar o fireproof.

— Rupert gostaria de fazer dois exercícios com você antes da quali também, disse que vocês já tinham combinado isso.

Concordo com um aceno de cabeça e é quando ela finalmente me olha. Clair parecia apreensiva, tentando decidir se os nossos antigos limites ainda estavam os mesmos. Mas a espontaneidade com que ela faz o próximo comentário me pega de surpresa.

— O que é isso? — ela deixa a prancheta em cima da maca e se aproxima de mim, esticando o braço na minha direção pra segurar o pequeno pingente do colar de Martina no meu pescoço.

Um instante de silêncio se forma entre nós dois e eu ergo os olhos pra olhar pra ela.

— É da Tina — comento e sinto o olhar de Clair em mim por uns segundos quando ela solta o pingente e volta para a sua prancheta, erguendo novamente um muro entre nós dois.

— Sabe que não pode ir pra pista com isso, não sabe?

— Vou correr esse risco — uso meu tom desafiador e ela ergue uma sobrancelha pra mim. — Ninguém vai saber...

— Carlos...

— As pessoas não sabem de muita coisa nesse paddock, Clair — resmungo de forma rabugenta e sei que ela sabe exatamente o que estou querendo dizer. — Você pode não querer falar sobre isso ou fingir que não sabe, mas não muda nada.

— Se está falando do... — ela tenta começar mas decido que se nós dois não resolvermos isso agora, nas poucas horas que temos antes da qualificação começar, esse elefante branco vai nos acompanhar pelo resto da temporada.

— Escuta, eu não quis ser estúpido — escolho com calma o meu tom e ela me encara apreensiva. — Ainda estou chateado por tudo o que aconteceu e sei que você não vai tirar a minha razão sobre isso.